Medicina

Linfoma: nem sempre o corpo avisa

Descoberta precoce da doença e eficácia de procedimentos associados ampliam as chances de cura, reduzindo efeitos colaterais no tratamento do linfoma

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Jovem, bonito e esbanjando vitalidade. Porém, quando menos esperava, o ator Reynaldo Gianecchini foi acometido aos 38 anos com o diagnóstico de câncer. A recente notícia, que sensibilizou a sociedade brasileira, chamou mais uma vez a atenção para um dos tipos de câncer mais agressivos: o linfoma Não-Hogkin, o mesmo que acometeu a presidente Dilma Russef, em 2009. Uma notícia assim não é das mais agradáveis, mas o que muitas pessoas não sabem é que se diagnosticado precocemente, esse tipo de câncer do sistema linfático apresenta 95% de chance de cura.

O linfoma de Não-Hodgkin afeta 1,5 milhão de pessoas em todo o mundo. No Brasil, apesar dos avanços terapêuticos, o grande desafio é o desconhecimento da população sobre a doença, dificultando a realização do diagnóstico precoce. Uma pesquisa realizada recentemente pela Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), com 1.455 portadores de linfoma, mostrou que falta informação sobre a doença. Dos entrevistados, 86% nunca tinham ouvido falar do linfoma antes do diagnóstico e cerca de 70% deles demoraram mais de três meses para iniciar o tratamento.

Embora seja um câncer maligno, a cura é possível por meio de tratamentos eficazes, como a quimioterapia, radioterapia, associação de ambas e a imunoterapia. “A imunoterapia de anticorpo monoclonal age diretamente na célula tumoral em busca da cura. São grandes as chances de obter sucesso, mas se não há cura, o tratamento adequado permite que o paciente conviva com a doença, desde que seja acompanhada com cuidado”, explica o oncologista Valdir Furtado, do Instituto de Hematologia e Oncologia Curitiba (IHOC). “Todo o cuidado é pouco. Por isso, é fundamental fazer exames periódicos, mesmo na ausência de sintomas, ficando atento aos primeiros sinais desta doença silenciosa, em que uma simples dor esporádica pode servir de alerta”, acentua o especialista.

Para o químico Juan Carlos Mussini, de 68 anos, nenhum sintoma acusou a doença, que foi descoberta durante o tratamento de uma infecção dentária. “Depois de extrair um dente, uma biópsia detectou o linfoma, pois eu já apresentava nódulos no pescoço que não sentia”, relata. Foram meses fazendo quimioterapia e radioterapia e o paciente reagiu bem ao tratamento. “O choque inicial foi muito forte, mas nessa hora você tem que acreditar e lutar. Hoje, sei que ganhei uma batalha muito importante. Aprendi a viver melhor, procurando desestressar, caminhando, viajando e ficando mais com minha família. O estresse separa você do seu corpo, que acaba adoecendo, e muitas vezes não prestamos atenção a isso. Só tenho a agradecer pela sorte de ter sido diagnosticado na fase inicial da doença e por ter contado com um médico que passa força e confiança”, depõe o paciente, feliz pelo êxito do tratamento.

 

Sinais da doença

Os sintomas variam de acordo com o tipo do tumor. Os linfomas são divididos em duas grandes categorias: o linfoma Hodgkin (ou doença de Hodgkin), que responde por cerca de 10% do total de casos e atinge, em sua maioria, jovens e pessoas de meia idade; e o linfoma Não-Hodgkin, que responde pelos 90% restantes. “Hoje, esta divisão perdeu um pouco o sentido, uma vez que existe uma grande variação de linfomas pertencentes ao mesmo grupo, apenas com diagnóstico mais específico para um e para outro, porém com tratamentos semelhantes”, explica Dr. Valdir Furtado.

