Avanços da Medicina

Tecnologia ajuda na batalha contra o câncer de fígado

Através da quimioembolização pacientes voltam a ter uma vida normal

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O câncer de fígado é responsável por cerca de 4% das mortes causadas por câncer no Brasil. Além de ser um dos maiores órgãos do nosso corpo, o fígado é essencial para manter o organismo funcionando apropriadamente. Ele remove ou neutraliza impurezas do sangue, produz agentes imunológicos para controlar infecções e remove germes e bactérias do sangue. É o fígado que regula a coagulação sanguínea e produz bile para ajudar a absorver gorduras e vitaminas lipossolúveis quando ingerimos alimentos.

Entre as doenças hepáticas, o câncer é a complicação mais grave e frequente.  A cada ano, cerca de 1,5 milhões de novos casos de câncer de fígado são registrados no mundo. Dentre os fatores de risco podemos destacar uma possível relação com os vírus que causam os tipos B e C de hepatite. As pessoas que têm cirrose hepática possuem mais chances de desenvolver a doença. O consumo excessivo de álcool e a desnutrição podem causar nesse órgão tanto cirrose quanto câncer.

O câncer primário de fígado é difícil de detectar em uma etapa inicial, pois seus sintomas são, muitas vezes imperceptíveis. Mas, como os outros tipos de câncer, esta doença pode provocar sensação de saúde frágil, perda de peso e de apetite, febre, fadiga, debilidade, dor e inflamação na parte superior do abdome. Alguns pacientes têm febre, náuseas, desenvolvem icterícia e sua urina fica escura. É um tipo de câncer difícil de controlar, a menos que seja diagnosticado logo no início.

Receber a notícia de câncer é sempre traumático, tanto para o portador da doençaquanto para todos que estão a sua volta. Não acreditamos que possa acontecer conosco ou com alguém que amamos. O medo e a insegurança acompanham o diagnóstico. “Mas, felizmente, o que todos precisam saber é que a tecnologia trabalha a favor da medicina e permite que tratamentos sejam mais eficazes e menos invasivos”, destaca o médico radiologista intervencionista Dr. Alexander Ramajo Corvello. Segundo o especialista, o tratamento ideal para esse tipo de câncer é a remoção cirúrgica do tumor.

Porém, esse procedimento nem sempre pode ser realizado. “A cirurgia é desaconselhada em casos de tumores muito grandes ou aqueles que crescem para dentro de grandes vasos sanguíneos, como a veia cava inferior ou outras estruturas vitais”, explica Dr. Corvello. Ele alerta que a cirurgia se torna impraticável quando existem vários tumores distribuídos pelo fígado. “Nesses casos, os pacientes podem se beneficiar de um procedimento da radiologia intervencionista, denominado quimioembolização”, afirma.

A quimioembolização, que vem sendo usada com muito sucesso, consiste na injeção do quimioterápico dentro das artérias que irrigam o tumor, seguido de seu fechamento. Assim, além do procedimento endovascular quimioterápico ficar em contato direto com o tumor, seu alimento, que é o sangue, é cortado, fazendo com que haja uma diminuição significativa de seu tamanho. “Como o fígado é nutrido preferencialmente pela veia Porta podemos embolizar (entupir) a artéria hepática sem prejuízo para o resto do órgão.

O objetivo da quimioembolização não é só cortar o suprimento de sangue do tumor, como também envenená-lo com quimioterápicos. O resultado é uma diminuição do tamanho do tumor e de sua velocidade de crescimento, possibilitando ao doente aguardar a fila do transplante ou mesmo ser submetido à retirada do tumor”, explica Dr. Alexander.

