Apneia Ronco

Sono: o seu melhor aliado

Sono é sinônimo de produtividade, bom humor, raciocínio lógico e saúde. Como vão as suas noites?

sono-o-seu-melhor-aliado+marcello-brasil-olga-judith

Há quem pense que dormir é perder tempo, que oito horas de sono é um exagero e que ter algumas noites mal dormidas interfere muito pouco na qualidade de vida. Uns até acham normal ter, eventualmente, uma insônia, ou acordar várias vezes numa noite. Afinal, temos vidas estressantes, prazos e metas para bater. Outros, mais práticos, nem pensam a respeito: simplesmente tomam remédios para dormir e se “dopam”, esquecendo que os distúrbios continuam lá, porém, com suas consequências e sequelas mascaradas.

O fato é: quem dorme bem e no período correto tem mais disposição, mais energia, vitalidade e melhor humor. É durante o sono que nossas defesas são fortalecidas, nosso corpo é restaurado e nossa mente é limpa.  “A tendência de quem dorme bem é lidar melhor com a vida, ter mais saúde, ser mais produtivo no trabalho e em qualquer atividade, pois a concentração, a capacidade de retenção de informações e os reflexos são muito superiores aos daqueles que dormem mal” destaca Dr. Marcello Tamura Brasil, cirurgião-dentista graduado pela American Academy of Sleep Disorder (EUA), com especialização na área respiratória e formação em odontologia do sono.

O metalúrgico Getúlio Vargas, de 43 anos, sabe bem disso. Até pouco tempo atrás, estava sempre irritado, se aborrecia facilmente e não tinha disposição para nada. Ele sofria dos distúrbios que acometem, só no Brasil, 40% dos homens adultos e 26% das mulheres: ronco e apneia. “Eu não era mais o mesmo, tinha mal-estar, pouca energia e as tarefas pareciam cada vez mais exaustivas. Muitas vezes, terminava o dia quebrado, mas achava que era devido à idade ou ao trabalho. Após muita insistência de minha esposa, procurei um médico e descobri que a causa de tudo poderia ser o meu sono”, lembra Getúlio.

Os exames revelaram que o sono do metalúrgico era interrompido mais de 46 vezes em uma única noite em função das apneias – breves paradas respiratórias. A passagem de ar na via aérea superior de quem sofre desse problema é bloqueada por pelo menos 10 segundos, fazendo a pessoa parar de respirar e interromper as etapas do sono.

Esposa de Getúlio, a também metalúrgica Nanci Nunes Machado, de 44 anos, já sabia que alguma coisa estava errada com o ronco e os engasgos do marido. E também tinha noites terríveis. Segundo a Dra. Olga Judith Hernandes Fustes, médica neurofisiologista especializada em sono, Nanci sofria da “síndrome da roncadora passiva”, que acomete milhões de parceiros de pessoas com distúrbios do sono, cujas noites são interrompidas pelo ronco do outro. “Isso me incomodava demais, porque o via sofrer e acabava também não dormindo o necessário”, diz Nanci. Em suma, com o casal sempre irritado, as discussões em família eram cada vez mais comuns e os “pavios”, mais curtos.

Depois do diagnóstico, Getúlio teve que reaprender hábitos simples, que valorizam a qualidade e a higiene do sono: não comer alimentos pesados e gordurosos à noite, evitar o consumo de bebida alcoólica, praticar alguma atividade física e, principalmente, não levar preocupações e aborrecimentos para a cama. Além disso, no caso dele, foi recomendado o uso do aparelho intraoral. “Hoje, temos vida nova lá em casa. A paz voltou e ficou mais fácil lidar com os filhos, pois a paciência aumentou e a irritabilidade quase sumiu”, comemora Getúlio. E não foi só em casa: “trabalhar ficou mais prazeroso e a relação com os colegas melhorou”, garante. Nanci, é claro, também tem noites muito mais tranquilas.

Para o Dr. Marcello Brasil,  as empresas já começaram a dar a devida importância aos problemas do sono. A atenção é maior principalmente em setores nos quais a sonolência representa risco de acidentes, como transportadoras e indústrias que operam grandes maquinários e equipamentos. “As estatísticas de acidentes de trânsito causados por pessoas com sonolência diurna é gigantesca, o que leva segmentos a investigarem mais a fundo a saúde de seus funcionários. Até seguradoras exigem laudos e exames para avaliar o risco de determinadas atividades”, explica. Porém, segundo o especialista, o problema deve ser visto com mais importância, principalmente pelo que pode desencadear. “O distúrbio do sono não está ligado só ao risco de acidentes ou baixa produtividade; é uma doença que demora para ser identificada e, durante muito tempo, só os sintomas serão tratados, sem eficácia”, ressalta Dr. Marcello.

