Avanços da Medicina

Um empurrãozinho à mãe natureza

Já se passaram mais de 30 anos desde que nasceu o primeiro bebê de proveta. De lá para cá, muitos foram os avanços que permitiram a milhões de casais, no mundo inteiro, o acesso à realização de um sonho

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Ter um filho, hoje, é uma decisão que requer muita responsabilidade e coragem. A carreira, a busca por uma estabilidade financeira e muitos fatores acabam adiando cada vez mais essa vontade. No entanto, chega um momento em que a maioria dos casais impreterivelmente resolve ter filhos, e já é comum vermos mulheres de 38, 39 e 40 anos sendo mães pela primeira vez.

Assim que surge o desejo de engravidar, as mulheres costumam ir ao médico, ao ginecologista, fazem um check-up e simplesmente param com os métodos anticoncepcionais. Mas, quando nada acontece, a ansiedade aumenta a cada mês e a frustração é inevitável.

Acreditando que a natureza tem seu tempo certo, os casais devem aguardar pelo menos um ano, caso a esposa tenha menos de 37 anos, e seis meses, se estiver acima dessa faixa etária, tempo recomendado pelos especialistas. Passado isso, é preciso investigar possíveis problemas de infertilidade.

Há 30 anos, os anseios por ter um filho acabavam nesses casos em que a concepção não acontecia por via natural. Muitos casais se resignavam, à espera de um milagre, ou partiam para a adoção. Hoje, o momento é de procurar a ajuda especializada de especialistas em reprodução humana e dar um empurrãozinho à mãe natureza.

Desde 1978, quando nasceu a inglesa Louise Brown, o primeiro bebê de proveta, a medicina reprodutiva deu saltos gigantescos. Milhões de crianças em todo o mundo foram geradas por fertilização in vitro (na qual os óvulos são fecundados em laboratório). A professora Vivian Letícia Busnardo Marques, de 40 anos, e a diretora financeira Joelly Michelle Soares Alessi, de 30, são dois exemplos de mulheres que se beneficiaram com a técnica.

Elas procuraram a ajuda de um centro de reprodução humana e logo puderam comemorar. Vivian é mãe do casal de gêmeos Victor e Sophia, de quatro meses, e Joelly está esperando Antonia, prevista para vir ao mundo em julho de 2013.

“Eu não sabia que a partir dos 35 anos as chances de engravidar diminuíam bastante. Casei com 32 e, quando vi que estava me aproximando dos 40, resolvi procurar ajuda”, conta Vivian. Depois de muitos exames, ela e o marido, Carlos Alberto, optaram pela fertilização. Foram retirados 17 óvulos, e o médico conseguiu produzir 12 embriões. Em um primeiro momento, três foram implantados em Vivian, mas a tentativa não deu certo. Depois, mais três embriões foram colocados no útero da professora. Destes, dois fecundaram e nasceram os gêmeos. “É maravilhoso ser mãe, estou completamente realizada. São meus presentes de Deus”, diz emocionada.

“Quem define o número máximo de embriões a serem transferidos é o Conselho Federal de Medicina”, explica Dr. Marcelo Gomes Cequinel, médico com especialização em Reprodução Humana na Itália, membro da American Society of Reproductive Medicine e diretor clínico do Embryo Centro de Reprodução Humana. “A recomendação dependerá da idade da paciente, não podendo ser superior a quatro. A norma determina que mulheres de até 35 anos podem implantar até dois embriões; de 36 a 39 anos, até três; acima de 40, no máximo quatro”, diz.

O especialista explica que devido à melhora da preservação da qualidade dos embriões, graças à técnica da criopreservação, hoje são implantados menos embriões nas mulheres, o que reduziu a quantidade de grávidas que espera gêmeos e trigêmeos. “Há oito anos não presenciamos uma mulher com trigêmeos aqui no Embryo”, fala Dr. Marcelo, ressaltando o avanço na técnica de congelamento, que permite ainda preservar embriões com qualidade para as futuras gerações.

 

Curiosidades

O número de bebês nascidos por técnicas de reprodução assistida no mundo atingiu um total de 5 milhões em 2012, segundo a Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE, na sigla em inglês).

Dados do Comitê Internacional para Monitoramento de Tecnologias de Reprodução Assistida (ICMART, na sigla em inglês) revelam que 1,5 milhão de ciclos são feitos por ano em todo o mundo, produzindo cerca de 350 mil bebês. E o número continua a subir, principalmente nos EUA, no Japão e na Europa, o continente mais ativo do planeta nesse quesito.

