Medicina

Câncer de bexiga

Quando a cura é uma questão de atitude

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Muitas vezes, quando menos esperamos, um problema de saúde que parece corriqueiro pode se transformar numa extenuante batalha pela vida. Portanto, se você apresenta sintomas como sangue na urina, dor durante o ato de urinar e necessidade frequente de urinar, mas sem conseguir fazê-lo, consulte o quanto antes o seu médico. Esses podem ser sintomas de doenças simples do aparelho urinário, mas são também sinais de alerta de um possível câncer de bexiga. E, se você fuma ou já fumou um dia, é ainda mais importante procurar um especialista.  Embora a causa exata deste tipo de câncer seja desconhecida, sabe-se que o cigarro é o principal fator de risco para o desenvolvimento da doença.

Um levantamento divulgado no início de 2013 pelo Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp) mostrou que aproximadamente 70% dos casos de câncer de bexiga no Brasil têm relação com o tabagismo. A explicação para este dado alarmante é que os agentes metabólicos do cigarro, inalados junto com a fumaça, irritam o revestimento delicado do aparelho urinário (urotélio), o que, no longo prazo, causa o câncer de bexiga.

A pesquisa serviu de alerta para a mudança de hábitos, como parar de fumar, ter uma alimentação saudável e ficar atento à alterações na saúde. “Quanto antes o problema é descoberto, maiores são as chances de cura”, afirma o médico oncologista Dr. Valdir de Paula Furtado, do Instituto de Hematologia e Oncologia Curitiba (IHOC).

De acordo com o oncologista, os processos irritativos da bexiga, como infecção crônica, aumentam os riscos do desenvolvimento de tumores cancerígenos. “Daí a importância de consultar um médico urologista (para homens) ou ginecologista (para mulheres) quando surge a sensação frequente de ardência e a vontade de urinar a todo instante, em vez de ficar achando que vai melhorar e, assim, retardando o diagnóstico”, alerta Dr. Valdir, lembrando que mais de 80% dos casos de câncer também apresentam sangue ao urinar.

70% dos casos de câncer de bexiga no Brasil têm relação com o tabagismo

A importância do check-up

A pesquisa do Icesp revelou ainda que metade dos pacientes com câncer de bexiga inicia o tratamento após um diagnóstico tardio, quando a doença já tinha atingido estágios mais avançados. “A semelhança dos sintomas entre o câncer de bexiga, a infecção urinária, pedra na bexiga ou próstata inchada (nos homens) é um complicador que pode dificultar o diagnóstico correto”, enfatiza o especialista.

A grande vantagem de se detectar a doença no início é que o tratamento pode ser feito por meio de injeções ou cirurgia videoendoscópica, através do canal urinário, opções menos invasivas para a eliminação ou retirada do tumor. “Isso é possível somente quando o tumor é superficial, ou seja, não apresenta uma raiz mais profunda na musculatura da bexiga”, explica Dr. Valdir. A probabilidade de cura dependerá do estágio do câncer (superficial ou invasivo), da idade e saúde geral do paciente.

O câncer de bexiga da dona de casa Josefina Zetola Chiaretto, de 93 anos, foi diagnosticado um ano depois que ela apresentou sangue na urina. “Quando apareceu esse sintoma, consultei um urologista e fiz todos os exames, mas os resultados foram negativos. Somente depois que fui encaminhada a um oncologista, descobri a doença e fui tratada”, relata a paciente. Isso aconteceu há mais de um ano e, após fazer algumas sessões de quimioterapia, Josefina está curada. “Não senti nenhuma dor, os efeitos do tratamento são suportáveis e hoje tenho uma vida perfeitamente normal. Passeio, viajo; minha qualidade de vida é 100%”, comemora.

Diagnóstico e tratamento

Pacientes do sexo masculino são os mais afetados pelo câncer de bexiga: para cada mulher diagnosticada, existem três homens com a doença. O levantamento do Icesp revelou que há prevalência da doença em duas profissões: motoristas e profissionais que lidam diretamente com produtos químicos.

No caso dos motoristas, suspeita-se que a alta incidência de câncer de bexiga tenha relação com a baixa frequência com que vão ao banheiro e com a menor ingestão de líquidos. Já no que diz respeito aos profissionais que lidam com produtos químicos, a exposição prolongada (mais de 10 anos) causa um fenômeno irritativo sobre as vias urinárias, resultando no câncer.

O diagnóstico do câncer de bexiga pode ser feito por exames de urina e de imagem, como a tomografia computadorizada e a citoscopia, uma investigação interna da bexiga por meio de um instrumento com câmera. Nesta, podem ser retiradas células para biópsia e até mesmo todo o tumor.

As opções de tratamento vão depender do grau de evolução da doença. Entretanto, o câncer de bexiga é frequentemente tratado com imunoterapia, em que um medicamento faz com que o próprio sistema imunológico do paciente ataque e mate as células cancerosas. “Geralmente, a imunoterapia para tratar o câncer de bexiga é realizada usando a vacina BCG (Bacille Calmette-Guérin), que é levada ao interior da bexiga por meio de um cateter”, explica Dr. Valdir.

Para casos mais avançados, existem três tipos de cirurgia: a ressecção transuretral, quando o médico remove todo o tumor durante a citoscopia; a cistotectomia segmentada, que é a retirada de uma parte da bexiga; e a cistotectomia radical, que é a remoção completa do órgão. Após a remoção total do tumor, ou mesmo antes da remoção completa da bexiga, o médico pode também administrar quimioterapia, para eliminar células cancerosas que possam estar circulando na corrente sanguínea, e/ou a radioterapia, que pode ser externa ou interna (introduzida no organismo por injeções ou sementes radioativas). “A quimioterapia pode ser sistêmica, ingerida na forma de medicamentos ou injetada na veia, ou intravesical, aplicada diretamente na bexiga através de um tubo introduzido pela uretra. O tratamento adequado vai depender da idade, do estado de saúde do paciente e do estágio em que se encontra a doença. Há casos em que o paciente é curado sem a necessidade de cirurgia”, comenta o oncologista.

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