Cardiologia

Na dose certa

Usados indiscriminadamente ou sugeridos por vizinhos, remédios podem se transformar em grandes vilões

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Fundamentais para recuperar a saúde quando ela dá sinais de que algo não vai bem, os remédios salvam vidas. Eles mantêm a pressão arterial controlada, diminuem os níveis de triglicérides, aliviam dores e ajudam o coração. Mas para que o resultado seja satisfatório e efetivamente benéfico, é preciso seguir cuidados especiais e recomendações médicas. O velho conselho de que o remédio que deu certo para o vizinho pode não ser o mais adequado para o seu caso deve ser seguido à risca.

O cardiologista do Centro do Coração Dr. Willyan Nazima alerta para os perigos da automedicação: “a interação com outros medicamentos – e até alimentos – pode ser perigosa, além dos efeitos colaterais que podem aparecer”. As consequências alertadas na bula são grandes, mas isso não significa que todos os pacientes terão a mesma reação, mas sim que aqueles efeitos são possíveis de acontecer.

Cada organismo tem um meio de ação e recepção dos medicamentos. Por isso, o cardiologista Ricardo Rodrigues explica que nem todos os remédios terão a mesma eficácia para todos. “A efetividade muda porque os receptores são diferentes. Por isso a importância de individualizar o tratamento e checar os efeitos colaterais. Isso traz segurança para o médico e para o paciente”.

Na cardiologia há uma especificidade que precisa ser levada em conta: a maioria dos pacientes tem idade avançada e, consequentemente, tomam vários remédios. É o da pressão, o do colesterol, da coluna, da cabeça. Em meio a tantas drogas, a atenção do médico é fundamental. “Essas pessoas são polimedicadas e muitos dos nossos pacientes usam medicamentos anticoagulantes para alguns casos de arritmia, para prevenir embolia pulmonar e trombose venosa. Só que essa medicação interage com outras, principalmente com os anti-inflamatórios e alguns alimentos ricos em vitamina K. Nesses casos é preciso cuidado redobrado do médico”, aponta Dr. Laércio Uemura, também cardiologista do Centro do Coração.

Nessa hora a responsabilidade chega ao paciente, que precisa relatar ao médico quais remédios toma. “Orientamos que carregue inclusive uma lista na bolsa, para não esquecer de nenhum”, pondera Dr. Willyan. Ele completa que é papel do médico conhecer as particularidades de cada paciente para saber que medicamento trará mais benefícios.

Em se tratando de saúde, a confiança no especialista é fundamental. Dr. Ricardo Rodrigues salienta que na relação médico-paciente isso é imprescindível e lembra que essa mesma confiança existe em relação às medicações disponíveis para uso, pois todas passam por criteriosa pesquisa antes de serem colocadas no mercado. Dr. Laércio Uemura completa: “são várias etapas nesse processo. Primeiro é estudada a síntese da matéria-prima para saber se a molécula pode constituir um medicamento, depois são feitos testes laboratoriais em animais para comprovar a eficácia e possíveis efeitos colaterais, essa pesquisa se estende em humanos. Esse processo pode custar alguns bilhões, mas é essencial para a segurança do tratamento”.

Mesmo depois de liberado para a comercialização, os estudos continuam para acompanhar a evolução e ação do remédio. “Todos os medicamentos que prescrevemos foram testados. Nas consultas, definimos o perfil do paciente para só então estabelecer qual é a melhor opção para cada caso”, destaca Dr. Uemura. O médico lembra de uma paciente que teve um pico de pressão ao tomar remédio anticoagulante com anti-inflamatório e cita outro caso clássico: a combinação de Viagra com medicamentos à base de nitratos (antianginosos). “Isso faz a pressão cair. Por isso, frisamos a importância dos cuidados com as interações medicamentosas”. O cardiologista Nazima reforça a ideia e orienta: “nunca se deve aceitar conselhos em relação a medicamentos. Este só é bom para quem o médico receitou”, conclui.

” A interação com outros medicamentos e até alimentos podeser perigosa, além dos efeitos colaterais que podem aparecer.”

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