Fisioterapia Uroginecofuncional

Vivendo a sexualidade

Alterações ligadas ao universo mais íntimo ainda são tabus!

Alterações e disfunções tanto sexuais quanto biomecânicas funcionais são comuns e elas ocorrem em grande escala, muito mais do que se imagina. Mulheres e homens procuram tratamento e o fazem com o objetivo de melhorar suas disfunções e alterações, sejam fisiológicas ou até mesmo estéticas, pois muitas podem evoluir para disfunções sexuais e biomecânicas. “No consultório a maioria dos relatos é funcional, de musculatura pélvica ou assoalho pélvico, o que pode desencadear um processo de limitações e dificuldades em vivenciar esse aspecto tão importante em nossas vidas, que é a sexualidade”, declara Dra. Cláudia Judachesci, fisioterapeuta, especialista em Uroginecologia, Clínica de Dor, mestre em Biotecnologia Industrial na área de saúde e responsável pela Clinicare em Curitiba.

Historicamente, o sexo era visto, por razões sociais e culturais, como algo ligado apenas à reprodução. Hoje, ele faz parte do cotidiano das pessoas e continuamente estudado e associado aos aspectos orgânicos e fatores biopsicossociais. Esses fatores ampliam a visão e envolvem uma análise psicológica da emoção, do humor, do comportamento, incluindo a bagagem genética, o tipo de ambiente que a pessoa está inserida e os contextos ligados à cultura, à família e às crenças, pois, juntos, esses aspectos moldam a personalidade de cada indivíduo e a relação com sua sexualidade. “Consideramos que a sexualidade não é apenas a atividade sexual ligada ao prazer, ela depende do funcionamento e da biomecânica de toda a estrutura do assoalho pélvico e do aparelho genital, onde se engloba toda uma série de excitações e de autoconhecimento que adquirimos ao longo da vida, desde a infância, de maneira pura e natural. O modo como praticamos essa sexualidade hoje tem relação com todos os fatores biopsicossociais de cada ser, que são os componentes da construção da forma normal do amor sexual”, revela Dra. Cláudia.

A sociedade hoje está em uma nova era, período em que todos procuram saúde, bem-estar, beleza e um estilo de vida que nos conduzam à longevidade com qualidade, satisfação e prazer. A necessidade de unir esses aspectos caminha com a evolução e a capacidade de se criar e mudar os hábitos de vida. Toda essa busca visa obter no presente um resgate da qualidade funcional do organismo, objetivando envelhecer e atingir a idade madura com maior conforto e controle funcional, em todos os aspectos, inclusive o sexual. “Por isso a importância de abordar o assunto”, destaca.
Nas mulheres a incidência das disfunções é muito maior do que a dos homens, pois está associada a fatores como menopausa, características genéticas hereditárias, reflexos de outras patologias e até influências gestacionais. A incontinência urinária (perda involuntária da urina), a diminuição da lubrificação, a flacidez, a falta de sensibilidade e a baixa libido são os distúrbios mais relatados nos consultórios dos ginecologistas ligados as disfunções do assoalho pélvico.

“O assoalho pélvico é um grupo de músculos, auxiliados por tecidos, ligamentos e fáscias que fazem a sustentação de órgãos como bexiga, útero e ovários; além de ser um grande responsável pela saúde sexual. O enfraquecimento de uma musculatura ou de todo o grupo muscular propicia as disfunções”, revela Dra. Viviane Wallbach, fisioterapeuta especialista em Uroginegologia e também atuante na Clinicare.

O envelhecimento é o fator que mais contribui, pois ele é um processo biológico natural e dinâmico que ocorre gradativamente; os tecidos passam por mudanças de acordo com a idade, em que o assoalho pélvico é afetado também. “Ocorre um conjunto de modificações fisiológicas inevitáveis, principalmente após a menopausa. Essas alterações são normais da idade, porém – se associadas a outras disfunções, agentes agressivos ou patologias sistêmicas – sua ação se agrava. Um exemplo disso são as alterações na bexiga, a hiperatividade e a incontinência, que podem ser agravadas quando associadas à fraqueza muscular do assoalho”, enfatiza Dra. Cláudia.

A necessidade de exames

Muitas alterações se encontram confirmadas através de exames como a urodinâmica, solicitada pelo médico de confiança do paciente, que é encaminhado para tratamento com o suporte da fisioterapia uroginecológica, pois o trabalho em conjunto atinge positivamente a recuperação.

Avaliação muscular

De acordo com a especialista, é preciso entender que o assoalho pélvico é uma musculatura, porém ela não é trabalhada e estimulada, por mais que as pessoas sejam orientadas. Dra. Cláudia nos explica que ele é todo um entrelace de músculos em forma de leque e que essas musculaturas são distintas, com espessuras e funções diferenciadas que precisam ser trabalhadas de forma interna e global.

