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Aneurisma, um assassino silencioso

Só em 2010 quase 7 mil pessoas morreram por causa da ruptura do aneurisma, no Brasil

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O aneurisma de aorta é uma doença silenciosa que acomete até 6% da população mundial acima de 60 anos e é resultado de uma dilatação localizada e permanente da aorta, a maior e principal artéria do organismo, que sai do coração, atravessa o tórax e o abdômen. A principal característica do mal é o enfraquecimento da parede arterial ou de uma sobrecarga sobre ela. A dilatação é considerada aneurisma quando é maior do que 50% do seu diâmetro normal, passando de 5,0–5,5 cm e tornando o risco de ruptura muito significativo. Se esse rompimento ocorrer pode levar à hemorragia grave e causar estado de choque, dor intensa nas costas, peito e abdômen. Infelizmente, na maioria das vezes, a morte súbita acontece antes da chegada ao hospital.

Não se sabe exatamente a causa do aneurisma de aorta em algumas pessoas. A dilatação pode ser ocasionada por uma fragilidade na parede da aorta, onde ela se incha. Existem motivos associados que podem ser considerados como fator agravante para o desenvolvimento da fraqueza dos vasos, como pressão alta, depósito de placa de gordura nas paredes das artérias, vida desregrada, pacientes fumantes, pacientes que abusam do uso de álcool, entre outros. Se o aneurisma é diagnosticado a tempo, existe tratamento; o convencional é uma cirurgia de grande porte, ao passo que o tratamento endovascular é uma técnica moderna, minimamente invasiva, que utiliza stents implantáveis, colocados da mesma forma que um cateterismo convencional, por pequenas incisões. Isso significa menos agressão ainda para o paciente e mais rápida recuperação. A novidade agora é a nova geração de stents de aorta, ainda mais efetivos.

Para falar mais sobre essa dilatação anormal do vaso sanguíneo e explicar o problema, que pode se tornar fatal, conversamos com o Dr. Alexander Ramajo Corvello, radiologista intervencionista do INRAD/ENDORAD, Instituto de Radiologia Vascular Intervencionista do Paraná:

 

REVISTA CORPORE: Doutor, como o senhor definiria a importância da aorta?

DR. CORVELLO: A aorta abdominal é a principal artéria do nosso corpo. Ela emerge do nosso coração e dá origem direta e/ou indiretamente a toda a circulação do nosso corpo. É como se fosse a principal rodovia. A BR-01. Mede de 17 a 25 mm de diâmetro e irriga o cérebro, os braços, as pernas e os órgãos, sendo a única exceção o pulmão.

 

O aneurisma de aorta é considerado uma doença silenciosa. A pessoa não tem nenhum sintoma?

R: A maioria das pessoas não têm sintomas e só um especialista consegue descobrir. Por isso é importantíssimo fazer exames periódicos. Se chegar a 50 mm de diâmetro possui indicação de tratamento. Normalmente, os aneurismas de aorta são assintomáticos. Mas o aneurisma, quando ele tende a expandir, pode causar dor súbita no tórax e abdômen. Em alguns casos, quando começam a rasgar, dissecar, a dor pode ser lancinante. O aneurisma pode causar desprendimento de coágulos, que podem causar obstrução de artérias. Ou podem se deslocar até o cérebro.
Fala-se muito em aneurisma de aorta abdominal e aneurisma no cérebro. Ele pode ocorrer em outras partes do corpo?
R: Sim, o aneurisma de aorta pode acontecer em qualquer parte do corpo, principalmente cérebro, artérias do rim, artérias da perna, pulmão, intestino, com igual risco e igualmente importantes.

 

A incidência de aneurisma de aorta é mais comum em pacientes com que idade? Existem fatores de risco? A hereditariedade é um dos fatores de risco para desenvolver a doença?

