Avanços da Medicina

Como alcançar a vitória contra o Diabetes Tipo 2

Receber o diagnóstico de diabetes é um choque para qualquer pessoa, quer seja pelas limitações que causa, rotina de controle e medicações ou pelos riscos que significa. Mesmo tão temida, a doença é uma das que mais crescem no mundo e boa parte das pessoas que têm diabetes ainda não sabe e não conhece sua complexidade nem os tratamentos existentes.

De acordo com a publicação da revista científica Lancet (de abril 2016), o número de adultos diabéticos quadriplicou no mundo nos últimos 30 anos, chegando a mais de 500 milhões; enquanto dados divulgados pelo International Diabetes Federation estimam que até o ano de 2040 já sejam 642 milhões.

o Brasil, que ocupa a 4ª posição mundial, os casos já ultrapassaram 14 milhões. Quadro esse que preocupa pela gravidade da doença, que pode causar insuficiência renal, cegueira, amputações e que, apenas no ano de 2015, esteve associada a 5 milhões de mortes – superando nesse período o HIV, a tuberculose e a malária juntos. De forma geral, a doença se caracteriza pela elevação persistente da glicemia, como consequência da falha de ação da insulina, pela quantidade reduzida dessa ou ineficiência de sua ação.

Doença ocorre por diversos fatores, como a obesidade

São diversas as classificações do diabetes mellitus (DM). As mais conhecidas são: tipo 1, tipo 2 e gestacional. Mas é o diabetes tipo 2 que mais cresce em todo o mundo. Ele ocorre por diversos fatores diferentes como: hereditariedade, idade, sedentarismo, pressão alta, consumo excessivo de álcool, dieta hipercalórica e, o principal de todos eles, a obesidade. Mais de 90% dos casos de DM2 estão associados ao excesso de peso. É a obesidade abdominal (visceral) que gera a resistência da insulina, um enfraquecimento que num primeiro momento obriga o pâncreas a produzi-la em maior quantidade e que posteriormente vai conduzir à falência pancreática.

Significativos avanços nos tratamentos clínicos e cirurgia

O tratamento preconizado é a orientação dietética, atividade física regular e associação de medicamentos que visem ao fortalecimento da ação da insulina. Dispomos hoje de mais de seis classes de medicamentos orais que atuam no melhor controle do diabetes, um medicamento de uso subcutâneo e, caso necessário, a combinação desses com a insulina. Nos casos dos pacientes com obesidade, boa parte do tratamento está na perda de peso. É importante ressaltar que nos últimos 20 anos ocorreram significativos avanços nos tratamentos clínicos, com novos e mais eficientes medicamentos; mas os dados ainda são desanimadores pela grande parcela de doentes que continua fora da meta do controle glicêmico.

Nesse cenário, a cirurgia bariátrica e metabólica representa uma maneira efetiva e duradoura de atingir o controle dos fatores de risco metabólicos para o diabetes, bem como de promover a adequada perda de peso. Na prática clínica, isso se traduz em menor risco de desenvolver a doença e maior efetividade no controle glicêmico dos pacientes com DM2. “A técnica cirúrgica bypass gastrojejunal consiste em criar um novo estômago de tamanho reduzido, que provoca uma diminuição da fome, também realiza um desvio intestinal que restabelece a secreção de peptídeos intestinais – esses são fundamentais para auxiliar a secreção de insulina pelo pâncreas – e em obesos com DM2 causa a melhora do controle glicêmico poucos dias após a cirurgia, mesmo sem ter havido importante perda de peso. Já no pós-operatório, muitos apresentam a diminuição e, não raramente, a normalização da glicose, sem o uso de medicação”, explica Dr. Paulo Afonso Nassif, cirurgião do aparelho digestivo, que coordena uma equipe multiprofissional de estudo e tratamento da obesidade.

“Meu maior temor era o de ficar cega, além de todas as outras consequências que eu sabia que a doença poderia trazer para a minha vida.”

