Bem Estar

Dependência química: um tabu para as famílias brasileiras

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João*, de 21 anos, sempre foi esforçado e gostava de se virar sozinho. Desde cedo, trabalhou para conquistar seus objetivos e, em busca de oportunidades, deixou o Norte Pioneiro para morar em Curitiba. A mãe, Adriane*, permitiu a mudança, mesmo com a desconfiança de que algo diferente estava acontecendo. “Em cidade pequena, a única diversão para a juventude é ficar com os amigos no posto de gasolina. Sabia das bebidas, mas não imaginava que havia outras coisas, mais pesadas”, relembra a dona de casa.

Quem acabou com as dúvidas foi a avó, que encontrou uma “trouxinha” de cocaína no quarto do jovem. O problema veio à tona de maneira intensa e rápida. “No dia seguinte, viajei para Curitiba. Inventei uma desculpa para que João fizesse um exame de sangue e urina e acabamos com qualquer dúvida”. Alguns dias depois, o rapaz já estava internado em regime integral em um Centro de Tratamento.

A psicóloga com mais de 30 anos de experiência em tratamento de dependentes químicos, Dra. Cleuza Canan, explica que, quando a droga aparece, ela é a ponta do iceberg. “Nos dias de hoje, há uma disfuncionalidade dos papéis familiares. Em grande parte das famílias, o contexto social de cada integrante do grupo familiar passa a ser preenchido por outro ser que represente autoridade, como o professor, um amigo e até mesmo o traficante”.

Essa falsa liberdade faz com que o dependente tenha que aprender a desenvolver sua autoridade e então, passa a aplicá-la em casa. “A mãe superprotetora, o pai ausente, a inexistência de regras e limites são incentivos para o dependente. Vem, então, o sentimento de culpa, depois a raiva, seguida da vergonha e, por fim, o medo”, ressalta Dra. Cleuza.

Dar o primeiro passo para o tratamento é extremamente importante para que a família deixe de tolerar o intolerável. “É preciso deixar de se acostumar com a anormalidade. Tudo que estava debaixo do tapete será revisto pela família, com apoio de uma equipe especializada”, explica a psicóloga. “Na fase de desintoxicação, o dependente passa pelo 45 dias em um centro de tratamento em Piraquara. É um ambiente apropriado, acolhedor e com excelente estrutura, que busca completar as etapas exigidas no tratamento. Depois, participa das atividades na Clínica Dia, no bairro Água Verde, em Curitiba”, relata Dra. Cleuza. Durante todo o tempo, o paciente é monitorado e acompanhado – em determinados momentos, por um familiar -, até que esteja apto a retomar suas atividades.

 

Reencontrando o sentido da família

João passou sessenta dias internado e hoje está na Clínica Dia, participando dos programas de dependência química e saúde que foram planejados e elaborados por profissionais da equipe multidisciplinar da Dra. Cleuza. “Estou na fase da aceitação. Hoje eu consigo dizer ‘não’ para o álcool, maconha e cocaína. Consigo me sentir livre para traçar metas para o meu futuro”, garante o rapaz.

A família cumpriu o tratamento da forma recomendada e notou a grande diferença em João, graças ao suporte da Dra. Cleuza Canan e de sua equipe. “Tivemos o apoio que precisamos com todos os funcionários da clínica e do centro de tratamento. Como mãe, estou desenvolvendo uma relação muito melhor com o João e sinto que ele está mais forte para superar esta fase”, declara Adriane.

Depois de tudo o que passou, João pretende voltar logo a trabalhar e quer estudar Tecnologia da Informação. “Fiquei sem objetivo algum, trabalhava só por trabalhar. Agora, quero estudar e ter uma carreira”, finaliza.

 

Palestra informativa

Todas as quintas-feiras à noite, a mãe de João participa de um grupo de apoio para familiares de dependentes já internados ou interessados em iniciar o tratamento. O encontro é gratuito. Para participar, basta inscrever-se pelo telefone (41) 3342-7080.

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