A avaliação muscular fisioterapêutica é feita por eletromiografia, um aparelho de Biofeedback que, através de uma sonda, mensura graficamente a força exercida pelo grupo muscular do períneo.

“Através desses testes musculares conseguimos avaliar e comparar os resultados com as queixas dos pacientes, confirmando muitas vezes os exames solicitados pelo médico, bem como seus relatos”, explica Dra. Viviane.

Tratamento com visão multidisciplinar

No tratamento é utilizado o mesmo aparelho de eletroestimulação, porém na reabilitação são aplicados protocolos específicos para gerar estímulos, contrações e levar a consciência do controle muscular, tudo através de exercícios que restauram a força e as funções.

“É preciso fortalecer, recuperar e prevenir esses prolapsos, que podem enfraquecer as estruturas e prejudicar outros órgãos, além da bexiga, útero, e intestino”, ressalta Dra. Cláudia. A fisioterapeuta desenvolve um trabalho em conjunto com médicos há 12 anos, esclarecendo, tratando e acompanhando a evolução dos pacientes. “Prefiro atuar sempre com o aval do profissional, seja ginecologista ou urologista; até casos de indicação cirúrgica eles encaminham para um trabalho pré-operatório, pois a técnica consegue agir nas fibras musculares, aumentar a oxigenação dos tecidos, a irrigação sanguínea e a nutrição de todo o assoalho pélvico. O trabalho no pós-operatório também é essencial para complementar e aumentar a longevidade dos resultados cirúrgicos”, revela a fisioterapeuta.
De acordo com a especialista, a maioria das queixas são resolvidas e o número de sessões é conforme o caso clínico. Dra. Cláudia destaca a importância de estudar cada caso, seus gráficos, e mostrar para o paciente o que está acontecendo. “Assim identificamos, semana a semana, a evolução”.

Gestantes

“É importante termos a consciência da necessidade de prevenir. Na França, que é o berço da fisioterapia uroginecológica, as gestantes passam pela terapia antes e após o parto”, destaca. A incidência de parto natural lá é enorme, praticamente 80%, e os estudos revelam que, de fato, a gestação afeta o assoalho pélvico.

“Independente se o parto for natural ou por cesariana, é a gestação em si que pode afetar e sensibilizar as estruturas osteomusculares. Dessa forma, a fisioterapia na gestação colocará o corpo em uma consciência muscular, em estado de equilíbrio, com condições de desenvolver uma estrutura pélvica presente no esquema corporal. Trabalhamos com a prevenção, conscientização e fortalecimento do assoalho na gestação, que deve ser encarada sempre como um dos momentos mais belos da vida”, enfatiza.

Estética genital

A radiofrequência vai além de revitalizar os tecidos íntimos, restaura e melhora a flacidez da pele, estimula o colágeno e aumenta a irrigação sanguínea. Também restaura as estruturas internas, o controle muscular, a sensibilidade e resgata a autoestima sexual com segurança.

O aparelho emite energia eletromagnética que estimula controladamente a circulação nos tecidos, traz um incremento na oxigenação, na hidratação e formação do colágeno. “Isso é, ele gera uma neocolagênese que estimula os fibroblastos e a produção de colágeno, o que proporciona um preenchimento natural já nas primeiras sessões”, revela Dra. Cláudia.

A radiofrequência é consagrada na área saúde como um procedimento seguro. É uma técnica, amplamente difundida, utilizada para tratar várias patologias, mas se destaca quando o tratamento tem finalidade estética e íntima. Deve ser aplicada somente por profissionais capacitados e habilitados.

Relato

“Há três anos faço sessões visando à melhora e à manutenção da qualidade funcional e estética da região íntima. Os procedimentos e tecnologias utilizados permitiram essa qualidade na força da musculatura interna, bem como resultados estéticos que têm sido fundamentais para minha autoestima. Mas não bastam bons aparelhos, a qualificação e a competência do profissional é o que conta”, revela G.S.* de 53 anos, professora universitária.

*O nome foi abreviado a pedido da depoente.

Temos muito a fazer

Sabemos a importância dos exercícios físicos para o bem-estar, fortalecimento dos músculos, condicionamento, melhora do metabolismo, proteção dos ossos e articulações.

Os músculos mais profundos como os do assoalho pélvico precisam ser igualmente trabalhados e exercitados para não perder a força e sensibilidade; bem como o controle, que, afinal, é responsável pela sustentação de vários órgãos, pelo controle urinário e fecal, e ainda contribui para a qualidade nas relações sexuais. Motivos de sobra para colocar essa região para trabalhar!

+ Saiba mais