As taxas de sucesso a partir de um único ciclo de tratamento ficam em cerca de 35% em média, segundo dados relativos a 2008, flutuando para mais ou para menos dependendo da idade da paciente e da causa da infertilidade. A tendência de trigêmeos caiu para abaixo de 1% e a de gêmeos, para quase 20%.

Foi criado em 2006 o programa Acesso no Brasil, subsidiado por laboratórios, que possibilita um desconto de até 50% na medicação, taxas, procedimentos médicos para casais que se enquadrem nas normas do programa.

Maiores informações em www.probem.med.br ou 0800 771 2566.

A técnica de congelamento

A criopreservação é realizada quando há produção de mais embriões do que o necessário para a transferência. Apenas aqueles de boa qualidade têm maior chance de sobrevivência. Os embriões excedentes são colocados em uma solução especial, com uma substância chamada crioprotetor, que evita que sejam danificados com o frio excessivo; são, então, estocados em botijões de nitrogênio líquido, onde a temperatura chega a 196°C negativos.

O congelamento de embriões permite que os casais que venham a querer uma nova gestação tenham uma despesa menor para este novo procedimento. A técnica traz ainda mais segurança para a reprodução assistida, e é imprescindível para as próximas tentativas de implantação, caso a primeira não se efetive. Isso porque a paciente não é submetida novamente ao mesmo procedimento invasivo.

As melhorias nos procedimentos de congelamento de embriões também favorecem muitos pacientes que vão passar por tratamentos oncológicos, quimioterapia e radioterapias. Esses pacientes, quando em idade fértil, precisam esperar o tratamento terminar para poder engravidar, e as chances tornam-se ainda mais reduzidas. Fertilizar e preservar o embrião antes do tratamento oncológico tem trazido mais esperanças para casais que querem gerar um filho saudável no futuro.

No momento do descongelamento dos embriões é preciso preparar o útero para recebê-los, utilizando hormônios que imitam as condições naturais do organismo, como estrogênio e progesterona vaginal, com bons resultados e a um custo mais acessível. “O congelamento não é o objetivo, é apenas uma ferramenta importante para mais uma tentativa de fertilização no futuro”, ressalta Dr. Cesar Augusto Cornel, especialista em Reprodução Humana com formação no Hospital Antoine Beclere – França , diretor  do Embryo, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana e professor responsável pelo Serviço de Reprodução Humana na Universidade Federal do Paraná.

Joelly e o marido Heitor Alessi ainda possuem três embriões congelados. “Pretendo ter um segundo filho, por isso optei pela criopreservação”, diz Joelly. Ela conta que tentou engravidar durante três anos, sem sucesso, até que decidiu procurar ajuda especializada. Em 2011, fez uma inseminação artificial, mas não deu certo. “Ia fazer uma segunda inseminação, mas fomos orientados a realizar a fertilização. E o fruto disso tudo está crescendo saudável dentro de mim. Apesar de todo o desgaste físico e psicológico, valeu muito a pena”, destaca.

Joelly ressalta que o atendimento e o cuidado de toda a equipe fizeram a diferença. “O relacionamento vai muito além de médico e paciente. A gente realmente fica muito próximo e recebe uma atenção toda especial”, completa.

Diversas técnicas de fertilização artificial – de baixa e alta complexidades – facilitam a concretização da gravidez. Quanto mais cedo o casal procurar ajuda, maiores serão as chances de obter sucesso.

Inseminação artificial X fertilização in vitro

Os métodos de reprodução assistida abrangem a inseminação artificial e a fertilização in vitro, conhecida popularmente como “bebê de proveta”. A inseminação artificial é quando os espermatozoides são introduzidos no aparelho genital feminino, enquanto a fertilização in vitro consiste na retirada dos óvulos e espermatozoides para uma fecundação externa.

 

A infertilidade

Define-se infertilidade conjugal como a ausência de gravidez após 12 meses de relações sexuais regulares sem uso de método anticoncepcional. Após um ano sem conseguir engravidar, o casal deve procurar assistência médica para uma avaliação adequada. Na faixa dos 35 anos, a chance de uma mulher engravidar naturalmente durante uma única relação é de 20%. Aos 40, esse número cai para 5%. Aos 45, ele beira 1%.

A infertilidade não é um problema raro e atinge cerca de 15% dos casais. As principais causas de infertilidade são:

Fatores femininos

  • Problemas na ovulação (fator ovulatório)
  • Alterações tubárias (fator tubário)
  • Alterações no útero (fator uterino)
  • Endometriose

Fatores masculinos

  • Problemas na formação, no transporte ou na ejaculação dos espermatozoides.
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