Avanços da Medicina

Reganho de peso: uma alternativa real

Novo tratamento minimamente invasivo, utilizando plasma de argônio endoscópico, permite que pacientes submetidos ao bypass gástrico superem o reganho de peso com rapidez e segurança

reganho-de-peso-uma-alternativa-real+gastrobeso

Perder peso é o desejo de qualquer pessoa saudável que ganhou uns “quilinhos” a mais. Imagine então para quem era obeso mórbido e se submeteu a uma cirurgia bariátrica: essa é a conquista de um sonho, que envolve um processo lento, demorado, de muito acompanhamento e adaptação, e que algumas vezes não é nada fácil. Cientes disso, esses pacientes obesos que tiveram indicação para a cirurgia têm grande expectativa em resgatar a saúde, a autoestima e a qualidade de vida através do emagrecimento. Entretanto, o reganho de peso um ou mais anos após a cirurgia tem se tornado uma realidade para mais de 10% dos operados, o que frustra todas as conquistas obtidas.

Geralmente, isto acontece pela falta de acompanhamento e, claro, pelos maus hábitos alimentares do paciente, como o consumo abusivo de doces e álcool, falta de atividade física, compulsão alimentar mal tratada ou não diagnosticada no pré-operatório e, por vezes, até pela escolha inadequada da técnica cirúrgica. No Brasil, são realizadas em média 60 mil cirurgias bariátricas por ano, sendo que 10% a 20% destes pacientes recuperam peso com o passar dos anos. Isto significa que cerca de 6 mil obesos operados voltam a engordar e a apresentar doenças associadas à obesidade, como diabetes, hipertensão arterial, dislipidemia (aumento do colesterol e triglicerídeos), apneia do sono, artropatias, sem falar na baixa autoestima e problemas psicológicos e psiquiátricos relacionados. O que fazer para resolver este reganho de peso, que compromete a saúde e o bem-estar das pessoas?

Uma iniciativa pioneira do Serviço de Endoscopia do Hospital Vita Batel – Endobatel, em Curitiba, vem disponibilizando uma nova modalidade de procedimento endoscópico, que visa diminuir o diâmetro da saída do estômago em pacientes já submetidos ao bypass gástrico, ou cirurgia de Capella, tornando-o novamente apto à perda de peso, com um controle e acompanhamento mais intensos. Trata-se da fulguração com argônio endoscópico, uma técnica que promove a termocoagulação (espécie de queimadura) da mucosa da anastomose gastrointestinal (costura entre o estômago novo e o intestino), resultando na sua retração. “Desta forma, o esvaziamento gástrico é retardado e a saciedade alimentar do paciente torna-se mais precoce”, afirmam os cirurgiões do aparelho digestivo e endoscopistas Dr. João Henrique F. Lima e Dr. Giorgio Baretta, que realizam o procedimento no Paraná.

A professora Bruna Coelho Vigiani, de 25 anos, é um exemplo da eficácia do tratamento. Obesa desde a infância, a paciente engordou ainda mais na adolescência, com a perda do pai. “Com isso, cheguei aos 130 kg, peso que tinha quando fiz a cirurgia bariátrica. Mas, na ocasião, não tive maturidade para assimilar todas as recomendações médicas e, embora tenha perdido 51 kg com a cirurgia, acabei engordando 20 kg”, relata a jovem. “Além da autoestima baixa, tive pressão alta e precisei levar uma bronca do cardiologista para me conscientizar  de que precisava emagrecer; foi quando conheci esta técnica com plasma de argônio, tive a indicação e fiz o procedimento, perdendo 25 kg”, completa a jovem, que diz ter sido tudo muito tranquilo. “Estou muito mais disposta, mais saudável e feliz, e hoje sei que a reeducação alimentar é fundamental para permanecer magra e saudável”, acentua.