Esforço conjunto de entidades busca nova diretriz

Atualmente no Brasil, a técnica bypass gastrojejunal ainda é a mais realizada, e há indicação para cirurgia em pacientes com IMC igual ou maior a 40 kg/m2 e a partir de 35 kg/m², quando existem outras doenças associadas, como o diabetes mellitus tipo 2. Esse critério se mantém há 20 anos e é regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

Todavia, há grande número de publicações científicas apresentando bons resultados na remissão do DM2, inclusive em pacientes com IMC menor que 35 kg/m2. Em face disso, uma proposta de alteração no critério de indicação foi apresentada pela diretriz da Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês), que foi publicada em março de 2011 e contou com o apoio de mais de 200 entidades médicas de 160 países. Para que a redução desse índice de indicação seja aceita no Brasil, ainda é necessário o aval do Conselho Federal de Medicina, mas já há um esforço conjunto das Sociedades Nacionais de Cirurgia Bariátrica e Metabólica e da Endocrinologia na busca por uma nova diretriz.

“Essa mudança pode trazer esperança a pacientes diabéticos que têm obesidade grau I. Pois em pacientes com DM2, sem controle com medicação, e obesidade graus II e III, todas as sociedades médicas envolvidas com tratamento do diabetes e obesidade já reconheciam a cirurgia bariátrica como a melhor alternativa”, ressalta Dr. Paulo Nassif.


Pacientes libertam de medos e resgatam a autoestima

A coordenadora pedagógica Mauren Pizzatto Schultz Luccas, 52 anos, apesar de não apresentar um quadro tão grave de obesidade, com pouco mais de 80 quilos, não conseguia controlar o diabetes tipo 2, mesmo fazendo o tratamento clínico proposto. Ela conviveu com a doença por mais de 15 anos e nos últimos, além da medição oral, já usava três doses diárias de insulina – ainda assim não conseguiu evitar uma complicação de visão por glaucoma. “Meu maior temor era o de ficar cega, além de todas as outras consequências que eu sabia que a doença poderia trazer para a minha vida. Eu queria chegar à velhice com qualidade de vida, mas sabia que, se não vencesse o diabetes, isso seria impossível”, conta Mauren.

Medos esses que também assombravam a vida do servidor público Wilson Vieira, 54 anos, que chegou a usar 18 comprimidos e duas doses diárias de insulina na tentativa de controlar o diabetes e as outras complicações que a obesidade lhe causara. Pois, além do diabetes, ele sofria de apneia do sono e tinha altos índices de colesterol e triglicerídeos, hipertensão arterial e depressão, doenças muito comuns em obesos. “Quando o médico disse que se eu não tomasse uma providência, eu provavelmente não viveria muito tempo, vi que a minha situação era realmente preocupante”, lembra Wilson.
Foi através da cirurgia bariátrica que tanto Mauren como Wilson obtiveram o controle do diabetes. Ela perdeu 22 quilos e ele, 52. Mas ambos tiveram uma importante redução da glicemia já nos primeiros dias após a cirurgia e antes mesmo da perda de peso. De quebra, Wilson também se viu livre da hipertensão arterial, da apneia do sono e dos elevados índices de colesterol e triglicerídeos. E Mauren teve sua autoestima resgatada de tal maneira que se considera uma nova mulher.

Além da cirurgia, mudança de hábitos é vital para ter saúde

Operar não foi a única medida para alcançar esse objetivo. Foi preciso mudança de hábitos, como Mauren e Wilson aprenderam durante o processo pré-operatório em que foram orientados e acompanhados por uma equipe de diversos profissionais da saúde, a fim de prepará-los tanto para a cirurgia como para a nova vida que deveriam ter depois.
Além de dieta alimentar equilibrada, abandonar o sedentarismo e praticar atividade física regularmente são fortes aliados da cirurgia, tanto na perda de peso, como no controle do diabetes e das demais doenças associadas. Coisa que Mauren e Wilson, já vencedores nessa longa maratona contra a doença, sabem muito bem.

“A cirurgia pode ter resultados muito significativos, mas se o paciente não faz a sua parte, geralmente a meta não é atingida e/ou, após algum tempo, há reganho de peso. Situações que ninguém quer viver, depois de vencer a obesidade e o diabetes. Mas contra essas doenças só há um adversário imbatível: a vida saudável, ou seja, comer adequadamente e exercitar-se com frequência. A função da cirurgia é ajudar o paciente a adotar essas mudanças, tanto pelo procedimento em si, como pelo preparo do pré-operatório”, conclui Dr. Paulo Nassif.

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