Nutrição

O desabrochar da alimentação orgânica

Parcerias e apoio são o “adubo” para ampliar o acesso e aumentar o consumo de alimentos orgânicos no Brasil

o-desabrochar-da-alimentacao-organica+organicos

Eles são os alimentos do momento e do futuro, cultivados sem agrotóxicos, fertilizantes sintéticos e outros aditivos químicos. Não sofrem mutações genéticas, são isentos de quaisquer resíduos de agroquímicos prejudiciais à saúde humana e animal. Mais seguros, não contaminam o organismo e nem o meio ambiente. Ricos em minerais e fitoquímicos, têm maior valor nutricional. E ainda geram emprego e renda no campo. Então, por que ainda tem gente que não conhece e não consome os alimentos orgânicos?

Profissionais da área apontam problemas de logística, falta de recursos, de tecnologia e de capacitação técnica como obstáculos para a expansão da cultura orgânica. Além disso, o incentivo governamental é tímido, embora existam algumas estratégias públicas para promover esse tipo de produção. Sem superar esses elementos, os especialistas consideram difícil que os orgânicos venham a atingir todas as classes sociais, ficando restritos somente às classes A e B.

Lutero Couto, diretor da Griffe Orgânica – espécie de condomínio rural e consórcio de exportação de produtos orgânicos –, é membro da Associação Brasileira de Orgânicos (BrasilBio) e acredita que estabelecer parcerias e incentivos entre o poder público e os produtores seria uma das melhores soluções para otimizar o mercado de orgânicos no Brasil.

Para ele, é preciso um maior diálogo com as instituições federais, para que haja vontade política e incentivo ao desenvolvimento do setor. “As políticas públicas devem ser embasadas em uma agroecologia sustentável, promovendo a transição das atuais culturas contaminantes para o desenvolvimento de uma agroecologia baseada na produção familiar, fixando o homem no campo”, destaca Lutero. Outra estratégia eficaz seria eliminar os atravessadores, para tornar os preços dos orgânicos mais competitivos.

Aos poucos, porém, a produção orgânica vem ganhando espaço e notoriedade. Em 2012, o governo federal aprovou uma política pública nacional de Agroecologia e Produção Orgânica que agradou aos produtores. “É uma política pública que percebe o setor de orgânicos não como nicho, mas como uma estratégia do desenvolvimento local sustentável”, afirma Lutero Couto.

O engenheiro agrônomo Antonio Rapetti, de Curitiba, produtor de orgânicos há dez anos e dono da Natural Market, diz que, apesar da ausência de maiores incentivos, “o céu é o limite” para os orgânicos. “O mercado cresce entre 37% a 40% ao ano, mas a produção não é suficiente para dar conta da demanda. A pouca oferta é um dos motivos que eleva os preços desses produtos”. A solução existe, segundo ele, no exterior. “Em outros países, existem tecnologias que permitiriam aumentar a escala de produção dos alimentos orgânicos, principalmente com o combate às pragas”, explica.

A boa notícia é que o setor agroindustrial vem se envolvendo cada vez mais na luta para ampliar a oferta desses produtos no mercado. E, com a produção em maior escala, os preços ficarão mais atraentes para o consumidor. A Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) é um exemplo de instituição que acredita no potencial do mercado brasileiro de produtos orgânicos e num futuro aumento da demanda, inclusive por parte das indústrias.

O grande desafio no momento, porém, é: se com pouco apoio já é difícil atender à crescente demanda de orgânicos, como seria possível suprir o interesse das indústrias?

“Isso exigiria uma produção de maior escala, mas antes que qualquer medida em relação a isso seja tomada, os empresários precisam de uma sinalização mais clara do mercado”, responde Renata Alvarez Coelho, do Grupo de Articulação de Orgânicos da Fiep, criado exclusivamente para pensar e apoiar o crescimento do setor.

Por outro lado, para Renata, ainda é possível crescer também junto ao consumidor final. “Um dos fatores que prejudicam a popularização dos produtos orgânicos é a falta de campanhas e políticas de divulgação. A falta de informação do consumidor ainda é um dos maiores entraves para o desenvolvimento da agricultura orgânica”, avalia.

Orgânicos industrializados

“Se existem poucas empresas focadas no segmento de alimentos orgânicos no Brasil, isso se deve à dificuldade de encontrar matérias-primas certificadas”, diz Damian Allain, diretor de mercado da Jasmine, uma das poucas empresas brasileiras que possui em seu portfólio produtos orgânicos. “Atualmente, a linha de orgânicos possui mais de 20 produtos e a tendência é continuarmos investindo nesse segmento”, reforça.

Ele comenta que há alguns anos os consumidores tinham preferência por produtos orgânicos in natura, como hortaliças, frutas e verduras. “Hoje, porém, os produtos industrializados já conquistaram seu espaço no mercado orgânico. A linha de orgânicos da Jasmine inclui bebidas, biscoitos, farinhas especiais, café, entre vários outros produtos 100% orgânicos que podem ser encontrados nas prateleiras de supermercados e em lojas especializadas de todo o país”, conta.

Por meio da oferta de alimentos saudáveis e do uso sustentável dos recursos naturais, a produção orgânica traz uma série de benefícios. Até mesmo pessoas com males específicos, como intolerância à lactose ou alergias, já se beneficiam desses produtos. Segundo Damian Allain, as bebidas, em especial, estão entre os mais procurados.

União que faz a força

Uma das alternativas encontradas por produtores orgânicos no Paraná e no Brasil foi a criação de condomínios, cooperativas e associações para tornar a produção mais barata e alavancar as vendas. A Associação de Produtores Orgânicos de São José dos Pinhais é um exemplo dessas parcerias: os 15 produtores parceiros comercializam seus produtos em duas feiras, realizadas em São José dos Pinhais, e vendem ainda para outras cidades paranaenses e até para outros estados, como Santa Catarina. “Nossa meta, futuramente, é comercializar no Ceasa”, conta Ângelo Augusto Zani, presidente da Associação.

 

Simpósio

A Fiep promove no dia 20 de setembro o Simpósio da Rota Agroalimentar – Industrialização de Alimentos Orgânicos. O encontro será no Espaço de Eventos Maurício Burmester do Amaral, no Mercado Municipal de Orgânicos de Curitiba. O objetivo é promover a industrialização de produtos orgânicos e alavancar a cadeia produtiva, através da disseminação da informação do setor. O Simpósio tem como público-alvo empresários, pesquisadores e produtores que atuam na área de alimentação orgânica.

 

Confira o CIRCUITO DAS FEIRAS ORGÂNICAS em Curitiba

  • Jardim Botânico – Praça da Itália
  • Passeio Público
  • Praça do Expedicionário
  • Praça da Ucrânia
  • Emater
  • Santa Felicidade – Praça Piazza San Marco
  • Centro Cívico – Prefeitura
  • Igreja do Cabral
  • Seminário – Rua João Argemiro de Loyola
  • Mercado Municipal – Setor de Orgânicos
  • Praça do Japão

Artigos Relacionados