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Descobri que tenho miomas, e agora?

O que toda mulher precisa saber sobre os miomas uterinos para garantir sua saúde e feminilidade

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Cerca de 300 mil mulheres por ano passam por uma histerectomia no Brasil. Comparada a outros países, como Estados Unidos, por exemplo, essa quantidade pode ser considerada dentro de parâmetros normais. No entanto, tais números causam preocupação, principalmente se levarmos em conta que boa parte das cirurgias para retirada do útero poderiam ser evitadas. A principal causa dessa “epidemia” são os miomas uterinos.
Longe de ser uma novidade, muitas mulheres passam por essa preocupante constatação: descobrir que possuem nódulos de miomas em seu útero. Especialistas estimam que a miomatose uterina possa incidir em uma dentre quatro mulheres em idade fértil. Estudos chegam a prever que cerca de 50% das mulheres terão miomas em algum momento de suas vidas. O pico de incidência dos miomas é aos quarenta anos de idade, girando em torno de 40%. Mesmo assim, não é raro encontrar mulheres mais jovens com miomas, antes mesmo de terem sido mães.
Para responder às perguntas mais comuns sobre esse problema, a revista Corpore conversou com o ginecologista e obstetra André de Paula Branco e com o radiologista intervencionista Alexander Corvello. No bate-papo, os médicos procuraram simular uma primeira consulta médica de orientação, com algumas das principais perguntas elaboradas pelas mulheres.

Miomas X câncer

O mioma é um tumor sólido do corpo do útero, constituído por grande quantidade de células musculares e tecidos conectivos. É classificado como uma neoplasia benigna – ou seja, não é um câncer. “O mioma não é aquele temido tipo de tumor maligno que geralmente cresce, se espalha e acaba por levar a mulher ao óbito se não for realizado tratamento adequado”, explica André Branco.
Mesmo assim, existe a possibilidade de que o nódulo seja um leiomiosarcoma, este sim uma neoplasia maligna e com potencial letal, por isso é essencial que a mulher faça acompanhamento médico constante após descoberto o problema. Felizmente, a ocorrência desse tipo de mioma é muito baixa, menor do que 1%.

Sintomas

Grande parte das portadoras de miomas não apresenta sintomas e até consegue conviver pacificamente com seus nódulos, sem qualquer prejuízo. Por isso, a realização periódica de exames preventivos é importante, pois o mioma pode “despertar” de uma hora para outra, ocasionando uma série de transtornos.
Dentre os sintomas, os mais comuns são sangramentos ou dores pélvicas. Freqüentemente as pacientes experimentam sangramentos menstruais aumentados ou hemorragias súbitas e volumosas, que podem levar a quadros anêmicos e até à necessidade de transfusões sangüíneas. “Outras vezes, as dores pélvicas são oriundas da compressão que o tumor imprime aos órgãos vizinhos, como o reto e a bexiga”, explica o ginecologista. Outra importante correlação é a de miomas e infertilidade, que em apenas alguns casos torna-se real, a depender do tipo e localização dos nódulos.

O que fazer

“Basicamente, quando sentir qualquer dor a mulher deve manter-se calma e consultar um ginecologista o quanto antes. Cabe a esse profissional fazer o diagnóstico preciso da patologia, avaliar o risco de malignidade, medir a extensão do caso, suas conseqüências e riscos. Assim, irá propor opções de tratamento individualizadas, que deverão ser analisadas não somente pelo profissional médico, como também pela paciente”, explicam os profissionais.
Não existe uma regra única para o tratamento dos miomas porque, diferentemente de outras patologias, que exigem a rápida e total extirpação do problema, muitas vezes tratar pode não ser a única opção. Em alguns casos, o simples acompanhamento é suficiente para se ter uma vida normal. A escolha do tratamento depende de cada caso, com a análise da qualidade de vida, dos riscos e principalmente das expectativas do médico e de sua paciente. O desejo de gravidez, de preservar o útero, além dos riscos cirúrgicos, também interferem nessa decisão.

