Avanços da Medicina

Útero preservado

Procedimentos não cirúrgicos tratam miomas e eliminam seus sintomas

A advogada Flavia Danielle Guerino L. Gomes, 47 anos, tinha sintomas importantes devido aos seus miomas de útero, que lhe tiravam a qualidade de vida e atrapalhavam seu dia a dia, tanto na profissão quanto na vida pessoal. Ao procurar a assistência do seu médico, foi indicado a retirada do útero. Mas, para ela, a histerectomia significaria um grande impacto na sua vida emocional. Como toda mulher que é perseverante em suas próprias características, Flávia pesquisou os diversos tipos de tratamento de mioma, pois estava disposta a se informar mais sobre seu problema.

A advogada não podia aceitar que em pleno século 21 uma mulher tivesse apenas um tipo de tratamento disponível para tratar seus miomas. “A gente tem que tentar todas as opções antes de partir para uma coisa mais radical. E não interessa quantos filhos a pessoa tem ou se ela não quer ter. O útero era meu e eu queria ele lá”, afirma, lembrando que a sua mãe tirou o órgão aos 45 anos e que a remoção trouxe problemas para a saúde dela.

A descoberta

“Eu comecei a ficar muito atenta sobre o assunto e comecei a pesquisar ainda mais. Um dia, eu estava no salão, peguei uma revista e vi a técnica da embolização uterina. Aquilo ficou na minha cabeça. Conversando com um amigo meu, um terapeuta, ele indagou: “Por que você não tenta esse procedimento? Isso vai te ajudar!”

Flavia não teve dúvidas, marcou a consulta e descobriu que o tumor já estava com nove centímetros. “Era quase uma gravidez, minha barriga estava crescendo e, apesar de não sentir dores, como muitas mulheres, eu tinha anemia forte e muito sangramento, mesmo usando o DIU como contraceptivo, para cortar o fluxo da menstruação. Era uma lesão grande e que iria continuar a sangrar porque o mioma é como uma esponja de cozinha que você encharca e de tempos em tempos esvazia, uma sensação horrível para quem vive com ela”.

Vida normal com útero

No dia 11 de janeiro de 2014, Flavia Danielle passou pelo procedimento. Quinze dias após, ela voltou para a academia, e 30 dias depois o tumor começou a diminuir. “Para nossa surpresa, de lá para cá o mioma reduziu em 80%, muito mais do que o previsto, que era de 50%. Os miomas menores nem aparecem mais. O sangramento acabou, eu não tenho mais anemia, e só continuo a fazer uso do DIU porque não quero engravidar. Mas, se desejasse, poderia”, esclarece.

“Passar pela embolização foi um sucesso e também um sossego na minha vida”, evidencia Flavia, ressaltando que a finalidade do procedimento não é só fazer o mioma reduzir, mas principalmente acabar com os sintomas dele. Isso porque muitas mulheres, além de sangramento e anemia, sentem dores abdominais, pélvicas e na relação sexual, além de incômodos e problemas urinários, entre outros. “Eu não tenho mais os sintomas, o tumor morreu e eu não precisei tirar o meu útero!”, comemora.

Ideia errônea

Para Flavia, muitas pessoas ainda têm aquela ideia errônea de que a mulher não precisa mais do útero após ter filhos ou quando não deseja a maternidade. “Isso é uma bobagem”, contesta. Atualmente, muitas mulheres não desejam ter filhos e nem por isso elas querem ficar sem o útero. É claro, se você tem uma doença em que se faz necessário essa retirada, tudo bem. Mas existem outras alternativas para tratar os miomas, que é um tumor benigno e por si só não mata ninguém.

O útero é seu

Na opinião da advogada, as pessoas ainda precisam se informar mais. A embolização é uma técnica muito confiável, porque a retirada de um útero pode acarretar problemas. “Você pode ter uma menopausa precoce, algumas mulheres chegam a ter crises de depressão, de identidade, sentem-se menos femininas. O útero é seu e você tem de preservar o seu órgão”, finaliza.

