Preservando a identidade feminina
Considerada uma das técnicas mais seguras e com melhores resultados no tratamento de miomas, a embolização uterina tem o aval da Sociedade Americana de Ginecologia e Obstetrícia
Muitas mulheres em idade fértil, principalmente entre 25 e 55 anos, não sabem que sofrem de um mal comum, os miomas – tumores uterinos benignos –, até começarem a apresentar os sintomas: aumento da barriga, menstruação com fluxo muito intenso ou demorado, pressão ou dor no abdome,, ou vontade de urinar constantemente.
Até a algum tempo, a única possibilidade para tratar esse problema, que pode causar hemorragias e anemia, era a retirada parcial ou total do útero, a retirada por cirurgia do mioma ou o tratamento clínico. O que, em muitos casos, traziam sequelas emocionais e problemas, de autoestima, transtornos e os riscos de uma cirurgia, além de uma recuperação mais longa. Apesar de a histerectomia ser ainda a forma de tratamento que confere 100% de possibilidade da paciente não ter mais miomas, uma vez que retira o útero, este tratamento pode representar uma grande perda para questões ligadas à relação entre o útero, maternidade, a feminilidade, sexualidade e mesmo juventude. Para esses casos, as mulheres já há algum tempo estão sendo tratadas por um grande avanço da medicina, a embolização uterina, através da radiologia intervencionista.
Segundo o radiologista intervencionista Alexander Ramajo Corvello, do Instituto de Radiologia Intervencionista do Paraná (Inrad/Endorad), essa técnica, minimamente invasiva é de recuperação muito rápida, interrompe o fluxo sanguíneo que alimenta os miomas fazendo que diminuam e parem de sangrar, sem prejudicar o funcionamento do útero.
Segurança e praticidade
O perfil da mulher contemporânea vem mudando ano a ano, hoje elas são economicamente ativas, e muitas são responsáveis por grande parte da renda familiar. Elas estão estudando, se especializando e muitos passaram a ter filhos com idade superior a 35 anos.
Mais informado e consciente do que é melhor para sua saúde e bem-estar, o paciente hoje em dia não está disposto a aceitar tratamentos que lhe são impostos pelos médicos. Isso se deve em boa parte devido a grande disponibilidade de informações através da internet. Assim, é importante o conhecimento de todas formas de disponíveis tratamento dos miomas uterinos, pois O Dr. Corvello ressalta que não existe uma única técnica para tratamento do mioma uterino sintomático, e sim aquela que é bem indicada para cada tipo de paciente.
“Uma paciente submetida à embolização demora em torno de 4 a 7 dias para retornar às suas atividades normais, o que é muito importante para a reinserção da mulher no mercado de trabalho, uma vez que muitas delas são o alicerce financeiro da família, afirma o Dr. Alexander Corvello.
Segundo ele, pesquisas revelam que a redução do volume dos miomas por meio da embolização pode chegar até 80% nos 8 primeiros meses e a melhora dos sintomas hemorrágicos ocorre em até 92% dos casos. E o índice de complicações é ocorrem em aproximadamente 1% dos casos por não se tratar de uma cirurgia aberta e, sim um exame realizado por cateterismo que não necessita de pontos e apenas um curativo compressivo simples.
A auditora trabalhista Rosana Garrett Saudino Ferreira, de 46 anos, é um exemplo de mulher consciente e bem-informada que optou pela embolização e está colhendo resultados positivos. Em 2008, ela passou a apresentar uma hemorragia muito intensa, embora fizesse acompanhamento ginecológico semestral devido ao histórico familiar de câncer. Rosana não podia mais andar ou fazer qualquer esforço banal que a hemorragia aumentava. O diagnóstico foi mioma uterino com indicação cirúrgica. “O fato de ficar internada num hospital, passar por um procedimento agressivo, precisar tirar pontos e ter uma recuperação demorada, me levou a buscar alternativa menos invasiva”, relata. A embolização uterina foi a solução: “Fiquei pouco mais que 24 horas no hospital, não senti nada, preservei meu útero e dois dias depois já estava trabalhando em ritmo normal”.
