Avanços da Medicina

Instestino: o segundo cérebro

Descuidar do sistema digestivo gera ganho de peso e estresse

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Quem nunca sentiu um “nó no estômago” por estar ansioso ou teve “borboletas no estômago” ao ver a pessoa amada? Não é apenas uma metáfora. Sinais como esses mostram que existe uma relação importante entre o cérebro e o sistema digestivo. “Quem não cuida do sistema digestivo estará mais propenso a estresse, irritação, depressão, cansaço, ganho de peso. Enfim, é uma pessoa menos saudável”, explica a médica nutróloga Dra. Debora Froehner, que tem formação em Transtornos Alimentares e atua na clínica Nutrocare, em Curitiba.

O chamado “segundo cérebro” encontra-se no do sistema digestivo, sendo formado pelo sistema nervoso entérico. “Ele é formado por milhões de neurônios localizados na parede do tubo digestivo, sendo responsável por cerca de 95% da produção e concentração de serotonina, o hormônio do bem-estar. A melatonina, que age durante o sono, é outro hormônio produzido pelas células intestinais”, afirma Dra. Debora Froehner.

De acordo com a nutróloga, a ligação direta entre o “cérebro da cabeça” e o “cérebro do intestino” é real e se faz por meio dos neurotransmissores, como a serotonina, e por estímulos nervosos, via nervo vago. Isso explica por que sentimos tanto incômodo devido a problemas digestivos. A palavra “enfezado”, por exemplo, é bastante representativa da impaciência que sentimos quando estamos com o intestino preso. “A flora intestinal, isto é, os micro-organismos presentes no nosso intestino, também têm ligação direta com nosso cérebro. Segundo alguns estudos canadenses, a flora intestinal influencia a conduta e a memória”, comenta a especialista.

Situações de síndrome do intestino irritável e doenças inflamatórias intestinais também estão ligadas ao tipo de bactéria presente nos intestinos. A síndrome do cansaço crônico também parece ter relação direta com a composição da flora intestinal, de acordo com alguns estudos. Muitas pessoas que passam por cirurgias para redução de peso, como a cirurgia bariátrica, podem sofrer de sintomas digestivos cronicamente relacionados à mudança na flora intestinal.

Angélica de Oliveira, de 40 anos, passou por uma cirurgia bariátrica há oito anos. O que deveria ser sinônimo apenas de um corpo mais esbelto trouxe uma surpresa desagradável. “Foram sete anos sofrendo com problemas intestinais, inchaços, irritação e outros sintomas que me levaram a desenvolver uma hérnia. Precisei passar por outra cirurgia”, conta ela. A melhora veio quando procurou tratamento pela nutrologia. Já nos primeiros 90 dias de tratamento, Angélica viu sua vida mudar. “A médica fez uma pesquisa alimentar, exames laboratoriais e específicos da flora intestinal. Indicou mudanças alimentares, atividades físicas, suplementação específica e outros cuidados. Hoje tenho uma vida plena e meu intestino funciona perfeitamente”, diz satisfeita.

 

Mente sã

“Os indivíduos com desordens intestinais padecem de mais estresse, ansiedade e depressão. Como resultado desse desequilíbrio no humor, muitos acabam comendo mais e preferindo alimentos gordurosos e açucarados, para sentirem aquela sensação de prazer após um chocolate, por exemplo. Isso acaba se refletindo no peso, que aumenta constantemente, acumulando-se principalmente na região da cintura”, alerta Dra. Debora.

A fórmula para possuir corpo saudável e mente sã é lembrar-se dos cuidados com o cérebro intestinal, fornecendo bons combustíveis para seu funcionamento. Uma alimentação composta por frutas, legumes, cereais integrais e muita fibra é essencial no processo – sempre evitando alimentos açucarados, frituras, produtos refinados e industrializados, repletos de conservantes, corantes e outros compostos químicos que confundem os neurotransmissores. Aliar exercícios físicos à boa alimentação é a combinação perfeita para o pleno funcionamento do intestino, pois são os músculos que ativam nosso metabolismo.

A médica veterinária Marlene Arruda dos Passos, de 40 anos, é um exemplo. “Precisava perder peso para passar por uma cirurgia. Estava com 90 quilos, pressão alta, pré-diabetes e hipertensão, por isso, procurei a nutrologia”, conta ela. Aos poucos, incluí na rotina as indicações da médica. “Comecei a fazer exercícios físicos, cortei o glúten e a lactose. Minha disposição e bem-estar melhoraram bastante e atualmente estou com 77 quilos. Em breve poderei fazer a cirurgia”, comemora.

 

Mastigar para um intestino feliz

A mastigação é essencial no processo de emagrecimento e no tratamento de desordens digestivas. Quem mastiga mal, digere pior os alimentos, tem pior flora intestinal, além de sofrer mais com sintomas como azia e refluxo. Comer mais rápido e em maior quantidade significa, também, ganho de peso.

Focar apenas no tipo dos alimentos ingeridos não é suficiente. É preciso enfatizar a importância da mastigação correta para ter um sistema digestivo mais saudável. Levar no mínimo 20 minutos para comer é o indicado, para que sejam produzidos os hormônios da saciedade. “Vale lembrar que o estômago não possui dentes: sendo assim, engolir o alimento mal mastigado traz sintomas desagradáveis após as refeições”, adverte a especialista.

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