Oftalmologia

Boa visão apesar do ceratocone

Técnicas avançadas para o tratamento do ceratocone permitem que portadores da doença evitem sua progressão e garantam melhor qualidade de visão

Sua dor de cabeça é persistente? Ou então você apresenta uma sensibilidade exagerada à luz (fotofobia), está enxergando menos e altera com frequência o grau dos seus óculos? Se a resposta for sim para essas perguntas, você pode ser portador de uma doença chamada ceratocone, que ocorre na córnea alterando o seu formato e espessura, resultando em distorção da visão.

O ceratocone é caracterizado por um aumento da curvatura da córnea (a estrutura transparente localizada na parte frontal do olho) e afinamento da espessura corneana de forma geralmente progressiva. Atinge aproximadamente uma pessoa em cada 2 mil. Na maior parte dos pacientes, aparece na adolescência e progride até os 35 a 40 anos de idade. O avanço mais rápido da progressão da doença ocorre geralmente em adolescentes ou adultos jovens, porém pode acontecer em qualquer idade.

Para o motorista Sandro Eduardo H. Alves, 40 anos, o ceratocone deu os primeiros sinais aos 18 anos de idade, tendo uma progressão significativa aos 25. Na época, o paciente não foi diagnosticado corretamente e com isso passou a enxergar com bastante dificuldade. “Nesse período, por pura sorte e boa vontade do médico, não fui reprovado no teste do Detran, pois estava enxergando tudo embaçado. Somente no ano passado busquei o tratamento correto para o meu caso e fiz a cirurgia para a colocação do Anel de Ferrara. Em sete minutos resolvi meu problema e em quinze dias já estava praticando atividade física. Minha visão melhorou 100% e com isso resgatei minha qualidade de vida!”, comemora o paciente, que também usa lentes de contato para esse resultado.

Em quase todos os casos (90%), a patologia atinge os dois olhos, sendo um olho mais afetado do que o outro, tanto em mulheres como em homens, na mesma proporção. É preciso deixar claro que o ceratocone tem tratamento com técnicas avançadas que permitem o controle da sua evolução para a melhor qualidade de vida dos pacientes.

As causas exatas desse mal ainda não são totalmente conhecidas, mas a origem genética é a mais provável, embora somente 20% dos pacientes com ceratocone apresentem familiares com a doença. “A associação do ceratocone com alergia dos olhos também é extremamente comum. Por isso, recomenda-se que pacientes com ceratocone não cocem os olhos, pois isso pode provocar alteração das proteínas da córnea levando ao seu enfraquecimento e consequente avanço da doença”, alerta o médico oftalmologista Dr. Artur Schmitt, do Hospital Barigui de Oftalmologia, que é mestre em Cirurgia Ocular e especialista em Ceratocone pelo Bascom Palmer Eye Institute, da Universidade de Miami, eleito nos últimos 15 anos o melhor Hospital de Olhos dos Estados Unidos.

Diagnóstico do ceratocone

O médico pode suspeitar da doença durante o exame oftalmológico de rotina. Nesse caso, ele irá pedir alguns exames específicos para esclarecer e confirmar o diagnóstico. Os exames podem incluir: topografia computadorizada de córnea, paquimetria de córnea, tomografia computadorizada de córnea (análise de Scheimpflug/Galilei); tomografia de coerência óptica (OCT). “A análise de Scheimpflug/Galilei, além de fazer a análise da curvatura anterior da córnea, mostra também a curvatura posterior e as aberrações da córnea. Isso facilita o diagnóstico precoce e revela com mais precisão qualquer sinal de avanço do ceratocone”, explica Dr. Artur Schmitt. Através desse exame ainda é possível saber se existe uma predisposição ao ceratocone em pessoas com visão aparentemente normal ou com familiares portadores da doença. “Por isso, é importante consultar um médico oftalmologista com regularidade, evitando-se uma progressão da doença”, salienta o médico.

