Avanços da Medicina

Ecossistema saudável

A primeira compreensão que devemos ter é que nós somos o ecossistema, e só existirá saúde se estivermos em equilibrio. Caso contrário é só doença

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Parar para pensar em como nossos hábitos de consumo influenciam a nossa saúde, a nossa família, a comunidade e toda a humanidade é o primeiro passo para a construção de um ecossistema saudável. Os alimentos que ingerimos a roupa que vestimos, nossa higiene pessoal (do sabonete ao creme dental), até a forma como nos locomovemos e nos comunicamos têm relação direta com o meio ambiente. Para aprofundar o assunto, convidamos a médica Nutróloga Dra. Giane Galvão e o economista Lutero Couto para uma entrevista.

Dra. Giane há 22 anos veste bandeiras da promoção da saúde e da mudança de hábitos, principalmente o alimentar. Lutero é diretor da Griffe Orgânica – Condomínio Rural e Consórcio de Exportação e vice-presidente da Associação Brasileira de Orgânicos (BRASILBIO). Os dois falaram sobre a produção dos alimentos de forma global e sua distribuição no mercado.

Dra. Giane Galvão é uma aplicada estudiosa. Tem formação nas áreas da homeopatia, alergologia e imunologia, gerontologia e é especialista em nutrologia e clínica médica. Ela foi uma das precursoras no combate a utilização das anfetaminas, que hoje estão proibidas e tem levantado questões quanto ao uso indiscriminado dos anticoncepcionais, das terapias de reposição hormonal sintética e do uso de psicotrópicos. Sobre o consumo de alimentos tem uma postura clara, e afirma  veementemente que o Brasil será o modelo de agroecologia sustentável para o mundo.


Qual é a polêmica sobre a alimentação e o tipo de produtos que estamos ingerindo?

Giane: Trabalho com a informação, análise bioquímica, fisiológica e social, investigação precisa do sistema orgânico e o histórico de vida de pessoas, de comunidades e das sociedades. Isso gera polêmica.  Ser capaz de dizer que os níveis de câncer físico e social se multiplicaram devastadoramente nos últimos 20 anos. Explicar o porquê, e denunciar que estamos “sobrevivendo” em um mundo que induz ao consumismo baseado em uma produção regida pelos interesses de poucos, que só tem descartado vidas através da produção de alimentos contaminados com agrotóxicos e geneticamente modificados. Sendo que infelizmente, o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do planeta. Comprovamos clinicamente que esses alimentos estão matando tanto quanto a fome. Infelizmente, ainda existe uma medicina dependente de drogas e “bombas” que mais minam a saúde e agravam sintomas e enfermidades, do que resolvem ou ajudam a prevenir ou curar verdadeiramente as doenças. As consequências disso aparecem nas endemias de doenças crônicas e silenciosas, como diabetes, hipertensão arterial e a obesidade, como também em  epidemias com súbitos surtos de doenças infecciosas agudas com potencial letal.  Problemas neurológicos e reprodutivos, além de cânceres em todas as faixas etárias e no crescente número de crianças que apresentam doenças de idosos.

É preciso entender que este sistema atual de nutrição humana, que é liberado, aprovado e comercializado, entorpece a mente, altera os gens, as defesas do organismo e a regeneração celular, ou seja, propaga doenças. A base principal de tudo é o alimento. São três tipos essenciais e vitais de alimentos: a educação, a comida e a atividade física. São eles que promovem a saúde. A falta de informação, o alimento desvitalizado e o sedentarismo, são as causas das enfermidades atuais. Nós, porém, caminhamos na contramão deste mundo, operamos na conversão de valores que cooperam para a condução da saúde. É de nossa responsabilidade nos educar para que se multipliquem os educadores.

 

Como devemos nos alimentar?

Giane: Somos o que consumimos. Devemos consumir uma alimentação orgânica e sustentável, aquela que alimenta não só o físico, a emoção e a mente, mas também o espírito do ser humano.  Transformamos vidas pela conscientização e reeducação de postura e tudo começa pela educação. Uma mãe precisa aprender, de fato, a colocar a saúde na boca do filho e da família. O alimento doente tem duas características: intoxica e desvitaliza o organismo. São os ‘fast foods’: alimentos transgênicos, desnaturados e refinados; assim como o sedentarismo e outras bobagens. Já o alimento saudável tem duas qualidades: desintoxica e vitaliza. São os ‘low foods’: alimentos orgânicos, frescos, naturais e integrais, exercícios físicos e meditação na palavra de Deus. Somos um ecossistema individual que interage mútua e permanentemente, inseridos em um ecossistema global, por isso somos todos responsáveis.

Ao longo dos anos venho me especializando na desintoxicação e vitalização do organismo, promovendo a mudança de composição corporal, não só para transformar a massa gorda em massa magra, mas também a massa alienada em massa crítica.

