Bucomaxilofacial

Entrevista

Dr. Roberto Cavali, presidente do CROPR, desmistifica aos leitores da Revista Corpore o porquê das especialidades da Odontologia

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Para desmistificar conceitos errôneos sobre a Odontologia e aumentar o entendimento das pessoas sobre as especialidades da profissão de cirurgião-dentista, a Revista Corpore visitou o Conselho Regional de Odontologia do Paraná e conversou com o Dr. Roberto Cavali, presidente do CROPR, cirurgião-dentista e professor na UFPR. Durante o bate-papo, Dr. Roberto falou sobre o futuro da área, a ramificação das atividades dentro da profissão e, também, sobre o papel do Conselho no auxílio aos profissionais e pacientes.

Como tem se comportado a odontologia nos últimos anos?

Nos últimos 30 anos, a meu ver, a odontologia evoluiu muito. O dentista deixou de ser apenas um “tapador de buracos”, corretor, extrator ou aplicador de próteses dentárias. A profissão está integrada ao mecanismo da saúde como um todo. Inúmeros estudos mostram que problemas cardíacos podem ser originados da boca, uma doença gengival pode acarretar em um parto prematuro ou no nascimento de uma criança abaixo do peso e o dentista, ao exercer a profissão, tem que estar ciente disso. O que antes era tratado em separado, agora pertence a um conjunto de coisas das quais a odontologia não pode mais se desligar. O conceito de saúde é completo e inclui a autoestima, o bem-estar, o social e a situação econômica das pessoas. Nesse contexto, a saúde bucal pode significar a inserção no mercado de trabalho, um casamento bem sucedido e a alegria de viver consigo mesmo. A odontologia, hoje, tem uma função social muito importante na vida das pessoas. Em conjunto, é claro, com a sua função primária de tratar dos problemas bucais.

Quantas especialidades a odontologia tem?

A odontologia tem 19 especialidades reconhecidas pelo Conselho Federal. Elas são necessárias porque seria difícil para um clínico geral concentrar conhecimento sobre toda a evolução dos tratamentos e suas informações técnicas. Ele até sabe, mas seria complicado absorver atividades como fazer a restauração, fazer a prótese, fazer o implante, ter que extrair o dente, fazer a cirurgia, tratar o canal, etc.. Criam-se, então, as especialidades. Com elas, sem dúvida, os pacientes são melhores atendidos, já que se tem um expert em determinada área.

Como o profissional se torna especialista? Existem regras?

Para o indivíduo receber o titulo de especialista os cursos são de no mínimo 750 horas. O curso de cirurgia, por exemplo, chega a 2 mil horas. O dentista pode realizar trabalhos e ser especialista em várias áreas, mas para se anunciar, ou seja, se apresentar para a população o CRO permite apenas duas. Entende-se que mais que isso torna difícil o aprofundamento de conhecimento. Mesmo porque, se o dentista fosse especialista em várias áreas ele voltaria a ser clínico geral. Aí, não seriam necessárias as especializações.

Então não temos mais o clínico geral?

Sim, temos, e ele é uma figura importante. Acontece que, normalmente, o próprio especialista pratica a clínica geral, mesmo detendo o título de uma área específica. Não podemos esquecer que a primeira formação do dentista é geral, por isso, a grande maioria dos especialistas também realiza os procedimentos mais comuns, como, por exemplo, a restauração.

Como se criam as especialidades da odontologia?

Para uma especialidade nascer é preciso existir o anseio da classe. Às vezes, a criação pode levar até dez anos, dependendo do caso. O CRO discute intensamente tais necessidades, ouve vários técnicos da área e pede publicações científicas, estrangeiras e nacionais, que comprovem a eficácia de um determinado tratamento, que justifique a criação de uma nova especialidade. Além disso, e é importante frisar, dificilmente o fator econômico faz diferença em uma decisão assim. É o que menos pesa na hora de criar uma especialidade. Se não houver comprovação científica, não há especialidade. Se a instituição percebe que é só interesse econômico, toda a análise é deixada de lado.

