Bem Estar

Tratamento da dependência de álcool e outras drogas

A liberdade definitiva só é possível se a família também for apoiada e tratada dessa doença

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Quando as drogas invadem a vida de alguém, é certo que a família também sofrerá. O álcool e as substâncias tóxicas penetram no seio familiar, contaminando relações e rompendo laços. Porém, a desunião só empurra o dependente ainda mais em direção ao abismo. Para vencer a dependência, a chave é fortalecer a família e focar na saúde, não na doença.

As duas emocionantes histórias que você lerá a seguir são um exemplo de como a união, o apoio e o amor podem resgatar jovens promissores do buraco negro das drogas.

Pai & filha

Desde a adolescência, Renata*, hoje com 26 anos, procurava no álcool uma forma de relaxar e divertir-se. Na companhia de seus dois irmãos mais velhos, ela também descobriu a maconha. “Para mim, esse ambiente era natural. Eu não via problemas, até porque meus irmãos tinham vidas normais e tiravam boas notas”, conta ela.

À exceção dos irmãos, o contato com a família era mínimo. A jovem passava o dia no colégio e aproveitava a liberdade. Os pais só perceberam o problema quando Renata foi parar no hospital depois de usar drogas ilícitas. “A gente vê o filho irritado, sem vontade para nada, acordando tarde e acha que é irresponsabilidade, coisa de jovem. Não é. Quando esses sintomas aparecem, é preciso tomar uma atitude”, aconselha C., pai de Renata.

Atualmente, Renata está em tratamento na Clínica Cleuza Canan, referência internacional no tratamento e recuperação de dependentes químicos. Ela ficou cinco meses em processo de desintoxicação na própria clínica, em Piraquara, e há um ano e meio não tem recaídas. Mas não está sozinha: o pai a acompanhou em todos os momentos. “Eu me internei junto”: esta era a sensação que o pai sentia.

Luta diária

“Se ele não tivesse me apoiado, eu não estaria limpa”, diz Renata. Sua experiência a fez perceber como a ausência dos pais, a falta de regras e de diálogo facilitam a entrada dos jovens no mundo das drogas. Mãe de um menino de oito anos, cuja guarda ela acaba de reconquistar, Renata sabe que a sua presença é o melhor presente para o filho.

Um dos pontos mais importantes do tratamento da dependência química é aprender a lidar com o dependente. “Você precisa entender que ele tem uma doença. Eu achava que era irresponsabilidade dela, imaturidade. A demora em identificar e aceitar o problema só complica”, comenta o pai de Renata.

Não é um processo fácil. “De vez em quando, ainda sinto vontade. Evito até sair à noite”, diz Renata. Porém, consciente de sua condição, sua família procura estar sempre por perto, dando a força necessária para vencer a dependência. O pai de Renata reforça: “o tratamento precisa ser feito com toda a família. Não tem fórmula mágica. A família precisa se reorganizar”.

Caminho certo

“Fórmula mágica” realmente não existe, mas o caminho para a liberdade é certo: focar na saúde do dependente, não na sua doença. “Eles precisam reencontrar o prazer das coisas simples, de conviver com a família, de ter satisfação com o trabalho, estudo, amar e serem amados”, explica a psicóloga Cleuza Canan, que tem experiência clínica de 30 anos na recuperação de dependentes químicos e desenvolveu um método de tratamento efetivo que é referência.

“O sucesso da nossa linha de tratamento está em convencer a família que ela faz parte do tratamento e precisa participar”, enfatiza Cleuza. O método procura valorizar e resgatar os pontos positivos do dependente, revitalizar sua beleza interior, seu amor próprio, suas habilidades e reintegrá-lo socialmente. “Por meio de um treinamento comportamental e com o apoio da família, conseguimos a reinserção no convívio social”, diz a psicóloga, que trabalha com uma equipe de saúde multidisciplinar, com médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais.

