Medicina

Evitando a progressão do ceratocone

Inovadora técnica de crosslinking de colágeno de córnea e nova tecnologia em lentes de contato gás-permeáveis oferecem melhor visão para pacientes com ceratocone

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Quando uma pessoa começa a apresentar queixas de baixa visão, com aumento progressivo da miopia e do astigmatismo, e a dificuldade de enxergar persiste mesmo com o uso de óculos, o ceratocone pode ser a razão do problema. A doença é caracterizada pelo aumento progressivo e irreversível da curvatura da córnea, bem como pela diminuição progressiva de sua espessura. Ou seja, a córnea (parte anterior do olho) torna-se pontuda e mais fina, adquirindo um formato atípico, semelhante a um cone. Muitas vezes, nestes casos, o ceratocone já se encontra em um estágio mais avançado. Daí a importância do diagnóstico precoce, uma vez que hoje existem novas possibilidades terapêuticas, capazes de conter a velocidade de progressão da doença.

No estágio inicial do ceratocone, o paciente apresenta baixa acuidade visual, especialmente à noite, além de aumento progressivo da miopia e principalmente do astigmatismo, sendo que o uso de óculos ou lentes de contato gelatinosas ainda pode oferecer uma boa visão. “Entretanto, para os casos em que esses recursos já não apresentam melhoras, devido ao estágio do ceratocone, podemos indicar as lentes rígidas, o implante de anéis intraestromais, a técnica de crosslinking ou até o transplante de córnea. As lentes esclerais e o crosslinking de colágeno de córnea são os recursos mais atuais, com ótimos resultados”, afirma o oftalmologista Dr. Artur Schmitt, do Hospital Barigui de Oftalmologia, mestre em Oftalmologia com especialização em córnea e cirurgia refrativa no Bascom Palmer Eye Institute, nos Estados Unidos, um dos maiores e mais renomados centros de Oftalmologia do mundo.

Muitos pacientes apresentam uma estabilidade relativa ou uma progressão lenta do ceratocone e, nesse estágio, se estiverem bem adaptados às lentes de contato rígidas, conseguem levar uma vida normal, sem grandes restrições.

Infelizmente, na maioria dos  casos, o ceratocone continua evoluindo progressivamente e a adaptação e tolerância às lentes de contato rígidas vão se tornando cada vez mais limitadas, devido ao aumento da saliência na região central da córnea (cone), dificultando a estabilidade das lentes de contato, bem como diminuindo a visão.

Lentes esclerais: alternativa ao transplante de córnea

Pacientes que apresentam intolerância às lentes de contato rígidas ou que sofrem com problemas na córnea, como o ceratocone, degeneração marginal pelúcida, distorções de córnea pós-transplante, pós-trauma ou pós-cirurgia refrativa, contam agora com um novo recurso que está evitando, em muitos pacientes,  o transplante de córnea: as modernas lentes esclerais. Fabricadas com materiais de altíssima oxigenação, estas lentes proporcionam grande conforto e um número de horas de uso muito maior do que as lentes convencionais, possibilitando aos pacientes utilizá-las por mais de 12 horas contínuas.

“Uma pesquisa nos Estados Unidos revelou que mais de 90% dos usuários deste tipo de lente se mostraram muito  satisfeitos por terem obtido uma solução para seu problema visual, sem a necessidade do transplante”, afirma a oftalmologista Dra. Fernanda Piccoli Schmitt, do Hospital Barigui de Oftalmologia, que possui  certificação específica para adaptar essas lentes aos pacientes brasileiros. Em Curitiba, o Hospital Barigui é um dos pioneiros na utilização das lentes, que são gás-permeáveis e tratadas por plasma, bastante semelhantes às lentes gelatinosas. Assim, possibilitam regularizar a superfície da córnea e propiciar boa visão. Como se apoiam na esclera (parte branca mais externa à cornea) sem tocá-la, são extremamente confortáveis. “Além disso, as lentes esclerais dificilmente saem dos olhos, o que aumenta a qualidade de vida dos seus usuários, que podem ter mais liberdade no seu dia a dia, inclusive para praticar esportes. Muitos pacientes que já não possuíam uma boa visão com lentes de contatos normais podem apresentar, com   as lentes esclerais, uma excelente visão”, acentua a especialista.

