Endocrinologia

O corpo perfeito saudável e sem anabolizantes

Acompanhamento médico, disciplina nos treinos e alimentação balanceada garantem o corpo desejado sem agredir a saúde

por: Lúcia Costa | 9/

junho

/2014

Atualmente, homens e mulheres buscam formas esteticamente mais definidas e vultuosas, que simbolizem força e poder. Entretanto, essa busca pode levar ao uso indiscriminado de anabolizantes esteroides, substâncias sintéticas similares aos hormônios masculinos (testosterona) e de crescimento (GH), que promovem aumento da massa muscular e diminuem a massa gordurosa corporal.

“Apesar da proibição, é comum o consumo de anabolizantes prescritos por profissionais sem competência ou permissão legal para tal, na maioria das vezes em condições adversas e em altas doses, causando danos irreversíveis à saúde”, alerta a Dra. Rafaela Perraro Sanderson, especialista em Endocrinologia e Metabologia que atua na Clínica Contato, em Curitiba.

De acordo com a especialista, a utilização de doses fisiológicas de testosterona só é permitida para homens com hipogonadismo (deficiência do hormônio testosterona), que deve ser comprovado laboratorialmente e clinicamente pelo médico. Quanto ao GH, somente há indicação para crianças com baixa estatura que possuam deficiência deste hormônio e em outros pacientes em situações muito especiais. “Tais hormônios também podem auxiliar, por exemplo, portadores de HIV a recuperar peso. No entanto, para melhorar a performance e a aparência, seu uso é inadequado e ilegal”, adverte a médica.

A maior preocupação é que os esteroides anabólicos vêm sendo utilizados por adolescentes e jovens adultos orientados por profissionais despreparados que têm acesso às substâncias. Estudos revelam que, desde 1996, o uso de hormônios aumentou 39% entre os estudantes do nível fundamental, 67% no ensino médio e 84% entre os estudantes pré-universitários. O uso também está aumentando entre as mulheres jovens, atletas universitários e pessoas comuns que desejam ter uma aparência mais musculosa.

O estudante Felipe*, de 20 anos, começou a usar anabolizantes injetáveis estimulado pelo personal trainer. “Pesquisei muito na internet sobre treinamentos e dietas alimentares para ganhar músculos e comecei a usar anabolizantes quando passei a treinar na academia”, revela. De acordo com a Dra. Rafaela, o paciente foi levado pelos pais para fazer uma consulta porque estava apresentando um comportamento exagerado em relação à atividade física e à alimentação.

“O jovem estava com os níveis de hormônios bastante alterados e, além do tratamento endocrinológico, precisou de acompanhamento psicológico devido às sérias alterações emocionais e comportamentais. Mesmo tendo mantido um corpo forte e saudável sem esteroides, ele apresentou depressão e chegou a pensar em suicídio devido à falta destas substâncias”, relata a médica.

Segundo a Dra. Rafaela, pacientes com este perfil sofrem de uma síndrome de distorção da imagem corporal em que, apesar de estarem musculosos, se enxergam fracos e franzinos. “Trata-se da vigorexia, doença comportamental de eterna insatisfação com seu aspecto corporal, que facilita o uso de anabolizantes na busca do corpo perfeito, uma vez que o paciente se enxerga sempre fora dos padrões que deseja”, completa.

Além dos danos comportamentais, o abuso de anabolizantes provoca danos endocrinológicos (aumento dos pelos corporais, calvície, acne, aumento das mamas em homens e redução nas mulheres, atrofia dos testículos, impotência sexual, infertilidade, aumento de apetite, menstruação irregular); cardiovasculares (aumento da pressão arterial e dos níveis de colesterol e triglicerídeos; maior risco de infarto e derrame); hepáticos (hepatite, câncer) e problemas músculo-esqueléticos (artropatias e tendinites).

“O uso de suplementos alimentares sem avaliação médica, com intuito de aumentar a massa magra, pode causar sobrecarga renal, assim como o uso de substâncias termogênicas indiscriminadamente, para aumentar o metabolismo, pode causar problemas cardíacos”, acentua a endocrinologista. Por isso, é fundamental que estes suplementos também sejam prescritos por um especialista em Endocrinologia e Metabologia, juntamente com uma avaliação nutricional detalhada, para a indicação correta de suplementação, de acordo com a necessidade de cada organismo.

“As pessoas precisam se conscientizar de que uma avaliação metabólica realizada por um médico especialista, associada à uma alimentação balanceada, além da prática de atividade física orientada por profissionais bem preparados, podem produzir resultados surpreendentes, sem prejudicar a saúde”, finaliza Dra. Rafaela.

Efeitos colaterais dos anabolizantes