Avanços da Medicina

Dormir é coisa séria

Dormir mal afeta a família, traz transtornos conjugais, sociais, fracasso profissional e inúmeros problemas de saúde

dormir-e-coisa-seria+olga-judith

Os concertos musicais fazem com que a plateia vibre com a beleza da música. Mas existe um outro tipo de “orquestra”, que se apresenta à noite e causa desespero aos espectadores – que costumam ser um público muito seleto. Sim, estamos falando do ronco! Um distúrbio muito sério, que geralmente vem acompanhado de paradas respiratórias que interrompem o sono e todo o processo de restauração do organismo.

O sono é uma das funções mais importantes para o fortalecimento do sistema imunológico, secreção e liberação de hormônios, como a insulina, serotonina, hormônio do crescimento. Sem ele, nossa disposição, humor, memória e capacidade de aprendizado ficam muito prejudicados. Ele reestabelece o equilíbrio, regenera e relaxa a musculatura.

“Devemos ficar atentos também a alterações de humor, irritabilidade e instabilidade emocional. É comum termos pacientes com transtornos depressivos, dependentes de medicamentos ansiolíticos e calmantes, que levaram anos para associar suas doenças a problemas de sono”, destaca a médica neurofisiologista Dra. Olga Judith Fustes, que possui mestrado em sono pela Universidade de Sevilla, na Espanha, e é membro titular da Sociedade Brasileira do Sono.

Muitas doenças hoje já estão associadas a má qualidade do sono, e o problema vem ganhando cada vez mais visibilidade. Um estudo recente da Universidade Federal de São Paulo levantou que sete em cada 100 pessoas roncam com grau acentuado.  Outra pesquisa, realizada pelo Hospital Infantil de Cincinnati, nos Estados Unidos, com 681 famílias, mostrou que crianças cujos pais roncam têm chances três vezes maiores de virem a ter o problema quando adultos.

Outras alterações comuns vindas das noites mal dormidas são aumento da pressão arterial, arritmias cardíacas, doença nas coronárias e insuficiência cardíaca congestiva. “O distúrbio é responsável até pelo aumento do colesterol e o início da obesidade, pois causa sérias mudanças metabólicas”, enfatiza Dra. Olga.

 

Como está a qualidade do seu sono?

Dormir oito horas, teoricamente, não é garantia de que passou por todas as fases do sono. Um bom sono passa pela fase N1, de sonolência; pela N2, na qual diminuímos o ritmo e as ondas cerebrais; e só depois o corpo resfria, na fase Lenta, quando começa a produzir hormônios. A fase REM (da sigla em inglês Rapid Eye Movement), a última, é a mais importante: nela, todas as funções são restauradas e o corpo é suprido para ser regenerado.

Em um indivíduo normal, o sono não-REM (as primeiras fases) e o sono REM alternam-se ciclicamente ao longo da noite. Os ciclos se repetem a cada 70 a 110 minutos, e temos de quatro a seis ciclos por noite. A distribuição dos estágios de sono durante a noite pode ser alterada por vários fatores, como: idade, ritmo circadiano, temperatura ambiente, ingestão de álcool, drogas e medicamentos, ou por determinadas doenças.

Investigação

Dormir mal é um problema de saúde e, como tal, deve ser investigado por um especialista na área do sono. Para fazer o diagnóstico é possível fazer diversos exames, entre eles a polissonografia, que monitora o estado real de uma noite dormida, avaliando a parte cardiorrespiratória, a oxigenação, o número de vezes que o sono é interrompido e outras questões pertinentes ao diagnóstico.

Sabendo qual o problema, pode-se encontrar a solução. “A automedicação deve ser combatida, pois tratamos com remédios quando necessário. Dispomos de tecnologias, aparelhos e até terapias fonoaudiológicas que ajudam no tratamento”, reforça a neurofisiologista.

Ela menciona ainda a importância de se realizar uma boa higiene do sono, escolhendo colchão e travesseiro de qualidade, regulando a temperatura do quarto, reduzindo a luminosidade, evitando refeições pesadas, praticando exercícios físicos e desligando a televisão. E, é claro, tente deixar os problemas e as preocupações bem longe do travesseiro. Bons sonhos!

+ Saiba mais