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Lesionou o joelho jogando futebol? Procurar um médico ortopedista especialista em traumatologia esportiva é o primeiro passo

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Em época de Copa, muito ainda vai se ouvir falar em rompimento do ligamento cruzado anterior do joelho – ou LCA, um dos mais importantes ligamentos do joelho. A lesão é muito frequente em jogadores de futebol, quer sejam atletas profissionais ou amadores.

A causa mais comum é uma entorse: o corpo gira sobre o joelho estando o pé firmemente preso ao chão. No futebol, isso acontece principalmente no momento do drible. O jogador sente que o joelho “falhou”, que alguma coisa se rompeu, e cai no chão com uma dor intensa. Em muitos casos, os companheiros chegam a ouvir um estalido. A volta para o jogo é praticamente impossível devido à dor, e o joelho costuma inchar bastante em poucas horas.

Por que isso acontece? A função desse ligamento, localizado na região central da articulação, é impedir a rotacão e a translação da tíbia em relação ao fêmur. Quando a articulação sofre uma entorse, as estruturas que mantêm a estabilidade articular – os ligamentos entre elas – podem ser distendidas até que se rompam.

Foi o que aconteceu com o economista Marcos Aurélio Dias Junior, de 34 anos. “Estava correndo e, ao girar o corpo, senti um estalo e caí no chão com uma dor insuportável”, relata. Com rompimento do ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo, ele foi submetido à cirurgia. “O mais surpreendente é que fui operado num dia e liberado na manhã seguinte. Não senti dor. Em 30 dias, estava livre da fisioterapia e algumas semanas depois da cirurgia voltei a correr. Só não voltei a jogar bola ainda, por recomendação médica. Por mim, já teria voltado”, brinca.

Outras atividades também podem causar o rompimento do LCA. “Tenho pacientes que lesaram o ligamento torcendo o joelho ao pisarem inadvertidamente num buraco ou mesmo se desequilibrando ao serem atingidos por uma onda no mar”,  relata o ortopedista e traumatologista Dr. Adriano Karpstein, especialista em cirurgia do joelho e Medicina do Esporte, que tem dentre as suas principais atividades a realização de cirurgias artroscópicas.

A auxiliar administrativa Patrícia Antonia Faret, de 40 anos, rompeu o LCA correndo. “Senti muita dor, mas o primeiro médico que me atendeu recomendou esperar que o derrame articular cedesse. Fui deixando, até que não podia mais flexionar o joelho esquerdo. Então procurei um especialista, fiz uma ressonância e parti para a cirurgia”, conta. A paciente, que tinha medo de operar por já ter sofrido muito com um rompimento ligamentar no ombro, ficou bastante surpresa. “Foi muito mais fácil do que eu imaginava. Operei na quinta, fui para casa na sexta, já saí andando do hospital. Depois de três meses, já estou correndo todos os dias; o resultado foi excelente”, disse a atleta, que pretende voltar a correr 10 km por dia e ainda praticar boxe.

 

Tratar é fundamental

Quando há suspeita de lesão ligamentar, o paciente deve procurar um médico ortopedista especialista em traumatologia esportiva, que irá examiná-lo com maior precisão. Os médicos costumam pedir exames de imagem, principalmente a ressonância magnética, que é atualmente o melhor exame para avaliação do joelho lesionado. “Não é incomum a presença concomitante de rotura do LCA com uma lesão meniscal ou de cartilagem e até fraturas ósseas. Passados alguns dias da lesão, o joelho deixa de doer e o inchaço desaparece. Tem-se a impressão de que está tudo bem, mas, caso faça algum movimento que exija a rotação da articulação, o paciente experimentará a sensação de ‘falseio’ novamente, como se o joelho ‘saísse do lugar’”, explica o ortopedista.

Atualmente, é consenso entre os especialistas que o tratamento, com algumas exceções, deve ser cirúrgico. Os resultados cirúrgicos, quando o procedimento é executado por equipes capacitadas, costumam ser excelentes. Não tratar o problema pode levar à degeneração precoce da articulação, causando problemas no futuro.

