Avanços da Medicina

Uma questão de PESO

Hábitos da vida moderna elevam ainda mais o número de obesos. Hoje, metade da populaçãobrasileira está de mal com a balança

uma-questao-de-peso+milton-ogawa

Só quem está acima do peso sabe e conhece a dificuldade que é emagrecer e voltar a se sentir bem. Quando ficamos de mal com a balança, a autoestima despenca e a vontade de fazer as atividades cotidianas desaparece quase que totalmente. Era bem assim que estava a vida de Juliana Vieira Silva, de 33 anos, até o ano passado. “Era como se eu não estivesse vivendo, estava esperando emagrecer para começar a viver de novo em todos os sentidos. Tinha vergonha de sair de casa, minhas amigas são todas magrinhas e estar perto delas parecia que eu estava ainda mais gorda”, recorda a dona de casa.

Foram mais de 10 longos anos tentando perder peso. Juliana conta que era magrinha, praticava basquete e atletismo até os 17 anos. Foi quando parou com os exercícios e continuou comendo como atleta. Daí para frente, quilo a quilo, ela viu a balança chegar aos 105 Kg “Tentei vários regimes, daqueles doidos, o da lua, do sol, o que só come carne e o que não come carne. Fiz de tudo, mas nada adiantava”.

Até que no ano passado ela conseguiu fazer a cirurgia de redução de estômago e agora celebra a perda de 42 Kg. “A verdade é que eu resgatei a minha vida. E hoje posso comer de tudo, segui direitinho as instruções da equipe médica e não tenho restrição a alimento algum. Como na quantidade certa, sem exageros”, conta.

A decisão de emagrecer teve todo o apoio e recomendação médica. “Eu queria engravidar de novo e estava muito acima do peso. A cirurgia foi uma sugestão da minha própria ginecologista”, diz Juliana, que aguarda até maio de 2011 para tentar engravidar e realizar o sonho de ter o segundo filho. Ela já é mãe de uma menina de 5 anos.

O caso de Juliana não é isolado. A obesidade é considerada hoje uma doença perigosa que vem crescendo ano a ano. O que na década de 70 atingia apenas uma pequena faixa da população brasileira, agora se multiplicou. Metade dos brasileiros está com sobrepeso, e essa não é uma afirmação sem embasamento, mas diagnosticada por uma pesquisa realizada em 2008-2009 pelo IBGE em parceria com o Ministério da Saúde. “A obesidade atualmente é considerada uma doença multifatorial, uma epidemia”, afirma o médico gastroenterologista Dr. Milton Ogawa.

A declaração é um alerta vermelho para os hábitos da vida moderna. Quem tem mais de 30 anos com certeza se lembra que era preciso levantar do sofá para mudar o canal da TV, os carros não tinham vidros elétricos, os elevadores eram escassos. Já no século XXI, tudo se resume a meros botões. Para ir à padaria, mesmo que a distância seja de dois quarteirões, optamos pelos veículos motorizados. Na hora de se alimentar, as frituras entram no lugar das

frutas, legumes são trocados por lanches, arroz com feijão são substituídos pelo pastel com refrigerante. Resultado: comemos mais calorias e gastamos menos energia que há duas, três décadas.

“A obesidade até tem influência da genética, mas ela tem muito mais a ver com os hábitos. Tudo é fácil hoje, para qualquer coisa há controle remoto, os alimentos já vem prontos, não precisam mais ser preparados”, compara Dr. Ogawa, que atua na Gastroclínica em Londrina. Nesse ritmo, o número de obesos só tende a crescer, inclusive em crianças. A pesquisa do IBGE relata que em 1974, 18,4% da população acima dos 20 anos estava com sobrepeso, percentual que subiu para 49% na pesquisa recente. A região Sul foi a campeã em obesos, atingindo 56,8% dos homens.

Para avaliar se a pessoa está ou não com peso inadequado, os médicos usam a fórmula do IMC (índice de massa corpórea), onde se divide o peso pela altura elevada ao quadrado. Se o valor ficar entre 20 e 25, o peso é considerado normal; de 25 a 30, já existe sobrepeso; de 30 a 35, é

obesidade grau I; de 35 a 40, obesidade grau II; acima disso, obesidade mórbida. “Quem está acima do peso já precisa ficar alerta porque a doença chamada obesidade pode aparecer e é grave”, avisa o especialista.

