Bem Estar

Como afastar os males da mente

Técnica que recria a fase REM do sono, com o paciente consciente, inova na psicoterapia, tratando medos e angústias

como-afastar-os-males-da-mente+vanessa-augusta-luparia

Um bom indício de que uma pessoa tem um trauma é a impressão de que a experiência negativa vivenciada no passado insiste em permanecer no presente. Basta que a pessoa se lembre de um evento perturbador, mesmo sem querer, para que uma emoção marcante e pensamentos negativos se intensifiquem, comprometendo sua qualidade de vida. Assim, uma lembrança ruim pode ser tão perturbadora quanto tê-la vivido, uma vez que as imagens, os sons, os cheiros, sentimentos e pensamentos ainda permanecem.

Uma experiência traumática pode ser tão forte que altera o funcionamento cerebral. Isso significa que, quando o cérebro é submetido a um estresse crônico, a pessoa deixa de ter uma vida saudável, pois a memória negativa fica registrada e congelada na mente, principalmente no hemisfério direito do cérebro, grande responsável por administrar nossas emoções. Entretanto, as ferramentas que nos permitem conferir novo significado à experiência e deixá-la finalmente no passado se encontram no hemisfério esquerdo, responsável por nossa objetividade e racionalidade.

A boa notícia é o EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing), que significa dessensibilização e reprocessamento por meio dos movimentos oculares, a mais nova e eficaz técnica de psicoterapia, que consegue levar o paciente à fase REM (Rapid Eye Movement) do sono, em estado de consciência, promovendo a estimulação dos hemisférios cerebrais onde as lembranças dolorosas são armazenadas, tratando quadros de ansiedade, depressão, fobias, síndrome do pânico e outros transtornos estressantes.

“Embora já tivesse feito outras terapias para entender vestígios do passado que me causavam sofrimento, só encontrei nas sessões de EMDR as respostas que precisava para compreender que aquilo não tinha importância na minha vida”, relata a administradora Eliane*, de 43 anos, que com 10 sessões considera-se liberta do problema. “É como se um nó tivesse se desfeito na minha mente, deixando minha vida fluir normalmente”, avalia. Já o paciente Alberto*, de 40 anos, sentiu-se mais confortável e otimista após a primeira sessão da técnica. “Apresento um quadro de ansiedade e depressão sem motivo aparente, mas com o EDMR já estou descobrindo quais as experiências traumáticas que afetaram minha vida”, revela.

 

Desatando o nó

Na fase REM costumam acontecer os sonhos. Os olhos movem-se rapidamente e a atividade cerebral é similar àquela de quando estamos acordados. “A teoria mais proeminente para explicar o êxito da nova técnica tem a ver com os movimentos oculares durante esta fase”, explica a psicóloga Vanessa Augusta Luparia, terapeuta em EMDR pelo EMDR Institute, dos EUA. Segundo ela, como o cérebro processa as experiências do dia durante essa etapa do sono, quando a pessoa tem alguma experiência traumática parece que o seu cérebro não consegue trabalhar com o evento, que fica na mente, como uma espécie de “nó neurológico”.

“O EMDR consegue recriar esse processo com o paciente consciente e, em pouco tempo, ele tem a sensação de maior distanciamento da perturbação traumática, começando espontaneamente a reavaliar a experiência a partir de uma perspectiva mais otimista”, acentua a especialista. A focalização de elementos da memória traumática e a estimulação bilateral (visual, auditiva ou tátil) pelo EMDR promovem o “diálogo” entre os hemisférios cerebrais e o reprocessamento do trauma. É quando a lembrança perturbadora perde seu poder de ferir e a pessoa é capaz de resgatar os registros de bons momentos. “A partir dessas conquistas, o paciente passa a se desfazer de sentimentos de culpa inadequados, consegue planejar um futuro melhor e se permite desejar coisas boas para si”, completa a psicoterapeuta.

* Os nomes dos entrevistados foram alterados para preservar a sua identidade.

+ Saiba mais