Avanços da Medicina

Cirurgia bariátrica resgata a saúde e aumenta a expectativa de vida

Procedimento deve ter acompanhamento permanente e inclui diversos profissionais da área médica

A cada cinco brasileiros, um está obeso e metade da população está acima do peso. Questões frequentes invadem o dia a dia dessas pessoas: como posso ter uma rotina saudável?; como perder peso?; como ter saúde e sair da zona de risco? A resposta para essas e mais tantas perguntas é primeiramente a mudança de hábitos. Afinal, a obesidade é uma doença crônica e a ela estão associadas inúmeras doenças: diabetes, pressão alta, apneia do sono, problemas articulares e circulatórios; são as mais presentes. É aí que entra um procedimento cada vez mais comum no País: a cirurgia bariátrica. Muito além do corpo perfeito, a cirurgia bariátrica tem como foco principal o restabelecimento da saúde do candidato ao procedimento. Em um primeiro momento, parece simples reduzir o estômago, desviar o intestino e pronto, a mágica está feita; mas ela vem acompanhada por uma rigorosa dieta líquida e pastosa para que em seguida o paciente reaprenda a comer, e é só assim que os resultados começam a aparecer.

O Brasil é atualmente o segundo país a realizar mais cirurgias bariátricas, os Estados Unidos o primeiro. Um método seguro e eficaz que tem beneficiado diversos homens, mulheres e até mesmo adolescentes, devolvendo a eles a saúde, a autoestima e a qualidade de vida. De acordo com dados do Ministério da Saúde, em dez anos a obesidade aumentou cerca de 60% no Brasil, chegando a níveis epidêmicos. “O obeso não é obeso exclusivamente devido à má alimentação e ao sedentarismo. Existem diversos fatores – como a questão hormonal, genética, ansiedade e outros – que contribuem para o aumento de peso. Lembrando que a obesidade é uma doença e que merece atenção e cuidados redobrados, pois é comportamental e vem acompanhada de várias comorbidades”, afirma Dr. José Sampaio Neto, especialista em Cirurgia Geral, Videolaparoscopia e pós-graduado em Cirurgia Minimamente Invasiva, além de ser um dos responsáveis, juntamente com o Dr. Gustavo Antonio Pereira da Silva e Dr. Samir Smaka Ivanoski Junior, pelo Instituto de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (IBAM), com sedes em Curitiba e Pinhais.

O crescente número de obesos no País ampliou também as indicações de cirurgia. Hoje, pessoas com IMC (Índice de Massa Corporal, o peso dividido pela altura ao quadrado) a partir de 35 kg/m² e com distúrbios associados como apneia, enxaqueca, refluxo, diabetes, hipertensão e mais de vinte outras doenças (até mesmo câncer) podem levar a indicação à cirurgia já a partir dos 16 anos. Para se submeter ao procedimento, o paciente deve ter tentado emagrecer por outros dois métodos não interventivos sem sucesso, por pelo menos dois anos. Os grupos em que mais cresce o número de operados no País é o de 16 e 18 anos e acima de 65 anos. “Essas pessoas precisam de uma nova chance, pois a expectativa de vida está ameaçada pelas doenças instaladas. Muitos desses jovens poderiam nem chegar aos 30 anos de vida. O procedimento permite que esses pacientes adquiram uma longevidade e uma qualidade de vida que antes estavam fora de seus planos”, ressalta Dr. José Sampaio.

Técnicas cirúrgicas

Atualmente, duas são as técnicas mais utilizadas: o Bypass, que, além de reduzir o tamanho do estômago, desvia o intestino, e a gastrectomia vertical (conhecida também como Sleeve), que transforma o estômago em uma espécie de tubo. Há também a Duodenal Switch, indicada apenas para indivíduos superobesos, mas que vem sendo cada vez menos utilizada devido a seus efeitos colaterais. “É bom lembrar que quem define a técnica é o médico, que explica ao paciente quais são os resultados esperados. Em média, o paciente deve perder cerca de 55% a 70% do excesso de peso na técnica Sleeve e de 60% a 80% na técnica Bypass. Já no Duodenal Switch, essa perda fica em torno de 80% a 100%, mas ela é a menos realizada”, destaca o Dr. Sampaio. Em ambas as técnicas, o paciente precisa levar a sério o acompanhamento pela equipe médica, composta também por nutricionista, psicólogo, fisioterapeuta e educador físico, pois a maioria dos operados necessita de reposição nutricional, vitamínica e todo um apoio emocional para uma verdadeira mudança de hábitos de vida.