A importância dos exames preventivos

O ceratocone atinge principalmente adultos jovens. De modo geral, aparece na puberdade, podendo evoluir rapidamente ou levar anos para se desenvolver. Em alguns casos raros, pode deixar  espontaneamente de evoluir, mas quando evolui compromete de forma intensa a capacidade visual, prejudicando sensivelmente a execução das tarefas diárias. A primeira regra é a realização de exames preventivos periódicos. “Isso é fundamental, principalmente para pacientes que apresentam mudanças de grau muito frequentes ou quando sua visão não fica perfeita  com óculos”, alerta Dr. Artur Schmitt.

As reais causas do ceratocone são desconhecidas, porém, sabe-se que ele pode estar associado a diferentes fatores, como doenças hereditárias, alérgicas e condições sistêmicas, ou mudanças físicas, bioquímicas e moleculares no tecido corneano. O diagnóstico definitivo é feito com base nas características clínicas do paciente e confirmado por meio da tomografia  corneana computadorizada (exame que mostra em imagem o formato preciso da córnea). O  Hospital Barigui de Oftalmologia possui o equipamento Galilei, que realiza tomografia corneana, considerado hoje o mais moderno equipamento para diagnóstico, acompanhamento e tratamento do ceratocone.

O ceratocone acomete, geralmente, os dois olhos, de forma assimétrica. “Como na maioria dos casos o ceratocone apresenta uma evolução com  piora progressiva da acuidade visual,  pacientes que ainda têm boa visão devem acompanhar e buscar interromper esta progressão consultando um especialista em ceratocone com habilidade nas técnicas atuais”, acentua o oftalmologista.

Crosslinking e técnica de femtosecond

Essas duas técnicas representam o avanço no tratamento do ceratocone. O crosslinking é uma combinação de radiação ultravioleta e riboflavina (vitamina B2) que tem por objetivo diminuir ou estabilizar a progressão do afinamento da córnea. Ao utilizar a luz UVA e a riboflavina, a técnica do crosslinking cria novas ligações entre as moléculas de colágeno adjacentes, capazes de produzir um aumento da rigidez corneana em até três vezes, o que a torna mais resistente e portanto, com menor probabilidade de evolução do ceratocone.  Estudos médicos publicados na Europa e nos EUA comprovam a eficácia do crosslinking para estabilizar a progressão do ceratocone.

“O crosslinking é o que existe de mais moderno para  conter a evolução da doença e até evitar o transplante de córnea”, afirma Dr. Artur. O procedimento já vem sendo utilizado na Europa há anos, com excelentes  resultados demonstrados por inúmeras pesquisas médicas, mostrando que é realmente capaz de conter o avanço da doença e, em muitos casos,  evitar o transplante.

Já o anel intraestromal ou intracorneano, utililizado para melhorar a acuidade visual de pacientes com irregularidades corneanas, como o ceratocone, pode agora ser inserido entre as camadas da córnea com a nova técnica de femtosecond, um tipo de laser que evita cortes com lâminas  e facilita a cicatrização. O implante de anel intracorneano com  laser de femtosecond demonstrou ser mais seguro e previsível para pacientes com ceratocone. O crosslinking e o anel intraestromal ou intracorneano (para o aplanamento da córnea) podem ser associados.

 

Para uma visão satisfatória nos diversos estágios da doença

O uso de óculos ou lentes de contato geralmente beneficia casos brandos ou iniciais da doença, mas as lentes podem também ser utilizadas após alguns procedimentos, como o próprio crosslinking, o anel intracorneano ou o transplante de córnea. “É que em alguns casos a visão deixa de ser corrigida adequadamente na medida em que a doença progride, o que requer o uso de lentes rígidas para fornecer uma acuidade visual satisfatória”, complementa o oftalmologista.

Pacientes em estágio muito avançado, em que a córnea encontra-se muito fina ou apresenta opacificações centrais, podem ser submetidos ao transplante de córnea, que é um procedimento bastante invasivo, mas que também pode ser realizado através da técnica de femtosecond que, assim como o implante de anel intracorneano, torna a cirurgia mais segura e previsível.  Felizmente, o transplante de córnea tem indicação para apenas 5% dos pacientes com ceratocone.

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