Quais são as funções do Conselho Regional de Odontologia?

O Conselho tem cinco funções principais: A primeira função é a cartorária. O indivíduo não pode exercer a profissão sem estar registrado no Conselho. E o CRO tem a obrigação de informar a população sobre as condições de cada profissional. Se alguém quiser saber se fulano de tal é cirurgião dentista, a pessoa liga para o Conselho e se informa. A recíproca é verdadeira e o profissional também conta com auxílio nesse sentido. Se ele quer provar que é cirurgião dentista, a carteira profissional emitida pelo Conselho garante a comprovação.

A segunda função é a de fiscalização. É obrigação do CRO garantir que os profissionais inscritos legalmente no Conselho exerçam a profissão de forma ética, cumprindo o papel da odontologia, que é promover a saúde bucal da população. A sociedade tem papel fundamental para que essa função se cumpra, pois é seu direito registrar qualquer reclamação que contrarie esse sentido.

A terceira função é a judicante. O CRO tem o poder de abrir processo e chamar as partes, paciente e dentista, para julgar os fatos, como possível abandono de tratamento, mau atendimento, imperícia, etc.. O Conselho não tem poder de devolução financeira, como a determinação de pagamento de indenizações, ficando isso ao encargo da justiça cível.

A quarta função é a finalidade legal. É obrigação do Conselho criar mecanismos legais para manter a categoria em ordem. Por exemplo, a criação de especialidades ou a determinação das regras para montagem de consultório, etc..

A quinta função é a política. O CRO faz a interface entre a odontologia e as outras profissões, sejam elas da área de saúde ou não, bem como, mantém a relação entre a profissão e a sociedade, para garantir padrões éticos e técnicos.

É assim que o CRO garante a ética da profissão e seu bom relacionamento com a sociedade, preocupando-se com o seu bem-estar.

Quais são os atributos da odontologia atual?

A odontologia está muito ocupada com a prevenção. Em evitar que a doença se instale. Buscam-se, hoje, os exames periódicos, a aplicação de flúor, de selantes, as técnicas de escovação e os procedimentos de profilaxia, chamados de RAP (Raspagem, Alisamento, Polimento). Claro que existem os problemas que fogem do controle da prevenção, como os traumas ou doenças mais graves, e a odontologia segue preparada para isso. Mas, hoje, pode-se até dizer que algumas especialidades tendem a desaparecer por conta do processo de prevenção. O tratamento de canal é um exemplo, pois, não havendo cárie, a doença dificilmente irá se proliferar.
Como está se desenhando o futuro da profissão?

Eu acho que as pessoas estão preocupadas com a estética. Essa tendência se repete em todas as faixas etárias. As pessoas de mais idade, que perderam seus dentes, estão deixando de usar próteses para fazer implantes e, com isso, sentirem-se mais bonitas, seguras com mais qualidade de vida. Com o desenvolvimento da especialidade do implante e o acesso mais facilitado a ele, a procura só tem crescido.
Entre os mais jovens e pessoas de meia idade, é a ortodontia que se destaca. Por simples melhoramentos no aspecto da arcada dentária ou correção de problemas funcionais. Em minha opinião, falando de um futuro não muito distante, a área estética terá ainda mais destaque.

Saiba quais são as 19 especialidades da Odontologia:

  • Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Faciais
  • Dentística
  • Disfuncão Têmporo-Mandibular e Dor-Orofacial
  • Endodontia
  • Estomatologia
  • Radiologia Odontológica e Imaginologia
  • Implantodontia
  • Odontologia Legal
  • Odontologia do Trabalho
  • Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais
  • Odontogeriatria
  • Odontopediatria
  • Ortodontia
  • Ortopedia Funcional dos Maxilares
  • Patologia Bucal
  • Periodontia
  • Prótese Buco-Maxilo-Facial
  • Prótese Dentária
  • Saúde Coletiva e da Família