Entendendo a embolização uterina
De acordo com o Dr. Corvello, para iniciar o tratamento dos miomas, primeiramente é necessário que a paciente tenha sintomas que alterem a sua qualidade de vida, pois miomas assintomáticos geralmente não requerem qualquer tratamento e devem apenas ser acompanhados clinicamente. Todas as decisões em medicina, em termos gerais, devem ser colocadas em uma balança onde fazer alguma forma de tratamento tem que ter menos riscos e maiores benefícios do que não se fazer absolutamente nada. Caso contrário será um contracenso. “A definição desses fatores é fundamental na decisão pelo melhor tratamento”, ressalta o especialista. A partir dela, e com base nos exames complementares, como ressonância magnética e ultrasonografia pélvica, o médico indicará o procedimento adequado.
Na região da virilha, onde passa a artéria chamada femoral, o radiologista faz um furinho de, no máximo, 2 mm e introduz um pequeno cateter (finíssimo tubo de plástico). Guiado por um equipamento de radiologia digital com altíssima definição de imagem, o médico conduz o cateter até a artéria que leva sangue para o útero o que não desencadeia dor ao paciente. Pelo cateter, são injetadas micropartículas esféricas de uso biológico, que vão se alojar nas artérias que levam sangue para os miomas, interrompendo o fluxo sanguíneo que os alimenta. Assim, eles diminuem e param de sangrar, eliminando os sintomas. “Essas micropartículas esféricas são um produto sintético utilizado há mais de 35 anos na medicina e que não provoca rejeição do organismo humano”, explica o especialista.
O procedimento, comum em vários países desenvolvidos, é relativamente simples, dura de 40 minutos a uma hora e é realizado sob anestesia peridural ou apenas anestesia local em casos selecionados. Para o Dr. Corvello, a peridural é um tipo de anestesia pouco agressiva, mais segura e eficaz, uma vez que anestesia a paciente no momento da intervenção e proporciona uma analgesia durante as primeiras 24 horas pós-embolização. Por ser uma técnica minimamente invasiva, a embolização de miomas requer apenas 24 a 48 horas em regime de observação hospitalar, proporcionando o retorno às atividades físicas e cotidianas em cerca de uma semana.
De 1988 até 1996, a técnica da embolização era apenas utilizada em sangramentos pós-parto ou decorrentes de acidente automobilístico. A O embolização uterina ficou conhecida a partir de então, quando o ginecologista francês Jacques Ravina utilizou a técnica de obstrução de fluxo sanguíneo no pré-operatório de uma paciente portadora de um grande mioma no útero. Notando o desaparecimento dos sintomas da paciente, o médico decidiu preservar o seu útero. Somente em 2000, porém, a embolização de miomas no útero obteve aprovação científica e foi normatizado. Período que o Dr. Corvello começou a empregar também essa técnica para tratamento de miomas.
A embolização é também utilizada em casos de tumor benigno ou maligno no rim ou fígado, tratamento de aneurismas do cérebro e das vísceras e tratamento de más formações das artérias e das veias.
Qualidade e efetividade da embolização uterina
Pareceres oficiais das Sociedades Brasileira, Americana e Européia de Radiologia Intervencionista demonstram o real benefício e efetividade da técnica, que consta no rol de procedimentos autorizados pela Agência Nacional de Saúde para os convênios de saúde. A embolização foi considerada uma das técnicas mais seguras e com melhores resultados em procedimentos eficazes no tratamento dos miomas uterinos pela Sociedade Americana de Ginecologia e Obstetrícia, dado divulgado recentemente em publicação oficial.
Confira este parecer na íntegra e o da Associação Médica Brasileira solicitando a inclusão da embolização no rol de procedimentos autorizados pelo SUS, no site www.inrad.com.br.
Devido aos altos índices de efetividade e os baixos índices de complexidade, a técnica da embolização uterina para miomas se tornou rotineira em diversos países e já está, inclusive, disponível em vídeos na internet, em sites como Youtube (www.youtube.com).
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