O procedimento não significa a cura, mas estudos mostram que em 70% dos casos reduz as lesões, as dores, melhora a qualidade de vida e pode aumentar a perspectiva de vida naqueles pacientes em que a quimioterapia convencional não apresentou resultados satisfatórios e não há indicação cirúrgica. O cirurgião dentista Murilo Pizzatto, de 71 anos, teve diagnóstico da presença de três tumores no fígado em 2010, e experimentou a quimioembolizaçao por recomendação de seu médico. “A minha recuperação foi  tranquila e até surpreendente, pois em um período curto já pude trabalhar e ter vida normal”, afirma o dentista. “Hoje, me sinto muito bem, minha alimentação é normal, porém, evito carnes vermelhas e alimentos gordurosos. Enfim, voltei a ter vida”, comemora.

Hoje, a Radiologia Intervencionista abrange um número muito grande de exames, diagnósticos e terapêuticos, e está em franca ascensão em todo o mundo. Tem seu grande crescimento e reconhecimento como especialidade médica, principalmente, devido ao caráter pouco invasivo, curto tempo de internação e rápido retorno do paciente a suas atividades. Shiroke Kay, de 76 anos, fez a quimioembolização há dois meses. “Após uma cirurgia de fígado, feita há três anos, foi constatado três nódulos e precisei fazer o procedimento por indicação médica. Hoje me sinto bem, depois de 40 dias voltei as minhas atividades normais. Graças a Deus correu tudo bem, estou contente”, conta.

 

Entenda como éfeito e quando pode ser realizado o tratamento de quimioembolização e ablação por radiofrequência

O tratamento de quimioembolização, iniciado em 1981, é baseado na combinação de infusão intra-arterial de quimioterápicos com a oclusão do suprimento arterial do tumor (através de pequeno cateter posicionado na artéria do fígado, inserido por punção na virilha). Este tratamento tem eficácia devido ao fato dos tumores hepáticos receberem de 90 a 100% de seu suprimento sanguíneo das artérias do fígado. Estas artérias podem ser ocluídas (embolizadas) parcial ou totalmente sem afetar significativamente o parênquima hepático.

A quimioembolização pode ser indicada para os pacientes que não são candidatos a procedimentos como ressecção cirúrgica ou ablação percutânea, que estão em estágio intermediário ou B, definidos como pacientes com doença multinodular assintomática, restrita ao fígado e sem invasão vascular. Porém, atualmente, com o advento de novos materiais mais eficazes e menos agressivos aos pacientes, existem inúmeros relatos de quimioembolização em tumores avançados com boa resposta e baixa toxicidade.

O prognóstico dos pacientes portadores de hepatocarcinoma melhorou com a utilização da quimioembolização e houve avanço significativo na tecnologia envolvida neste procedimento, com a introdução de cateteres de menor calibre (microcateteres) e material emboligênico de alta qualidade.

Outra técnica intervencionista pouco invasiva, porém muito eficaz, é a ablação por radiofrequência. É um procedimento que visa a destruição do tumor através da emissão de calor (ablação por radiofrequência ou micro-ondas) ou de frio (crioablação). O médico realiza a punção do tumor com a agulha de ablação, sempre guiado por tomografia computadorizada ou ultrasonografia, e através de cabos conectores a agulha é ligada a um gerador. “Esse procedimento é ideal para pacientes não candidatos à cirurgia e, principalmente, aqueles com tumores de tamanho em torno de  seis centímetros de diâmetro”, explica Dr. Alexander Corvello.

Os riscos e a taxa de complicação são muito baixos. Geralmente o paciente sente dores leves que são controladas com analgésicos simples ou nenhuma dor no pós-operatório. “Além de proporcionar bem-estar para o paciente, devido a sua menor agressividade, o procedimento é uma forma de conter o tumor, evitando que ele se espalhe para outras áreas através do sistema linfático ou sanguíneo. Tanto quimioembolização quanto ablação por radiofrequência são armamentos efetivos para o combate ao câncer de fígado. Em conjunto com o acompanhamento de equipe médica multidisciplinar podem proporcionar tratamento eficaz”, conclui  Dr. Corvello.

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