Quando morava na França, o estudante Thiago Probst de Abreu, de 22 anos, lesionou o joelho durante uma partida de futebol. No pronto-socorro local, disseram que “não era nada”. Em 15 dias, ele entrou em um campeonato – e aí viu que era, sim, “alguma coisa”.

Com dores horríveis, o rapaz acabou voltando ao Brasil, onde procurou um médico especialista e foi operado. “Em uma semana foi diagnosticado o rompimento do LCA do joelho esquerdo. Fiquei somente uma noite no hospital e em pouco tempo estava ótimo. Já corro e ando de bicicleta todos os dias; estou 100% recuperado e já bato uma bolinha, como se não tivesse me acontecido nada”, destaca o estudante, que completou um ano de cirurgia recentemente.

 

Reconstrução ligamentar por vídeo

As técnicas cirúrgicas para tratamento das lesões são constantemente aprimoradas. Normalmente, o ligamento rompido é reconstruído através de uma cirurgia por vídeo – a artroscopia. Um especialista habilidoso costuma fazer a cirurgia em 45 minutos. A recuperação é relativamente rápida – alguns dias, apenas – para o retorno às atividades cotidianas. As restrições são apenas para o retorno às atividades esportivas mais intensas e que exigem rotação do joelho (futebol, voleibol, basquetebol, handebol, skate), mas em alguns meses já é possível praticá-las. Sessões de fisioterapia são fundamentais no período de recuperação.

“É muito importante que o paciente faça sua cirurgia num hospital de grande porte, com equipe médica especializada e com todos os materiais e equipamentos cirúrgicos de última geração, para que haja segurança e tranquilidade, garantindo os melhores resultados”, adverte o especialista. Outras recomendações incluem buscar um médico que constantemente se atualize, que esteja familiarizado com novas técnicas e instrumentais cirúrgicos de última geração, bem como conhecer todos os implantes mais atuais.

A ligamentoplastia do LCA é feita já há alguns anos. “Porém, atualmente temos um entendimento maior da anatomia, biomecânica e biologia da integração do enxerto usado”, acrescenta Dr. Karpstein, que é ortopedista especialista e realiza cirurgia de joelho, tem especialidade em traumatologia esportiva e é resposável pela cirurgia artroscópica dos hospitais Vita e Marcelino Champagnat, em Curitiba.

Novos implantes biocompatíveis, instrumentais e técnicas cirúrgicas de última geração permitem que a cirurgia seja feita em um tempo muito menor, com grande precisão e excelentes resultados quando comparada ao que era feito há alguns anos. As cicatrizes hoje, por exemplo, são mínimas. O paciente praticamente não experimenta dor e sai do hospital andando. “A maioria fica muito satisfeita com os resultados da cirurgia”, afirma.

O sucesso da cirurgia de LCA é confirmado pela atleta Vanessa Fronza, de 19 anos, jogadora de futsal do Coritiba Futebol Clube, que decidiu procurar um especialista depois de se machucar num jogo. “Durante uma final de campeonato, levei uma pancada e meu joelho travou. Senti a pior dor do mundo”, conta a jovem, operada há cinco meses. “No começo tive muito medo, mas tudo saiu melhor do que eu esperava. Não senti dor, já estou correndo e andando de bicicleta. Aliás, me sentindo muito melhor do que antes. Em breve, volto ao futsal”, garante.

 

Como se avalia uma lesão de LCA?

A lesão do LCA pode ser avaliada por um médico especialista durante o exame físico, por meio de várias manobras específicas. O teste mais fidedigno é o teste de Lelli, inventado pelo cirurgião italiano Alessandro Lelli. O teste pode confirmar a lesão ligamentar parcial ou total do LCA. Nas lesões parciais, detecta se o ligamento é funcional ou não. O teste é eficaz na fase aguda, quando o joelho está muito dolorido, e também na fase crônica da lesão. Além disso, não interfere na existência ou não de lesão em outros ligamentos ou estruturas do joelho.

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