Dr. Ogawa ressalta que o excesso de peso é extremamente nocivo para o organismo, pois compromete o funcionamento dos órgãos. O coração chega a trabalhar acima do normal, aumentando os riscos de infarto, hipertenção e insuficiência cardíaca. O sistema pulmonar sofre uma restrição na caixa torácica. Problemas circulatórios se intensificam e com eles aumentam as chances de obstrução dos vasos, levando a derrames, e as varizes aparecem com maior frequência. No campo da ortopedia, o paciente tem mais chance de desgastes nas articulações, além de lesão no menisco.

 

O Combate

Quem se encontra nessa situação precisa urgentemente se conscientizar, adotar novos hábitos e buscar ajuda profissional. Viver com qualidade implica em cuidar do próprio corpo. Dr. Milton explica que no sobrepeso e na obesidade de grau I, a primeira indicação é realizar o tratamento clínico que inclui a prática de atividades físicas e orientação nutricional. Para quem está com IMC acima de 35 e tem doenças associadas, como diabetes, hipertensão e problemas no coração, as cirurgias já começam a ser indicadas, como o melhor caminho.

 

Cálculo do IMC

IMC = Peso em kg / Alt (m) x Alt (m)

 

Com o desenvolvimento da tecnologia, a medicina oferece diferentes opções para cada necessidade.  Segundo Dr. Ogawa,  o balão intragástrico é uma das opções menos invasivas. “Inicialmente, essa técnica foi idealizada para funcionar como preparatório de cirurgias em grandes obesos. Ou eles iam para um Spa para perder um pouco do peso, ou se colocava o balão. Como este apresentava resultado e a pessoa emagrecia entre 10 e 12% do peso, começou-se a usá-lo também em quem queria perder menos peso”, detalha o cirurgião.

Dr. Ogawa ressalta que essa cirurgia só tem sucesso com o empenho do paciente. “O balão sofre a ação do ácido no estômago e por isso tem vida média de seis meses, o que é considerado pouco tempo para mudar hábitos de vida. Assim grande parte dos pacientes volta a ganhar peso quando tira o balão, por isso, o suces-so do tratamento depende das mudanças de hábito que o paciente consegue adquirir nesse tempo”. Segundo o médico, a técnica é extremamente eficaz para quem viu o peso subir na balança por situações adversas, como gestação, ex-fumantes e praticantes de atividades físicas que tiveram que parar os exercícios por lesões. “O objetivo é fazer com que a pessoa não perca o contato com a normalidade do peso dela. Se pesava 60 quilos antes da gravidez não deve se acomodar com 70”, exemplifica.

Para quem deseja perder mais peso, a técnica da banda gástrica ajustável vem ganhando adeptos. Com ela é possível perder até 25% do peso corporal através de um procedimento pouco agressivo e que até hoje tem 0% de mortalidade. A cirurgia é feita por videolaparoscopia e a prótese em formato de anel fica fixada na parte superior do estômago, o que restringe a recepção de alimentos. Assim, a pessoa ingere pouca quantidade de comida e fica satisfeita mais rapidamente. Além disso, por não haver cortes ou grampeamentos no estômago, a banda gástrica ajustável é um tratamento reversível.

A cirurgia de redução do estômago é outra opção para quem precisa reduzir, e muito, os quilos. Com ela é possível diminuir em até 40% o peso corporal. Dr. Ogawa afirma que hoje esse procedimento evoluiu e é realizado por vídeo. Na cirurgia, o estômago é grampeado na sua porção superior formando um pequeno reservatório gástrico, o qual é conectado ao intestino fino a 1,5 metro de seu início, fazendo-se uma reconstrução em formato ´y´ (Y de Rouxe).

Como temos aproximadamente 4,5 metros de intestino fino ainda nos restam cerca de 3 metros para absorção.  A pessoa ingere menos comida porque o estômago está menor, e absorve menos porque o intestino fino também está menor”, detalha o médico.

Com vasta experiência clínica, Dr. Ogawa diz que cada vez mais enxerga que é necessário ajudar pessoas que não conseguem emagrecer. “Temos considerado a dificuldade delas em perder peso, muitas já tentaram de tudo, mas não conseguem resultados. Por isso, há opções cirúrgicas menos drásticas que podem evitar as cirurgias mais severas em pacientes que estão com obesidade grau I ou II”, explica o médico.

Pessoas como Juliana estão voltando a sorrir. “A disposição é outra, você consegue ter uma vida normal de novo. Fiquei gorda uns 10 anos e usando as mesmas roupas, horrível. Depois que emagreci joguei tudo fora e comprei tudo novo. Eu resgatei a minha vida”, conclui a dona de casa.

+ Saiba mais