 

Fulguração com argônio passo a passo

Antes de iniciar o tratamento, o paciente é submetido a uma anamnese, avaliação física e exames preliminares de sangue e endoscopia digestiva alta, para mensuração da região a ser tratada. Para realizar o procedimento, o paciente precisa estar em jejum absoluto de 12 horas. As etapas são as seguintes:

1. Sedação

É realizada por anestesista e com propofol endovenoso;

2. Número de sessões

Serão realizadas no mínimo três sessões, intervaladas de oito semanas entre si;

3. O efeito

Toda a circunferência da anastomose gastrojejunal será cauterizada e regenerada.

 

Vantagens da técnica

O procedimento com argônio endoscópico é minimamente invasivo e realizado em ambulatório, ou seja, o paciente recebe alta logo após despertar da sedação, voltando às suas atividades normais. São necessárias em torno de três a quatro sessões, com intervalo de oito semanas entre cada uma, sendo que o paciente é praticamente isento de riscos ou nova cirurgia. O procedimento apresenta baixo custo, apesar de ainda não estar disponível pelos planos de saúde, pode ser interrompido a qualquer momento e repetido, se houver necessidade, sem restrições.

A fulguração endoscópica com argônio também assegura melhor performance nos procedimentos endoscópicos e colonoscópicos. São utilizados 2 litros de argônio puro por minuto, a 90 w de potência, através de um catéter endoscópico. “Considerando que existem mais de 300 milhões de obesos em todo o mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), esta técnica é mais uma arma poderosa no vasto arsenal terapêutico disponível para o combate à reincidência da obesidade e doenças associadas”, enfatizam os especialistas.

A pediatra, dermatologista e médica do trabalho Maria Nazaré Lopes do Vale, de 59 anos, natural de Belém (PA), pesquisou sobre a nova técnica e veio a Curitiba para realizar o procedimento. “Desde os nove anos de idade lutava contra a obesidade, mas somente em 2002 resolvi fazer a cirurgia bariátrica na minha cidade de origem. A cirurgia deu certo por cerca de cinco anos. Quando operei tinha 116 kg, ficando com 78 kg. Mas depois voltei a ganhar muito peso, perdendo a autoestima e enfrentando todo tipo de preconceito”, conta a paciente, que fez quatro aplicações de argônio, com intervalos de dois meses cada, e perdeu 37 kg. “Foi um resgate de vida, pois estava cheia de limitações até para andar; hoje já posso usar salto novamente e até dançar!”, comemora.

De acordo com os médicos da Endobatel, o paciente deve saber que a perda de peso não depende unicamente do método. Ele deve praticar exercícios físicos e ter boa disciplina alimentar. Deve também regressar ao consultório médico, de acordo com cronograma estipulado pelos profissionais que irão acompanhá-lo, até finalizar o tratamento, seis meses após a primeira sessão. “Como consequência do tratamento, o mais provável é que o paciente perca uma quantidade considerável de peso. Esta perda irá melhorar sua saúde em geral, sua qualidade de vida, sua autoestima e prolongar sua expectativa de vida”, finaliza o médico.

Foi o que aconteceu com a médica veterinária Layla Velasco, de 29 anos, que desde a infância sofria com a obesidade e os olhares críticos das pessoas. “Quando fiz a cirurgia bariátrica dez anos atrás, eu pesava 116 kg. Com a cirurgia, fiquei com 70 kg, ou seja, havia perdido 47 kg. Depois de sete ou oito anos, estava pesando 98 kg, ou seja, havia engordado quase 20 kg”, relata a paciente, que não conseguiu seguir à risca hábitos de vida mais saudáveis. Somente depois do tratamento com plasma de argônio, o objetivo da jovem foi alcançado. “Depois desse tratamento, além de minha regurgitação noturna ter desaparecido, eu emagreci 21 kg! Minha autoestima está nas alturas; é uma alegria imensurável!”, festeja a paciente agradecida. “Hoje, tenho um personal trainer que me acompanha três vezes por semana na academia e tenho acompanhamento nutricional semanal. Penso que 90% da chance em ter sucesso neste tratamento está em nossas mãos, não podemos perder a oportunidade de voltarmos a ser felizes”, conclui.

+ Saiba mais