R: Existe uma tendência familiar a doenças vasculares, mas não significa que quem não tem caso na família não vá ter um aneurisma. Algumas doenças podem ocasionar o aneurisma, como a displasia fibromuscular, uma condição que nasce com o paciente e que é uma alteração da camada muscular da parede da artéria. E, claro, os fatores associados que predispõem a pessoa ao aneurisma: cigarro, alimentação gordurosa, vida desregrada e sedentária, pressão alta, idade geralmente a partir de 45 anos, álcool… Eu posso dizer que a combinação bebida + cigarro + vida sedentária + gordura é igual ao coquetel molotov das artérias. Ficar longe do cigarro, controlar a alimentação e fazer exercícios físicos regularmente ajuda a reduzir a chance de formação de aneurisma, mas, na prática, não existe uma forma de prevenção.

 

Tratamento

Quais os tratamentos indicados?

R: Nem todos os aneurismas de aorta necessitam de cirurgia. Se o médico sentir que existe um risco de o aneurisma romper, ele poderá recomendar um entre os dois métodos de reparo de aneurisma: reparo cirúrgico aberto ou tratamento endovascular. Esse último muito menos agressivo, e o tempo de recuperação é em média de dois dias de internamento.
Como funciona o tratamento endovascular?

R: O procedimento consiste no implante de uma fina malha tubular autoexpansiva recoberta de um tecido impermeável por dentro da aorta. Que envolve o aneurisma e evita a ruptura da aorta e pode até diminuir o excesso de dilatação. Isso impede que a aorta se rompa e que o paciente morra em questões de minuto. A endoprótese pode ser utilizada em todo paciente que tenha condições anatômicas para a realização desse procedimento, independentemente da idade. O material está em constante evolução e possui vantagens sobre a técnica convencional. Esse tipo de stent é especial, diferente do stent coronário normal.

 

Que profissional da área de saúde pode realizar o tratamento endovascular?

R: A radiologia vascular intervencionista só pode ser realizada por médicos radiologistas e cirurgiões com formação específica em Radiologia Intervencionista e por especialistas em Cirurgia Endovascular. Esses têm adequado certificado para realizar o procedimento e formação específica de Residência Médica.

 

Radiologia intervencionista

O que é, para que serve e como funciona a radiologia intervencionista?

R: É uma especialidade médica que, através de tubos finíssimos (cateteres), guiados por aparelhos de imagens, equipamentos de Raio X, ecografia e tomografia, consegue atuar no interior de nosso corpo. A ideia é tratar por meio de métodos não cirúrgicos, por cateterismo, o que chamamos de método percutâneo, através da pele, pelas veias e artérias, com aparelhos de altíssima tecnologia, que guiam o profissional. Isso é feito através de incisões de dois a três milímetros, por onde se introduzem diversos tipos de cateteres para tratar várias patologias. Os profissionais são normalmente médicos radiologistas ou cirurgiões que fazem dois anos de Residência em centros de formação de profissionais reconhecidos pela Sociedade Brasileira de Radiologia Intervencionista – SOBRICE. Após o término da Residência, o candidato é submetido a uma prova específica para receber a titularidade de Radiologista Intervencionista. Essa especialidade pode ajudar no tratamento de diversos tipos de problemas, de forma segura e com menos riscos, comparando-se aos diversos procedimentos tradicionais. Miomas uterinos, aneurismas, tumores e até cânceres de fígado são possíveis de serem tratados com a especialidade, que oferece suporte a diversas áreas da medicina, como na oncologia, doenças vasculares, neurologia, gastro, urologia, entre outras. As principais vantagens da radiologia intervencionista estão no menor risco para o paciente, por não ter pontos ou grandes incisões, na rapidez da recuperação e no curto período de internamento, quando necessário, pois em muitos casos o paciente é liberado no mesmo dia ou no dia seguinte ao procedimento realizado.

 

O aneurisma é uma doença grave, principalmente por ser assintomático. Qual a melhor forma de descobrir enquanto possui tratamento?

R: O rompimento de um aneurisma, na grande maioria dos casos, é emergencial, com risco de vida iminente, mas que pode ser evitado se tratado previamente. Para isso, o conselho é procurar um médico radiologista vascular intervencionista ou o angiologista, para fazer exames cabíveis e obter um diagnóstico precoce. A medicina moderna mais que curativa, é preventiva.

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