Qual é a abordagem que devemos ter com relação aos alimentos?

Giane: O primeiro passo é assumir a responsabilidade por sua saúde e de sua família e ter uma visão crítica. Precisamos ter sede e fome de Deus, observando como e onde investimos nosso tempo e dinheiro, e se isto está contribuindo para a construção de um ecossistema saudável, sustentável e global. A educação é alimento, o alimento é alimento e o exercício físico é alimento. Juntos eles promovem o ecossistema saudável. Conscientemente, todos nós devemos consumir alimentos orgânicos, para fazer chegar este alimento na mesa daquele que ainda não tem acesso. Amar é uma questão de consciência. Existem inúmeros movimentos, entidades, ONGs, centenas de pesquisadores, milhares de médicos, técnicos do governo e até políticos realmente engajados nessa luta.
A sociedade, hoje, tem dado abertura para discussão, pois não é mais possível ficar com os olhos fechados e indolentes. Infelizmente, os interesses econômicos e seus efeitos colaterais bloqueiam a informação, trocam a verdade pelo lucro e muitas das pesquisas sérias ainda são simplesmente banidas e abandonadas. A melhor maneira de contribuir é viabilizando o acesso ao orgânico, aumentando o seu consumo. Comer muita fruta, verdura e até carnes orgânicas, como o famoso frango caipira. Mudar o vestuário e o cosmético também ajuda a promover essa economia ecologicamente sustentável.

O segundo passo é incorporar a atividade física no dia a dia. Nem que seja uma simples caminhada de 40 minutos. Exercícios físicos são vitais para o bom funcionamento do organismo, portanto, eles também são alimento. Agregar a atividade de força e resistência para ganho de massa magra, além da atividade aeróbica para fortificar o condicionamento cardiovascular e a oxigenação, são outros grandes benefícios. Isso ativa todo o metabolismo, regula a produção de diversos hormônios, inclusive o do crescimento. Viver este ideal é um desafio comum a todos, porém, é uma decisão individual. É preciso coragem, esforço e determinação para ser capacitado a viver abundantemente, e a levar saúde e vida para todos.

Os alimentos orgânicos são o futuro?

Lutero: Os alimentos orgânicos são o presente. A percepção pública sobre as questões ambientais, de saúde e segurança nutricional, estimularam importante aumento da demanda por alimentos orgânicos nos países desenvolvidos, e o Brasil acompanha uma tendência similar nos últimos cinco anos. Os principais Centros Internacionais de Pesquisa Agrícola e de Saúde coincidem na identificação de resultados negativos sobre a saúde da população pelo uso indiscriminado de agroquímicos na Agricultura e no processamento de alimentos. Isso em função da utilização de agroquímicos, hormônios, antibióticos, organismos geneticamente modificados, irradiação, entre outros.

A partir daí, tem sido observado crescente interesse para o estabelecimento de estratégias nacionais de segurança alimentar e nutricional, que passaram a incluir planos de ação específicos para a agricultura orgânica com o estabelecimento de objetivos, capacitação do setor produtivo e estímulo para desenvolvimento do “mercado verde”.

E o Brasil, devido à extensão de área agricultável, apoio institucional para agricultura familiar e expressivo mercado consumidor, passa a assumir posição de destaque no cenário internacional. Estamos diante de um novo ciclo virtuoso para crescimento sustentável da produção ética e saudável no mercado de alimentos, cosméticos, fitoterápicos e moda. A agricultura e agroindústria orgânica no Brasil serão reconhecidas em um futuro próximo como um dos principais setores portadores do futuro na economia brasileira.

O que anda acontecendo no Brasil em relação aos orgânicos?

Lutero: Nesta segunda década do século XXI, o Brasil inicia o ciclo da democratização do consumo de orgânicos como alavanca de estímulo para produtores, associações e cooperativas da agricultura orgânica do país. A recente criação da Griffe Orgânica, iniciativa pioneira no Brasil que atende ao formato de Condomínio Rural e Consórcio de Exportação, reunindo produtores e suas associações, cooperativas e agroindústrias familiares do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais e Amazonas, possibilita o fortalecimento da agricultura orgânica através da capacitação de seus associados e acesso ao mercado, com base no comércio justo e consumo consciente.

A “onda da democratização do consumo de orgânicos” contribuirá para aumento da escala de produção e redução dos preços dos alimentos orgânicos, que permitirá, até 2014, o reconhecimento do Brasil pela International Federation of Organic Agriculture Movements – IFOAM, entidade mundial do setor, entre os três mais fortes produtores de orgânicos a nível mundial, considerando que o país:

 

O que muda?

Lutero: A informação para o consumidor sobre o diferencial do produto orgânico para o benefício da própria saúde e de sua família cria espaço para a definitiva participação deles como grupo de pressão para o fomento e fortalecimento do setor emergente na economia brasileira – a cadeia produtiva de orgânicos.