Nutrição

Orgânicos: Muito além da saúde

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Mais do que saudáveis, nutritivos, saborosos e sem a química intoxicante e cancerígena dos agrotóxicos, ou qualquer outro contaminante. Os alimentos orgânicos são uma verdadeira revolução. Sua produção é organizada, certificada, não polui rios e nem estraga a terra, e ainda colabora para o ecossistema. Mais do que isso, eles têm o formato de produção familiar, geram empregos, evitam o êxodo rural e unem pais, filhos e toda uma sociedade em prol da saúde e do bem-estar.

No Brasil, o setor de orgânicos cresce 30% ao ano, comparado somente ao seguimento de informática. O aumento nas vendas, feitas, inclusive, para fora do país, se deve a diversos fatores, entre eles, a crescente conscientização e, por consequência, a preferência do consumidor por um produto mais saudável e agradável ao paladar. Também a incentivos governamentais, como a lei que obriga as escolas a aplicar 30% dos recursos recebidos para a merenda escolar, na compra de alimentos advindos da agricultura familiar, priorizando os orgânicos.

Para se ter uma ideia da força e importância dos orgânicos para a sociedade, já se discute a Copa Orgânica de 2014.

Além do aumento em números, essa forma alternativa de agricultura familiar, socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente sustentável, a que chamamos de Agroecologia, ganhou outro tipo de ‘up’ nos últimos tempos. É a força do jovem que chegou ao campo. São filhos de produtores que não deixaram de estudar e se reciclar levando novas ideias para a área rural.

Arte com sabor

Com apenas 23 anos, Amanda Benghi Marfil já toca a unidade de processamento (cozinha) da agroindústria da família, em Bocaiúva do Sul, município da região metropolitana de Curitiba. “Aqui não se joga nada fora. Tudo é reciclável e retornável”, garante a jovem empreendedora.

A cozinha, segundo ela, surgiu justamente do excedente (sobras).  “Os doces são feitos somente com as frutas mais maduras, entre elas, banana e maçã”. Além disso, nenhuma das delícias feitas por Amanda, como pães, tortas, bolachas, entre outras massas, salgadas ou doces, leva conservante químico. O sal serve de conservante natural, assim como o suco de limão. E o açúcar orgânico nem sempre é usado para oferecer mais sabor ao produto. No molho de tomate ele tem a função de tirar a acidez.

As massas são todas assadas em forno à lenha, e a de pão se diferencia em vários aspectos daquela feita no convencional. “Utilizamos 60% de farinha integral, que é mais saudável, e 40% da farinha branca orgânica”, explica Amanda. “No convencional, essa porcentagem é contrária. Além disso, as grandes indústrias utilizam misturas prontas e produtos químicos para fazer o branqueamento do pão. O que não ocorre aqui”.

O produtor de orgânicos José Antonio da Silva Marfil, de 47 anos, que preside a Associação de Agricultura Orgânica do Paraná (AOPA), diz que o exemplo da filha não para por aqui. Recentemente, ela passou a atuar com a preparação de coffee-break para empresas. “Oportunidade em que apresenta uma nova linha de café orgânico”, conta ele.

Amanda, assim como o pai, está se formando em filosofia, um curso que busca respostas para diversos problemas da humanidade. Ela mora no sítio com seu marido e outros familiares.

Produtos embalados

No mesmo local, a família do produtor José possui uma unidade de fracionamento. Produtos que chegam a granel, como feijão, arroz, soja, farinha integral, entre outros, são distribuídos em pacotes de um a cinco quilos, aproximadamente, para depois serem comercializados.

Para desenvolver esse e outros trabalhos, como o de rotulagem dos produtos, José conta também com o apoio dos filhos Fernanda (21), Emanuela (14) e do cunhado Alceu de Almeida Aguiar (48). O filho caçula, José Antonio (12), costuma acompanhar o pai na feira.

Todos os produtos da agroindústria, que envolvem milhares de famílias como a de José, são vendidos para escolas, feiras, Mercado de Orgânicos de Curitiba, pequenas lojas e restaurantes, não apenas do Paraná, mas também dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

Selo de garantia

Em janeiro de 2011, os produtos orgânicos brasileiros passaram a contar com selo de garantia. Seu uso na embalagem é autorizado por instituições chamadas de Organismos de Avaliação da Conformidade (OAC). A certificação pode ser feita por meio de Auditoria ou Sistema Participativo de Garantia de Qualidade Orgânica (SPG).

