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Sono bom zela pela sua saúde

A descoberta de distúrbios do sono através da polissonografia permite a prevenção e o tratamento de doenças que põem sua vida em risco

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Acordar irritado, cansado, com aquela sensação de fadiga e indisposição, são sinais de que você não dormiu bem. O problema de uma noite maldormida traz consequências não só para o dia seguinte, mas para a saúde e a vitalidade das pessoas. É que, muitas vezes, os distúrbios do sono não são identificados como a causa de diversos sintomas e doenças, e grande parte das pessoas nem sabem que sofrem desse mal. Você sabia que os distúrbios do sono – principalmente o ronco e a apneia obstrutiva do sono – podem ter relação direta com derrames cerebrais? Acidente vascular cerebral (AVC), doenças cardiovasculares, insuficiência pulmonar, transtorno de memória, obesidade, diabetes e problemas renais também estão associados aos distúrbios do sono. E em diversos casos essas moléstias poderiam ser evitadas se o diagnóstico certo fosse feito a tempo.
Foi o caso da aposentada Zara Botelho Ramon, 70 anos, embora sabia que roncava, desconhecia que apresentava uma apneia de grau avançado, pois mora sozinha. “Estava com refluxo e procurei um endocrinologista, que solicitou uma endoscopia. Mas, para realizar esse exame, precisava antes fazer um teste de esforço com o cardiologista. Nesse teste, descobri que eu tinha uma arritmia cardíaca, e aí buscando a causa disso cheguei à apneia obstrutiva do sono”, relata a paciente, que dormiu duas noites em uma clínica para fazer os exames que identificaram o problema. “Felizmente, fiz a polissonografia e tive a indicação ao uso do aparelho BiPAP, que insufla o ar pela via respiratória até os pulmões. Parava de respirar 36 vezes por hora, e hoje, quando não zero, tenho só duas pausas. Estou ótima e evitei uma parada cardíaca!”, comemora.

 

Males ao coração e ao cérebro

Além dos problemas cardiovasculares, comprovados como possíveis consequências dos distúrbios do sono, está cada vez mais evidente que os distúrbios do sono interferem também no campo cerebral. Estudos publicados no American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine, quatro anos atrás, já revelavam que a apneia do sono triplicava os riscos de derrame cerebral nos homens e que aumentava o risco de AVC nas mulheres com quadros graves de apneia. As pesquisas, realizadas pela Universidade Western Reserve, nos Estados Unidos, envolveram pessoas acima dos 40 anos de idade e que não tinham histórico de acidente vascular cerebral.
Na ocasião, os participantes foram acompanhados por cerca de nove anos e as conclusões dos pesquisadores, durante esse período, foram: 193 pessoas tiveram derrames, das quais eram 85 homens de 2.462 inscritos e 108 mulheres de 2.960 inscritas. Pesquisas apresentadas recentemente também evidenciam tais riscos. Um estudo russo apresentado na conferência Euro Heart Care 2015, da Sociedade Europeia de Cardiologia em Dubrovnik, na Croácia, revelou ainda que a simples presença de um distúrbio do sono dobra o risco de ataque cardíaco e aumenta em até quatro vezes o risco de AVC. Ou seja, dados atuais demonstram que o perigo elevou.
Esse estudo fez parte de um programa da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre monitoramento de tendências e determinantes na doença cardiovascular, envolvendo pacientes sem histórico de ataque cardíaco, acidente vascular cerebral ou diabetes, que foram observados ao longo de 14 anos. Os resultados demonstraram existir vínculo evidente entre a noite maldormida e a incidência dessas doenças. Além disso, cerca de 63% dos participantes que tiveram ataque cardíaco também apresentavam distúrbio do sono, e o risco de infarto do miocárdio foi mais que o dobro em homens com o distúrbio. “No último Congresso Brasileiro do Sono, realizado em novembro em Pernambuco, a relação da apneia obstrutiva do sono com o AVC foi um tema em evidência, o que reforça a importância do diagnóstico precoce para o tratamento e prevenção da apneia, antes que doenças mais graves apareçam”, alerta a médica neurofisiologista Dra. Olga Judith Hernández Fustes, que trata dos males do sono.

 

Para o bem da saúde

Já foram descritos mais de 100 distúrbios, mas a insônia, o ronco e a apneia do sono são os mais importantes. A apneia se caracteriza por paradas na respiração que acontecem acima de cinco vezes em uma hora, fazendo com que a pessoa acorde de modo repentino para retomar o ar. Desde alterações nas vias aéreas superiores e na posição da mandíbula, até a flacidez dos músculos da garganta, podem ser os fatores desencadeantes. O prejuízo maior é quando essas paradas respiratórias ultrapassam os 10 segundos e acontecem de 15-30 vezes por hora, caracterizando a apneia obstrutiva do sono, que pode até ser fatal.
Segundo a médica neurofisiologista, doenças como depressão, ansiedade, hipertensão arterial, diabetes, mal de Alzheimer e obesidade também são queixas muito comuns das pessoas que têm insônia. “O sono recupera o organismo depois de um dia inteiro de vigília. Quando isso não acontece, nosso corpo emite sinais de que algo está errado e, se não tomarmos uma atitude para mudar o quadro, doenças mais graves aparecerão”, alerta a especialista. “Dormir bem é tão importante para preservar a saúde, quanto ter uma alimentação saudável e praticar exercícios físicos regularmente. É o que nos dá disposição para enfrentar o novo dia”, completa Dra. Olga Judith.

 

Polissonografia faz o diagnóstico correto

A polissonografia é o exame indicado para o adequado diagnóstico dos distúrbios do sono. O paciente dorme uma noite na clínica, onde é monitorado por um aparelho que mede os indicadores do corpo humano. “Vários eletrodos são colocados no paciente para registrar atividade elétrica cerebral, cardíaca e respiratória, incluindo a sua movimentação enquanto dorme”, explica a médica. O paciente é observado por um técnico, que acompanha todos os seus sinais vitais. Hoje, já é até possível realizar esse exame em casa.
Para a paciente Zara, o exame foi tranquilo: “Fiz o exame em duas noites na clínica, sem problemas, e desde setembro uso aparelho. Em duas semanas já estava adaptada e hoje estou muito mais disposta, mais feliz, e a cada revisão do aparelho (leitura do chip) fica comprovado que melhorei minha condição respiratória enquanto durmo. Nesse início de ano, vou voltar ao cardiologista para saber das reais melhoras ao coração!”, enfatiza, satisfeita com os resultados.
Como ocorreu com Zara, depois de realizado o diagnóstico é feita a indicação do tratamento mais adequado a cada caso. “Todos os pacientes diagnosticados com apneia obstrutiva do sono, que aderiram ao tratamento, passaram a ter muito mais disposição e bom humor, além de reverterem quadros preocupantes de diversas patologias”, conclui a Dra. Olga Judith Hernández Fustes.

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