Avanços da Medicina

Quanto vale uma vida?

Dependerá da flexibilidade entre governo, operadoras de saúde, médicos e usuários

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Em março, a Revista Época publicou a história de um paciente de 29 anos diagnosticado com HPN (anemia crônica causada pela decomposição excessivamente rápida dos glóbulos vermelhos), que precisou entrar na justiça contra o governo de São Paulo para obter o medicamento Soliris (eculizumab), indispensável para mantê-lo vivo (leia mais no site da Época). Depois de muito sofrimento, como uma trombose e cirurgia para retirada do intestino, reflexos da HPN, hoje o rapaz recebe do SUS o tratamento que está sendo considerado o mais caro do mundo. Um vidrinho de 30 ml da medicação custa R$ 11 mil e ele precisa de três a cada 15 dias. A conta chega a R$ 800 mil por ano, pagos com o dinheiro público.

Situações como essa, levantada pela citada revista, colocam em debate o conflito entre o direito individual e o direito coletivo à saúde. No caso do Soliris, segundo a matéria, “a verba destinada à compra de um frasco seria suficiente para garantir milhares de doses de anti-hipertensivos e de outros medicamentos baratos que atingem a maior parte da população”.

De acordo com especialistas, o sistema que já tem suas falhas, desvios e má gestão, apresenta um maior desequilíbrio em função destas demandas judiciais. Isto diminui a qualidade de vida dos mais necessitados, que já não tem acesso à saúde e muito menos aos planos de saúde particulares. O maior desafio continua sendo manter o direito do paciente aos tratamentos adequados com menos custos ao Estado. Historicamente, as verbas são sempre limitadas e não sanam os problemas, e estes só vêm aumentando. Contudo, a saúde privada, paga, vem suprindo essa falha há décadas, mas atende apenas a uma parcela da população. E, dificilmente, continuará desempenhando  este papel, uma vez que sofre os mesmos sintomas governamentais: usuários insatisfeitos, ações judiciais para tratamentos caros, profissionais mal remunerados, consultas mal feitas e dificuldade financeira.

 

Isso tem a ver com você?

Tudo! Milhares de profissionais de saúde, médicos capacitados e especializados fazem greve, suspendem atendimento aos convênios e passam a realizar seus atendimentos de forma relâmpago. Isso se reflete em um serviço de péssima qualidade, bem diferente do que foi contratado e do que se teria gratuitamente dado pelo Estado. Assistir a uma população que deseja acesso de qualidade a saúde que oferece emergência, urgência clínica e cardíaca, e as mais altas tecnologias de exames e diagnósticos está fadado ao fracasso. Também nesse caso, demandas judiciais pelo direito a tratamentos caros e de ponta, drogas novas ou importadas, estão levando esses convênios e o serviço público a terem dificuldades em cumprir o prometido. Os problemas de gestão financeira ainda acabam por achatar a remuneração dos médicos, como uma obrigação para se manter em atividade, e os profissionais que não querem se sujeitar a condições de trabalho e remuneração inadequados optam por abandoná-lo, ocasionando falta de material humano para atender à demanda.

E quem paga esta conta?

No SUS, o Ministério da Saúde pede suplementações orçamentárias ao Congresso Nacional. Os convênios privados precisam reduzir suas despesas e aumentar suas receitas, o que eleva os custos de mensalidade ou torna pior a qualidade do atendimento, pois a medicina de alta tecnologia tem um custo muito superior à capacidade das instituições de arcarem com elas. Isso gera um total desequilíbrio nas contas, tanto do SUS como dos planos privados.

Os usuários de planos, supostamente, têm direitos contratuais a uma medicina de ponta e, como brasileiros, têm o direito constitucional de acesso à saúde. O que acontece é que os usuários estão pagando a conta e, mesmo assim, há riscos de no momento em que forem realmente precisar utilizar esse direito, de uma cirurgia cardíaca, ortopédica, neurológica ou um tratamento oncológico, que realmente cure, ele não exista ou que o direito de usuário não seja cumprido, pois os recursos financeiros que viabilizam todos estes gastos, provavelmente não são suficientes.

No meio do tiroteio está o médico, que por diversos anos viu o seu trabalho não ser remunerado de forma igualitária a outros serviços. Para o novo presidente do CRM-PR, o cirurgião vascular Alexandre Gustavo Bley, até agora foram experimentados poucos avanços.  Ainda há um longo caminho a  percorrer para que se alcance uma remuneração justa na saúde suplementar, com contratualização e critérios claros para o equilíbrio da relação econômica. “De uma vez por todas eu espero que as operadoras acordem para o fato de que sem médico não existe sistema de saúde. Quem é o ator principal? O que os planos de saúde vendem? É o trabalho médico que está em evidência; é isto que é oferecido. Não existe consulta, exame, cirurgia, independente de tecnologia, sem que um médico se responsabilize”, enfatiza Dr. Alexandre. “A quebra de paradigma é exatamente oferecer uma condição de trabalho digna ao médico e qualidade na assistência ao paciente”, conclui.

Como coadjuvante, a população precisa entender o seu papel, onde cada um deverá fazer a sua parte, utilizando os recursos tanto do SUS quanto dos convênios com sabedoria e parcimônia, assim como, reivindicando a melhoria constante dos serviços prestados, para que no momento certo, o paciente necessitado receba o melhor tratamento possível. Igualmente os governos municipal, estadual e federal, e seus órgãos, devem entender que a saúde é um direito de todos e que isso custa dinheiro, o qual deve ser disponibilizado.

Aos convênios e operadoras de saúde cabe a gestão de recursos de forma sábia e correta, remunerando, condizentemente, os profissionais de saúde e levando aos seus clientes serviços de qualidade.

Cada um de nós deverá fazer a sua parte. Discuta, participe de blogs e enquetes, e use o poder de sua influência. Alguma coisa precisa ser feita, e rápido!

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