A polêmica da Cisticercose

Alguns especialistas da área da saúde receiam a indicação de produtos orgânicos por acreditarem que eles apresentam maiores índices de contaminação microbiológica e parasitária, como aquela que causa a Cisticercose, doença adquirida através da ingestão de alimentos contaminados com ovos de Taênia Solium. Para a pesquisadora científica da Universidade Federal do Paraná, Sônia C. Stertz, doutora em Tecnologia de Alimentos, presidente da Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos – Regional Paraná, isso se deve a falta de informação sobre o assunto.

“O modo de produção orgânica vem ao encontro do conceito de Segurança Alimentar e Nutricional, atualmente adotado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Brasil. Consiste na realização do direito de todos ao acesso a alimentos em quantidade e qualidade, tendo como base, práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis”, esclarece.

“Já sabemos da estreita relação entre a exposição aos agrotóxicos e diferentes problemas de saúde, como os neurológicos, reprodutivos, de desregulação hormonal e até câncer”, diz a pesquisadora, lembrando que o Paraná é, atualmente, o maior produtor de alimentos do Brasil, mas também o maior consumidor de agrotóxicos.

Sônia diz que a exposição ao produto contaminado pode provocar ainda alergias e dermatites, perda de visão, feridas expostas, alterações do sistema nervoso, danos ao fígado, aos rins, problemas respiratórios e de reprodução e, em intoxicações agudas, levar à morte. “Consumindo orgânicos, estaremos contribuindo para que as futuras gerações encontrem um mundo melhor, menos poluído e mais ético”, conclui.

Uma missão de vida

A história da produtora de orgânicos Sandra Mara Ribas Machado dos Santos, de 50, se divide em antes e depois dos orgânicos. “No início dos anos 80, produzíamos da forma convencional. Me intoxiquei com um inseticida a base de estanho, aplicado na plantação de cebola. Tive vários problemas de saúde, quase morri, e quando fiquei grávida, o feto não se desenvolveu”, conta ela, que perdeu o primeiro filho com cinco meses de gestação.

O acontecimento mudou a vida de toda a família, que voltou a produzir orgânicos. De lá para cá, Sandra fez da produção e disseminação do bem que esses alimentos fazem para a saúde, uma missão de vida. “A Terra nos dá tudo, garante a qualidade de vida sem doenças, sem remédios e sem o fantasma da depressão e estresse que compromete a sociedade”.

Na verdade, Sandra está inserida numa família que lida com orgânicos há 130 anos. A ‘pausa’, como ela define, ocorreu nos 20 anos em que o sogro Ubaldino Machado dos Santos produziu alimentos convencionais.

Soberania alimentar

O produtor Marcelo Passos, de 48 anos, acredita que os benefícios da produção de orgânicos se dividem em dois grandes eixos. O da segurança e soberania alimentar, e do projeto de desenvolvimento social para o país e o planeta.

“Quando se tem uma produção de alimentos que independe de insumos de outros países ou de multinacionais, ou ainda do petróleo, temos a soberania. Quando conseguimos integrar a produção de alimento e a geração de renda com a preservação ambiental, tudo isso com a alimentação do nosso país, vamos em direção a uma sociedade mais harmônica com a natureza”, explica.

Porém, ele considera que ainda não há respeito à produção Agroecológica no Brasil. Primeiro porque o produtor de orgânicos precisa proteger a sua área dos resíduos químicos vindos de empresas que poluem o meio ambiente, ao invés dessas serem punidas por não cumprirem a sua parte. Depois, porque toda a logística do setor é feita para convencionais e não para produção e distribuição de produtos agroecológicos. Marcelo toca a agroindústria de orgânicos em Campina Grande do Sul, ao lado da mãe Griseldis Fiechter e do irmão Mauro.

 

Médicos, nutricionistas, dentistas e enfermeiros têm o dever de se informar sobre o assunto. Seja você agente um de saúde, do meio ambiente e de uma economia sócio ecológica, que prolifera vidas e a valoriza a família. E acredite, o orgânico nas feiras é mais barato que muita verdura no supermercado. Invista em sua saúde. 

O circuito das feiras orgânicas é divulgado no site:
www.curitiba.pr.gov.br

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