O foco na saúde física, psicológica e espiritual do paciente é um dos diferenciais. A ideia é que ele adquira novas habilidades de enfrentamento da dependência. “Um dos pontos cruciais é mostrar ao paciente e à família que a dependência não é falta de caráter ou força de vontade, mas uma doença física, metabólica ou geneticamente herdada; cerebral, na ação química das drogas nos receptores; comportamental, na adaptação do estilo de vida controlado pelas drogas (adicto), do empobrecimento nos valores essenciais da vida, e espitirual.Porém, tudo pode ser interrompido com o fortalecimento do lado saudável para o resto da vida, vivendo um dia de cada vez . Faça certo que dá certo”, enfatiza Cleuza.

No Centro de Tratamento em Piraquara, o paciente participa de um programa de desintoxicação em regime de internação integral; na Clínica-Dia em Curitiba, o programa é de manutenção da abstinência. A participação da família e do paciente se dá em diferentes fases e níveis, com atividades de grupos terapêuticos: de pessoas que passam pelo mesmo problema e querem dividir suas histórias; do atendimento individual ou em grupo temático com psicólogo e psiquiatra; terapia ocupacional, entre outras que visam a reabilitação e o bem-estar do paciente e da família.

Amor de mãe

Aos sete anos de idade, o pequeno Manoel se divertia levando copos cheios para as festas dos vizinhos. Um dia, por curiosidade, ele decidiu provar aquela bebida. Nasceu aí uma dependência que o acompanhou ao longo de muitos anos. “Quando eu era criança, minha mãe trabalhava muito e viajava bastante. Todo sábado tinha festa e eu ia atrás do meu irmão mais velho. Um dia, ele comprou três ou quatro litros de bebida. Tomei tudo sozinho”, lembra Manoel Maciel Correia, hoje com 33 anos.

Com o passar dos anos, Manoel terminou o ensino médio, começou a trabalhar, arranjou uma namorada, começou a faculdade de Administração. Porém, a bebida já não o entretinha o suficiente. Vieram o cigarro, a maconha, a cocaína e, por último, o crack. “Eu não tinha consciência, era ingênuo, queria andar com gente descolada. Não tinha maldade”, conta.

A vida do jovem começou a ruir com a chegada do crack. Aos poucos, ele foi deixando de ir para a faculdade, viu o fim de três anos de namoro, faltava no trabalho. “Certa vez, assim que recebi o salário sumi por dois dias. Só voltei quando acabou o dinheiro”, relembra. O estágio logo acabou e, sem ele, Manoel trancou a faculdade.

A partir daí, ele não parou mais em emprego nenhum. “Não tinha mais vontade de fazer nada. Os anos de 2007 a 2009 foram os piores da minha vida”, afirma. Nessa época, ele vendeu livros, celular, relógio, tudo que podia para alimentar a dependência. “O pai dele era muito ausente e, para compensar, dava dinheiro. Isso facilitou o consumo”, explica a mãe de Manoel, Almira.

Envergonhado e desesperado, Manoel procurou todo tipo de ajuda, mas sempre acabava voltando. Em 2010, apoiado pela mãe, ele iniciou o tratamento na Clínica Cleuza Canan. Houve recaídas e, por um tempo, o rapaz desistiu de tudo; mas voltou e, há 10 meses sem cair já conquistou largos passos na reconstrução da sua vida.

Duas vezes por semana, Almira e Manoel vão à clínica-dia, em Curitiba, participar de trabalhos e terapias em grupo. “É uma equipe fantástica, tenho aprendido muito, me dá sustentação para lidar com a doença. Tenho que estar bem para poder ajudar”, diz Almira.

Hoje, Manoel cursa Culinária no Senac e faz estágio na área. A luta é diária, mas ele tem fé que, e com o apoio da mãe, da família e amigos, tudo vai dar certo. “Tenho que ser independente e reconquistar a minha vida”, finaliza.

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