Veja os tratamentos disponíveis para o controle do ceratocone:
(o tipo de tratamento vai depender do grau da doença)

Tratamento do ceratocone com crosslinking corneano

Crosslinking de córnea é um procedimento realizado com o objetivo de estabilizar o ceratocone e impedir o avanço da distorção corneana. É feito sob anestesia local com colírio anestésico. O procedimento consiste na aplicação de colírio de Riboflavina (vitamina B2) juntamente com aplicação de um feixe de luz ultravioleta. Essa combinação faz com que as fibras de colágeno da córnea (que são enfraquecidas no ceratocone) se tornem mais rígidas, impedindo a progressão da doença. Estudos comprovaram que até 98% dos pacientes submetidos ao procedimento apresentaram estabilidade (ausência de piora) do ceratocone após uma única aplicação de crosslinking. O Hospital Barigui foi um dos precursores da técnica de crosslinking em Curitiba.

Tratamento do ceratocone com anel intracorneano (Anel de Ferrara)

O implante do anel intracorneano, popularmente conhecido como Anel de Ferrara, está indicado quando a visão não pode mais ser corrigida com óculos ou lentes de contato. A cirurgia para o implante do anel é rápida e indolor. Realizada sob anestesia tópica com colírio anestésico, consiste no implante de um ou dois segmentos de anel de PMMA (acrílico) transparentes e muito finos no interior (estroma) da córnea. O objetivo é regularizar a curvatura anterior da córnea, diminuindo o grau do astigmatismo e melhorando a qualidade da visão. É um procedimento seguro, reversível e ajustável uma vez que os segmentos podem ser removidos ou reposicionados caso o efeito não tenha sido satisfatório.

Atualmente, o implante do anel intracorneano é realizado com técnica a laser (laser de femtossegundo), o que proporciona grande precisão de resultados e maior segurança e conforto para o paciente. Dr. Artur Schmitt afirma que, após o implante do anel, o grau dos óculos e das lentes de contato é reavaliado, e muitos pacientes não necessitam mais utilizá-los após a cirurgia.

Tratamento de ceratocone com lentes de contato

Pacientes com ceratocone podem se beneficiar muito do uso de lentes de contato. Essas, por serem adaptadas diretamente sobre a córnea, podem proporcionar uma melhor correção do grau e das distorções visuais causadas pelo ceratocone. Existem diversos materiais e modelos de lentes de contato disponíveis. As mais utilizadas para adaptação em pessoas com ceratocone são as lentes rígidas gás permeáveis. Essas lentes geralmente são confeccionadas com material altamente compatível com a fisiologia da córnea. Podem ter curvatura única ou serem confeccionadas de forma bastante personalizada.

Para casos de intolerância às lentes rígidas, estão disponíveis lentes gelatinosas específicas para ceratocone, que aliam qualidade visual e maior conforto. Ainda quando não se obtém o sucesso esperado com a adaptação de lentes de contato, podem ser adaptadas lentes esclerais. Estas são lentes muito modernas e que têm sido utilizadas com muito sucesso por pacientes com ceratocone ou outras distorções corneanas; muitas vezes postergando ou mesmo evitando a necessidade do transplante de córnea. O sucesso na adaptação das lentes de contato está diretamente relacionado à avaliação criteriosa e individualizada por parte de um oftalmologista especialista.

Tratamento do ceratocone com transplante de córnea

O transplante de córnea está indicado nos casos em que a melhora da visão não é possível com os tratamentos anteriores. A cirurgia geralmente é realizada sob anestesia local e não exige internamento hospitalar. Na operação, a região central da córnea é removida e substituída por uma córnea doadora, que é posicionada no local desejado através de pontos (suturas), que serão removidos ao longo do primeiro ano após o transplante. Por ser um transplante de órgão, existe risco de falência e rejeição que normalmente são controlados com o uso de colírios. “Atualmente, com a grande melhoria das lentes de contato e das cirurgias para ceratocone, apenas 5% dos pacientes portadores da doença são submetidos ao transplante de córnea”, finaliza Dr. Artur Schmitt.

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