Os linfomas Não-Hodgkin atingem principalmente pessoas acima de 60 anos e possuem mais de 20 variações. “O sintoma inicial mais comum do linfoma é um aumento indolor dos gânglios linfáticos no pescoço, axilas, abdome, virilha ou do mediastino (região entre o coração e os pulmões). Outros sintomas são febre, suor noturno, perda de peso e coceira”, alerta o médico. Indivíduos com HIV, doenças autoimunes, transplantados ou que tenham contato com solventes ou radiação, têm mais propensão a desenvolver o linfoma Não-Hodgkin. “Não é uma regra, uma vez que muitos pacientes não apresentam nenhuma dessas características”, complementa o médico.

O engenheiro mecânico P.L., de 57 anos, teve o linfoma descoberto durante uma cirurgia de amígdalas. O diagnóstico apresentou o nível III, o mesmo de Reynaldo Gianecchini. “A doença foi detectada no pescoço e virilha. Fiz quimioterapia por alguns meses e há anos estou bem de saúde”, conta. Para ele, o tratamento do câncer trouxe uma nova forma de encarar a vida. “Agora pratico atividade física, caminho no parque e minha qualidade de vida aumentou. Antes eu vivia estressado e somente para o trabalho”, desabafa P.L..

 

Diagnóstico

Como acontece com a maioria dos cânceres, o linfoma é diagnosticado por meio de uma biópsia, que vai determinar o subtipo da doença. Também são realizados vários tipos de exames para diagnóstico e tratamento adequado: exames de imagem (radiografia de tórax, tomografia computadorizada, ressonância nuclear magnética e cintilografia) e estudos celulares (imunohistoquímica, estudos de citogenética, citometria de fluxo e estudos de genética molecular). “Esses exames determinam o tipo exato de linfoma e o estágio em que se encontra a doença, apontando características que ajudarão a encontrar o correto diagnóstico e o tratamento mais eficaz a ser empregado”, explica Dr. Valdir.

 

Imunoterapia: anticorpos monoclonais

A maioria dos linfomas é tratada com quimioterapia, radioterapia ou ambos. A quimioterapia consiste na combinação de duas ou mais drogas, sob várias formas de administração, de acordo com o tipo de linfoma. A radioterapia é geralmente usada para diminuir o tumor em locais específicos, para aliviar sintomas ou para consolidar o tratamento quimioterápico, diminuindo as chances de recaída.

O tratamento mais recente incorporado aos procedimentos convencionais é a imunoterapia, que são anticorpos monoclonais atuando de forma isolada ou associados à quimioterapia. Trata-se de um tratamento inovador que atinge seletivamente as células linfomatosas e detém a multiplicação das células malignas. Diferente da quimioterapia clássica, que também mata células sadias, a imunoterapia age exclusivamente sobre as células doentes.

O objetivo é destruir as células malignas induzindo-as à remissão completa, ou seja, o desaparecimento de todas as evidências da doença. A remissão tem sido atingida pela maioria dos pacientes que fazem o tratamento, reafirmando as chances de cura. Em casos mais graves de linfoma, é indicado o transplante de medula óssea (autotransplante ou de doador compatível), que atualmente tem apresentado bons resultados.

 

O sistema linfático e a formação do linfoma

O sistema linfático, composto por inúmeros gânglios conectados entre si pelos vasos (canais) linfáticos, é o responsável pela defesa do nosso organismo contra vírus e bactérias. Estes gânglios estão localizados no pescoço, axilas, virilha, tórax (mediastino) e abdome. Os vasos linfáticos transportam um líquido claro chamado linfa, que circula pelo corpo e contém células chamadas linfócitos, responsáveis por combater infecções. Quando uma pessoa percebe que está com gânglios aumentados em alguma região do corpo, significa que o organismo está se defendendo de uma infecção.

Por razões ainda desconhecidas, o linfoma nada mais é do que o resultado da formação desenfreada e desordenada de linfócitos nos gânglios linfáticos, ou seja, é um tipo de câncer que se inicia a partir de linfócitos anormais e pode se espalhar por meio do sistema linfático para muitas áreas do organismo, circulando no sangue e comprometendo seriamente diversos órgãos.

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