Remédios

O tratamento clínico mais em prática atualmente se vale de medicamentos que têm por finalidade minimizar os sintomas da doença, mas dificilmente terão êxito em diminuir ou “desfazer” os miomas de maneira definitiva. Nessa classe estão os antiinflamatórios não-hormonais, antifibrinolíticos, contraceptivos orais combinados ou injetáveis, além do DIU medicado com progesterona. Cada um possui suas limitações e efeitos colaterais. Para mulheres próximas da menopausa, o controle dos sintomas pode ser útil, pois ao adentrar nessa fase da vida feminina a tendência dos miomas é diminuir.

Cirurgia

O tratamento cirúrgico pode ter por finalidade a preservação uterina, visando apenas retirar os miomas, numa cirurgia chamada de miomectomia, podendo ser realizada por via videolaparoscópica. Tudo depende do número de nódulos e de suas localizações. Já em pacientes que não desejam a preservação uterina ou não podem optar por ela, devido à gravidade do caso, existe a histerectomia, que geralmente visa retirar apenas o útero, preservando as trompas e ovários. Esse procedimento pode ser realizado via abdominal ou vaginal, método a ser escolhido pela análise do ginecologista. O médico lembra que as duas cirurgias apresentam os mesmos riscos de qualquer procedimento cirúrgico.

Tratamento multidisciplinar

“A embolização de artérias uterinas é um método relativamente recente, porém seguro e eficaz, que tem obtido espaço por ser minimamente invasivo e preservar o útero”, explica o radiologista intervencionista Dr. Alexander Ramajo Corvello, do Instituto de Radiologia Intervencionista (Inrad).
A idéia do procedimento é interromper o suprimento sangüíneo que nutre os miomas, por meio da utilização de partículas específicas que são introduzidas via cateterização arterial diretamente nos vasos uterinos, seletivamente. “Esse procedimento é realizado pelo radiologista intervencionista, que passa a compor equipe multidisciplinar no tratamento dessa patologia”, esclarece o Dr. Branco.
A embolização do mioma do útero é uma técnica não-cirúrgica que dura em média uma hora. O procedimento é minimamente invasivo e não causa maiores agressões ao organismo, pois não necessita de pontos. O material sintético utilizado na cirurgia não provoca rejeição e é usado há mais de 20 anos na medicina.
Especialistas monitoram a paciente durante todo o tempo, usando modernos equipamentos de alta resolução que permitem uma excelente visualização das imagens obtidas e grande segurança. A técnica de embolização é utilizada desde a década de 1970 para diminuir o sangramento no pós-parto, tratar tumores malignos (câncer), aneurismas e hemorragias nas mais diversas partes do corpo.
Muitas mulheres lutam para manter a fertilidade, pois querem engravidar, e mesmo após a embolização algumas atingem essa conquista. Dr. Corvello e Dr. Branco fazem um alerta: hoje as mulheres tendem a engravidar mais tarde, em função da estabilidade, da carreira e do trabalho. Assim, as chances de apresentarem algum risco aumentam. Por isso, elas devem ficar atentas aos miomas e outras doenças que atingem a preservação da saúde uterina.
A analista de sistemas Mara Lúcia Fornerolli sofreu com os miomas durante 12 anos – desde que descobriu que estava grávida de seu filho. Durante a gravidez ela fez acompanhamento, mas depois do parto começou a sofrer mais. “Tinha sangramentos, anemia, sofria muito”, lembra ela, que passou por uma miomectomia em 2000, quando foram retirados vários miomas. “O maior ficou, pois não poderia ser retirado através desse método”, conta ela.
Apesar de ter continuado com os tratamentos, os sintomas pioraram. Em 2007, ela estava pronta para retirar o útero quando leu uma matéria na revista Corpore falando sobre a embolização uterina. “Conversei com meu ginecologista e acabei desmarcando a cirurgia, que estava programada para o dia seguinte”, conta ela, que queria evitar o corte e a retirada de um órgão essencialmente feminino. “O Dr. Corvello passou muita segurança, então realizei a cirurgia depois de alguns meses”. Hoje, o mioma reduziu e Mara não sofre mais com os sintomas. Faz acompanhamento periódico e está feliz com o resultado. “Mesmo que não venha a ter outros filhos, acho justo que todas as mulheres tenham o direito de manter o seu útero, principalmente se temos uma opção menos invasiva”, considera Mara.
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