Medicina

Olhos que veem o que o corpo sente

Exames oftalmológicos periódicos e tratamento preventivo permitem o controle da retinopatia diabética, evitando a perda parcial ou total da visão

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Se você é, ou suspeita ser, portador de diabetes, essa doença crônica que se caracteriza por apresentar taxas elevadas de açúcar (glicemia) no sangue, fique atento à saúde dos seus olhos. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, existem hoje no Brasil cerca de 13,5 milhões de pessoas com diabetes mellitus, sendo que 90% dos pacientes com o tipo I (juvenil) e 60% dos pacientes com o tipo II (adulto) devem desenvolver uma doença ocular silenciosa, porém bastante preocupante: a retinopatia diabética. Para evitar esse mal, que pode trazer danos irreversíveis à visão, é essencial fazer visitas periódicas ao oftalmologista isso pode até evitar a segueira?

Em pacientes diabéticos a perda de visão é 25 vezes mais frequente, e a retinopatia diabética é a principal causa de cegueira no mundo. Dados da SBD revelam que a falta de informação, associada à ausência de sintomas, pode causar cegueira em 40% das pessoas portadoras de diabetes, sendo que a metade destes pacientes poderia ter preservado a visão se tivesse realizado exames laboratoriais e oftalmológicos de rotina.

 

Importância do diagnóstico precoce

Geralmente, o paciente é diagnosticado com retinopatia diabética quando já está com o fundo de olho comprometido devido ao diabetes. “Trata-se de uma complicação grave que, se não for diagnosticada e tratada a tempo, pode provocar perda total da visão, pois a doença atinge os dois olhos”, adverte o médico oftalmologista Dr. Artur Schmitt, do Hospital Barigui de Oftalmologia, que se aperfeiçoou em técnicas cirúrgicas na Universidade de Miami, nos Estados Unidos, e atualmente está realizando doutorado (PhD) na UFPR. Ele é um dos oftalmologistas do Paraná especialistas  na técnica da facoemulsificação,  que elimina e trata a catarata com grandes vantagens aos pacientes, especialmente os diabéticos.

De acordo com o oftalmologista, o diabetes mal controlado, entre outros danos à saúde, pode causar visão desfocada, catarata, glaucoma e lesões na retina. “De todas estas complicações oculares causadas pelo diabetes, a evolução da retinopatia diabética é a mais preocupante, porém, ela pode ser prevenida através de exames regulares e tratamento preventivo”, alerta o especialista.

Para o médico anestesiologista José Roberto Brito, de 66 anos, o controle periódico do diabetes é fundamental para a saúde de todo o corpo. O Dr. Brito foi consultar com o especialista, Dr. Artur Schmitt, porque suspeitava estar com catarata, uma vez que é portador de diabetes tipo II há oito anos e vinha apresentando alteração na visão. “Os exames oftalmológicos comprovaram a presença de catarata em ambos os olhos. Fiz a cirurgia de catarata e o resultado foi excelente, pois agora não necessito mais óculos de uso permanente, além de apresentar uma excelente visão”, comemora o paciente.

“O diabetes, decorrente de uma  de uma incapacidade do pâncreas em produzir a insulina natural, leva a uma taxa elevada do açúcar no sangue. É uma doença silenciosa, que se não for controlada leva a vários comprometimentos em outros órgãos do corpo, como coração e rins, problemas arteriais e oftalmológicos, como a catarata, podendo levar até à cegueira. Por isso, visitas periódicas ao seu oftalmologista são obrigatórias”, reforça o anestesiologista. José Brito acentua que, desde que o diabetes seja diagnosticado e tratado adequadamente, com uma dieta balanceada, atividade física e medicamentos, mantendo os níveis de glicose dentro de um padrão considerado satisfatório, o paciente pode ter uma vida normal. “Porém, claro, sem exageros, e sempre orientado por um médico especialista. Basta não esquecer de realizar exames laboratoriais e oftalmológicos periódicos, medir a pressão com regularidade e ter uma vida saudável e feliz”, ressalta.