O processo

O caminho até o centro cirúrgico envolve essa equipe multidisciplinar, que conta ainda com endocrinologista, pneumologista e cardiologista, além do cirurgião. Em média, o paciente recebe orientação e acompanhamento por até dois anos antes da cirurgia. “Hoje em dia, esse processo é menos demorado e depende de uma série de fatores”, conta o Dr. Sampaio. A taxa de mortalidade é bastante baixa, mas é muito importante que o paciente siga à risca as indicações do pós-operatório. A perda de peso varia de pessoa para pessoa e da técnica realizada. “Não se deve fazer comparações, pois algumas perdas acontecem mais rapidamente e outras de maneira mais suave. Por isso, dizemos que a estabilização ocorre entre seis meses e dois anos”, afirma o especialista.

O fantasma do reganho de peso

O reganho de peso pode ocorrer em todos os pacientes, é normal que haja um ganho leve e moderado após o segundo ano. Mas há, infelizmente, pacientes que voltam a ser obesos, inclusive com as doenças associadas. Na maioria dos casos, o reganho se dá pelo fato de o paciente não ter mudado seus hábitos de alimentação e comportamento. “A equipe do IBAM leva isso muito a sério, fazemos todo tipo de investigação para ver se há algo a ser feito e de que maneira podemos evitar esse reganho de peso, por isso o acompanhamento do paciente deve ser monitorado no mínimo a cada seis meses”, diz o Dr. José Sampaio. De acordo com o cirurgião-geral, é fundamental que o paciente faça visitas regulares ao médico, pelo menos duas vezes por ano, para acompanhar como andam as suas vitaminas, se há necessidade de reposição e para aferir também a evolução do processo, pois a cirurgia não faz milagre, depende muito mais do paciente. “É um compromisso com a própria saúde”, finaliza.

Corpo novo, vida nova!

Aos 25 anos, pesando 102 kg e com a pressão arterial elevada, a bióloga Jaíne Aparecida Adriano já havia tentado diversos métodos para emagrecer. “Tentei de tudo e via que nada surtia efeito, muitas vezes o esforço era em vão e eu voltava a engordar”, conta. Nove meses depois de realizada a cirurgia, Jaíne agrega 40 kg a menos e uma disposição de fazer inveja. “Antes da ci rurgia me sentia cansada e sem muita disposição para realizar as atividades. A mudança após a cirurgia foi radical. Sinto-me muito disposta e com elevada autoestima”, declara Jaíne, que descobriu novos hobbies – como a corrida, futsal e voleibol.

Depois de anos recorrendo às dietas da moda e ao uso de medicamentos para emagrecer e já pré-diabética, a pediatra Michelli Cristine Kalil viu na cirurgia bariátrica a solução para vencer a obesidade: “Desde quando tinha 15 anos de idade eu tentava emagrecer, até conseguia com ajuda de medicamentos, mas depois vinha o reganho de peso. Foram 17 anos vivendo no famoso ‘efeito sanfona’”, relata Michelli.

Tendo realizado o procedimento em 2016, hoje, aos 33 anos, Michelli perdeu 36,5 kg. “Minha vida mudou completamente há dois anos! Eu não tinha mais vontade de sair, me arrumar, ir a festas, pois a autoestima já não existia mais. Eu, como médica, me sentia extremamente desconfortável ao orientar hábitos alimentares aos meus pacientes e até o trabalho já estava sendo prejudicado. Agora eu tenho muito mais disposição, voltei a ter uma vida social, dei a luz recentemente minha segunda filha, tive uma gestação tranquila e saudável; e isso só foi possível graças ao meu novo estado de saúde. Sou muito mais feliz!”, comemora Michelli. Ela ressalta ainda a importância do acompanhamento com a equipe que realizou o seu procedimento. “Faço exames periódicos, tomo as vitaminas necessárias e sou muito bem atendida pela equipe do IBAM. Só tenho a agradecer a todos”.

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