 

Livre da tarja preta

“Precisamos dormir bem para enfrentar a correria, lidar com o estresse do trabalho, suprir as necessidades da família. Porém, temos que olhar também para nós: dormir bem é cuidar da nossa saúde. Temos que prestar atenção aos sinais que se manifestam em nosso corpo e saber quando algo está errado”, salienta Dra. Olga Fustes.

Juliana Smicaluk, gerente administrativa de 27 anos, já sabia que tinha algo errado. Ela sofre da síndrome das pernas inquietas, uma patologia cada vez mais comum que acomete, hoje, cerca de 2% da população. O tratamento consistia em medicamentos controlados, tarja preta, para poder dormir. “O problema é que, com o passar dos meses, tinha de aumentar as doses, porque mesmo que conseguisse dormir, no outro dia sempre estava cansada”, relata a administradora.

Dra. Olga explica que a síndrome das pernas inquietas, assim como mais de cem outros distúrbios do sono, causa inúmeros microdespertares noturnos, que precisam ser diagnosticados e investigados. “Existem diversas alternativas para os tratamentos, que vão de simples mudanças de hábitos ao uso de aparelhos e medicamentos”, esclarece a especialista. Segundo ela, praticar uma atividade física, manter uma boa higiene do sono, usar aparelhos como o CPAP – que faz pressão positiva, auxiliando a respiração nasal – ou a placa intraoral – que desobstrui e facilita a passagem de ar – e até realizar exercícios fonoaudiológicos podem fazer parte do tratamento. Contar com o apoio de outros profissionais médicos, fonoaudiólogos, psicoterapeutas, dentistas e fisioterapeutas também pode ser recomendado.

“Cada caso deve ser individualmente estudado, pois o distúrbio do sono geralmente vem acompanhado de outras doenças metabólicas, obesidade, diabetes, problemas de coração, pressão alta e depressão”, enumera. O distúrbio do sono tem se mostrado um grande vilão por desencadear problemas hormonais, cardiovasculares, pulmonares e cerebrais. De acordo com Dr. Marcello, eles são comprovadamente responsáveis por infartos, derrames, depressões e até cânceres. “O distúrbio do sono prejudica toda a restauração do organismo, a produção hormonal e nossas defesas”, alerta o especialista, que integra o corpo clínico do Hospital Vita Batel, em Curitiba, e do Instituto do Sono, em São Paulo.

Lição de casa

Insatisfeita e ansiosa por uma boa noite de sono, Juliana procurou um novo tratamento. A primeira ação foi substituir o medicamento e fazer uma polissonografia. “Descobrimos que eu tinha muitas interrupções no meu sono, até um princípio de apneia, além dos movimentos nas pernas, que me faziam sentir tão cansada todos os dias. Para piorar, eu bebia muito café durante o dia e, à noite, abusava da medicação. E o pior, nem meu marido conseguia descansar, de tão agitado que era o meu sono”, lamenta a administradora.

Dra. Olga faz um alerta a quem utiliza drogas, remédios controlados e psicotrópicos para dormir.  “Muitas vezes, o paciente não consegue se livrar do medicamento nem reduzi-lo. Além de outros problemas de saúde, como distúrbios psicológicos, essas drogas causam dependência e o tratamento pode ficar ainda mais demorado e cauteloso”.

Juliana sabia que, a partir dali, a cura dependia dela. “No início era mais difícil. Parece ser muito mais fácil e cômodo se medicar”, confessa. Mas, determinada a melhorar, ela fez direitinho a lição de casa: além da nova medicação, ela passou a tomar complexo vitamínico, a realizar exercícios físicos, parou com o cafezinho e melhorou a alimentação.

O novo tratamento parou de “camuflar” os problemas, mirando na causa. Hoje, um ano depois de iniciado o tratamento, Juliana já não se sente cansada, sua disposição voltou e a saúde está excelente. “Eu levei um tempinho para me adaptar, nem acreditava que fosse possível”, conta. Mas conseguiu – e o prêmio… é um sonho!

Identificando os distúrbios do sono

Segundo os profissionais, pessoas com distúrbios do sono costumam apresentar dor de cabeça matinal, irritabilidade, mudanças de humor, sonolência excessiva, ansiedade, problemas de memória, falta de concentração, baixa libido, variações de pressão arterial e hormonais, arritmias cardíacas, ronco e insônia.

Para um diagnóstico correto, é preciso procurar um especialista e realizar os exames indicados. O mais comum é a polissonografia, em que eletrodos são colocados pelo corpo e o paciente passa por vários testes, como eletroencefalograma, eletro-oculograma, eletromiograma, eletrocardiograma, fluxo aéreo, bandas tóraco-abdominais, sensor de ronco e oximetria. “Com esses exames, descobrimos qual problema está causando o distúrbio, para só então começar o tratamento”, afirma Dra. Olga Judith.

+ Saiba mais

Artigos Relacionados