 

Entendendo a retinopatia diabética

Nosso pâncreas produz a insulina, responsável por controlar a entrada da glicose (açúcar) nas células. Porém, quando esse mecanismo falha e falta insulina, a glicose vai ficando acumulada no sangue, que fica mais denso, causando sérias complicações à saúde, entre as quais os problemas circulatórios, em que os vasos sanguíneos de todo o corpo são afetados, inclusive os da retina – a camada de fibras nervosas localizada no fundo do olho que tem a função de processar as imagens que chegam aos olhos e enviá-las ao cérebro. Com o passar do tempo, esta situação se agrava, os vasinhos da retina vão se deteriorando e o edema pode fugir do controle, levando à cegueira.

Embora sempre em dia com a saúde e a qualidade de vida, o empresário Adir Mocelin, de 71 anos, que convive com o diabetes há 13 anos, descobriu através de exames oftalmológicos de fundo de olho que já apresentava um edema associado à doença. “Primeiro realizei a cirurgia de catarata com meu oftalmologista, o que já melhorou em muito a minha visão nos dois olhos. Então, descobri que estava com algumas veias doentes no fundo do olho. Há dois meses faço tratamento com laser para prevenir o agravamento da retinopatia e evitar a cegueira”, relata o paciente, que está confiante no tratamento.

 

Quais os sintomas da retinopatia diabética?

Os sintomas da retinopatia diabética são bastante comuns e, de modo geral, são deixados de lado pelo diabético, que menospreza a gravidade da doença. “Tudo começa com um embaçamento e, progressivamente, a visão poderá estar parcial ou totalmente comprometida, ocasionando uma cegueira no paciente”, adverte o oftalmologista do Hospital Barigui.

De acordo com Dr. Artur, engana-se quem acredita que a retinopatia diabética é uma doença da terceira idade. “Não só as pessoas idosas estão sujeitas a desenvolver uma retinopatia diabética; jovens e adultos diabéticos também fazem parte desta incidência, principalmente aqueles pacientes que convivem com a doença há mais de 20 anos”, afirma o especialista.

 

Quais os estágios da retinopatia diabética?

Infelizmente, quando as queixas visuais se manifestam, a doença já está bem avançada e nem sempre é possível recuperar a função visual. Devido ao acúmulo de açúcar nos vasos sanguíneos, a lesão vai aumentando e, assim, compromete a visão parcial ou totalmente. “Esses vasinhos entopem e enfraquecem. Na forma não proliferativa há o vazamento de sangue e fluído, infiltração de gordura na retina, e acontece o chamado edema macular”, explica Dr. Artur Schmitt.

Já no estágio proliferativo, existe o crescimento de vasos sanguíneos anormais, que invadem o vítreo (conteúdo gelatinoso do olho) e facilmente se rompem, causando uma hemorragia interna.

Em casos de diabetes, o exame da retina deve ser feito com a pupila dilatada, para que o oftalmologista possa visualizar as áreas mais periféricas, através de um oftalmoscópio binocular. Em casos específicos, o especialista pode também fazer um exame complementar chamado angiografia fluoresceínica, em que fotos do fundo de olho são obtidas após a injeção de um contraste na veia do braço do paciente. Tudo vai depender do estágio da doença.

 

Tratamento e prevenção

A fotocoagulação por raios laser é um dos tratamentos mais utilizados e eficazes para conter a retinopatia diabética em pacientes diabéticos. “A retina doente é cauterizada com a luz do laser, na tentativa de se prevenir ou retardar o processo de hemorragia”, afirma Dr. Artur. Contudo, a recomendação é que todos os pacientes façam exames oftalmológicos regularmente. “Para prevenir a doença, é de extrema importância que pacientes diabéticos ou não façam ao menos uma vez por ano uma consulta com o oftalmologista. A maioria das doenças dos olhos é desenvolvida por conta da ausência de diagnóstico precoce”, finaliza o oftalmologista do Hospital Barigui.

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