Avanços da Medicina

Nossa saúde por um triz

Precisamos repensar nossos hábitos e estilo de vida, principalmente estar alertas sobre medicamentos que comprometem nossa saúde física e mental

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Diante da grande polêmica sobre a proibição dos inibidores de apetite no país, a Revista Corpore se sente no dever de alertar a população sobre os riscos destes medicamentos. Antes disso, é preciso que as pessoas tenham um maior conhecimento sobre o assunto para uma vida mais saudável. Afinal, como agem os remédios do tipo anfetamínico no nosso organismo? Por que são nocivos a nossa saúde física e mental?

As anfetaminas agem estimulando o sistema nervoso central através da intensificação de um neuro-hormônio, a norodrenalina, que ativa partes do sistema nervoso simpático. Seus efeitos são semelhantes aos produzidos pela adrenalina no cérebro, levando o coração e os sistemas orgânicos a funcionarem em alta velocidade. Consequência: o batimento cardíaco é acelerado e a pressão arterial é elevada. Ao agirem sobre os centros de controle do apetite no hipotálamo (área do cérebro), ao mesmo tempo em que reduzem a atividade gastrointestinal, estas drogas inibem o apetite e seu efeito pode durar de 4 à 14 horas, dependendo da dosagem.

Taquicardia, febre, hiperatividade, sensações distorcidas ou aumentadas da realidade, diarreia, pupilas dilatadas, tremor, insônia, movimentos incontrolados, boca seca, visão turva, agitação, arritmia, palpitações, convulsão, pele seca… Por incrível que pareça, todos estes são efeitos colaterais dos medicamentos à base de anfepramona, femproporex e mazindol no nosso organismo. Sem falar que o abuso destas substâncias ainda eleva os riscos de ataque cardíaco. E se o indivíduo que usa a droga interrompe seu uso, principalmente sem supervisão, o que acontece? Neste caso, os efeitos colaterais são devastadores: além de ansiedade, depressão, agitação, fadiga, sono excessivo, apetite aumentado e psicose, o paciente pode vir a ter pensamentos de morte.

Foi com base nestes danos à saúde, que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu pela retirada dos inibidores de apetite do tipo anfetamínico a partir de 2012, e optou pela manutenção da sibutramina exclusivamente como medicamento para o tratamento da obesidade. Assim, os medicamentos femproporex, mazindol e anfepramona terão seus registros cancelados, ficando proibida a produção, o comércio, a manipulação e o uso destes produtos no Brasil.

Além desta proibição, a Anvisa implantou novas regras, como a notificação de profissionais de saúde, empresas detentoras de registro, farmácias e drogarias divulgarem os efeitos colaterais relacionados ao uso de medicamentos contendo sibutramina – um dos componentes dos remédios mais populares para quem tenta perder peso. No momento da prescrição, os profissionais de saúde e pacientes deverão também assinar um termo de responsabilidade, que aponta os casos em que o uso desse medicamento é contraindicado, e menciona seus riscos.

Por outro lado, persiste ainda na sociedade o questionamento sobre outras drogas que permanecem liberadas, como a própria sibutramina e os medicamentos psicossomáticos, como os benzodiazepínicos que funcionam como inibidores das reações químicas provocadoras da ansiedade. Segundo especialistas, esses ansiolíticos, por exemplo, não devem ser usados por muito tempo e sem rigoroso acompanhamento médico, pois podem causar dependência. Há pessoas que desenvolvem dependência em cinco anos, outras se viciam em menos de 30 dias. Além disso, podem ocorrer crises de abstinência com a interrupção da droga, cujos efeitos colaterais mais comuns são insônia, irritabilidade excessiva, tonturas, tremores e alterações da libido. Isto, quando os benzodiazepínicos não mascaram quadros mais graves.

Uma estatística da Organização Mundial de Saúde, publicada há poucos anos, mostrou um consumo anual de 500 milhões de diferentes psicotrópicos no Brasil, dos quais 70% eram ansiolíticos, ou seja, medicamentos da classe dos benzodiazepínicos para diminuir a ansiedade, tensão ou medo. Entretanto, um ansiolítico não resolve os problemas. O tratamento dos transtornos psiquiátricos – depressão, fobias, transtorno obsessivo compulsivo (TOC), síndrome do pânico, transtorno bipolar, entre outros – dependem do uso de outros recursos, como alimentação saudável, psicoterapia e atividade física.

Por isso, se você se enquadra em alguma destas situações, ou então tem por hábito a automedicação, busque ajuda de um profissional consciente o quanto antes, e adote um estilo de vida mais saudável. Para perder peso ou vencer a ansiedade não basta recorrer a uma destas drogas (a maioria delas proibida há anos em toda a Europa e Estados Unidos). É preciso reavaliar a vida.

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