Por dentro da embolização

De acordo com Dr. Alexander Ramajo Corvello, médico especialista em Radiologista Intervencionista, do Instituto de Radiologia Intervencionista do Paraná (Inrad/Endorad), não existe um tratamento único para todos os casos de mioma uterino, mas aquele que é mais adequado para cada caso. Essa avaliação é realizada de forma multidisciplinar, na qual estão envolvidos o ginecologista e o médico radiologista intervencionista, a fim de propiciar o melhor para cada paciente. “Assim como nem toda paciente tem na cirurgia de retirada do útero como melhor forma de tratamento, também é assim com a técnica de embolização. O melhor caminho é procurar o aconselhamento de ambos os profissionais”.

A embolização é uma técnica de radiologia intervencionista (RI) aplicada clinicamente há mais de 30 anos. A RI é empregada na medicina para corrigir e tratar numerosas patologias, como sangramentos, aneurismas, malformações vasculares, tumores e até alguns tipos de câncer de fígado, oferecendo menor risco aos pacientes.

A radiologia intervencionista é uma especialidade médica em que se utiliza de cateteres finíssimos, guiados através de veias e artérias por aparelhos de imagens de alta tecnologia, que conseguem tratar o interior do corpo sem realizar cirurgias. Tudo por meio de pequeno furo na virilha e que não tem pontos. A espeialidade oferece suporte a outras áreas da medicina, como vascular, neurologia, ortopedia, urologia, gastro, oncologia entre outras.

A embolização uterina é qualificada pela Sociedade Americana de Ginecologia e Obstetrícia como procedimento “A” de evidência científica – a maior pontuação existente nesse tipo de classificação. O procedimento é reconhecido nacionalmente, inclusive realizado pelo SUS, mas mesmo assim a técnica é pouco conhecida do público em geral.

De acordo com Dr. Corvello, a técnica é muito segura e minimamente invasiva, e o procedimento pode acabar com os sintomas e devolver o bem-estar em até 92%, segundo a literatura médica.

Para mulheres que ainda não tiveram filhos e sofrem com a doença, segundo o especialista, a técnica possibilita a gravidez em até 30% dos casos, sendo um grande avanço para aquelas que não apresentavam nenhuma chance. Mas ressalta que o principal objetivo dessa técnica é tratar os sintomas que afligem essas pacientes.

Passo a passo

A técnica da embolização uterina é minimamente invasiva e realizada sob anestesia local ou peridural. Não precisa de pontos, pois não são feitos cortes.

Com uma pequena incisão de no máximo cinco milímetros na região da virilha, por onde passa a artéria femoral, o radiologista intervencionista guia um cateter, usando imagens de alta definição, até as artérias uterinas que irrigam o mioma. Pelo cateter, ele injeta as esferas, que são micropartículas de hidrogel de uso biológico, que vão obstruir essas artérias e interromper o fluxo sanguíneo que alimenta o mioma. Com isso, eles tendem a diminuir e os sintomas são eliminados.

O material destinado à obstrução é um produto sintético utilizado há décadas na medicina e que não provoca rejeição do organismo.
A técnica de embolização uterina não interfere nas funções normais do útero, pois ele passa a receber seus nutrientes pelas circulações colaterais e também pela própria artéria uterina, que se mantém saudável.

O que é mioma uterino?

É o crescimento anormal de uma área da musculatura do útero. Pode ser minúsculo ou ter vários centímetros de diâmetro. Também chamado de leiomioma, é um tumor benigno, ou seja, uma lesão que não é câncer e nem apresenta risco de transformação maligna.

Causas

O estrogênio é considerado o principal causador de crescimento dos miomas. Por isso, a maior incidência de miomas ocorre no período máximo da reprodutividade feminina, até a chegada da menopausa.
Sintomas do mioma

A maioria dos leiomiomas são pequenos e assintomáticos. Mas, dependendo do tamanho, da quantidade e da localização do mioma, é possível apresentar os seguintes sintomas:

• sangramento uterino anormal;
• urgência urinária com ou sem perda de urina;
• pressão na bexiga;
• dor no abdômen;
• dor lombar;
• dificuldade para engravidar;
• dor pélvica com hemorragia.

Incidência:

• A doença atinge cerca de 50% das mulheres entre 30 e 50 anos;
• A maioria das pacientes sintomáticas tem entre 40 e 50 anos;
• Mulheres afro-americanas têm três vezes mais
chance de desenvolver a doença.

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