Tecnologia revolucionária para recuperar a audição
Conversamos com a primeira paciente da América Latina a fazer o mais novo tratamento para recuperação da perda auditiva nos dois ouvido
Não tem como não perceber a felicidade da economista Flor Blanca Aguilar Rivera: está estampada no seu rosto. Aos 64 anos, ela foi a primeira paciente da América Latina a fazer o mais avançado tratamento para recuperação da audição bilateral, realizado em Curitiba pela equipe de especialistas do Hospital Iguaçu. Trata-se do primeiro implante ativo de condução óssea, Bonebridge, uma solução efetiva para indivíduos com perda auditiva condutiva permanente após cirurgia de ouvido médio, malformações, perda auditiva condutiva ou perda auditiva mista com outra causa. É também uma opção para indivíduos com surdez unilateral.
O médico responsável pelo procedimento, Dr. Maurício Buschle, cirurgião otorrinolaringologista e chefe da equipe do Hospital Iguaçu, conta que esta técnica minimamente invasiva é é a última novidade nesta área, e que não há nem 10 relatos do procedimento no mundo todo. “A sra. Rivera foi a primeira paciente na qual fizemos o procedimento nos dois ouvidos durante uma mesma cirurgia. Isso só é possível quando a perda de audição é muito simétrica”, explica o médico.
Quando uma pessoa sofre de perda auditiva condutiva ou mista, o som não pode seguir seu caminho natural do ouvido externo e médio para o ouvido interno. Com o novo Bonebridge, as ondas sonoras são transmitidas via condução óssea diretamente ao ouvido interno, onde são processadas como som natural. “Esta tecnologia garante que o paciente tenha um ótimo desempenho auditivo diário com um implante discreto e quase imperceptível, pois é invisível sob a pele, que se mantém intacta. Diferentemente de outros sistemas de condução óssea, este minimiza o risco de irritações na pele, e a estimulação direta do osso (tecnologia de acionamento direto) permite obter resultados otimizados na transmissão dos sons”, ressalta Dr. Maurício.
O resultado deste avanço é comprovado com a felicidade de Dona Flor, que, desde abril deste ano, quando foi realizada a cirurgia, voltou a ouvir os sons que dão um toque especial às nossas vidas. “De uma perda de audição de 70%, passei agora para apenas 30%. É incrível, agora posso até voltar a trabalhar”, comemora.
Desde criança
“Os problemas de infecção nos dois ouvidos começaram quando eu tinha cinco anos. Na época, em El Salvador, onde eu morava, não tinha nenhum tratamento específico. As crises eram constantes. Com o tempo, os ossículos dos meus ouvidos foram danificados e viraram uma massa só; isso foi empurrando o tímpano e, como consequência, prejudicando a minha audição. Mas foi só aos 30 anos que procurei um médico mais especializado nessa área e descobri o problema. Fiz uma cirurgia, na qual o médico colocou uma proteção para que o tímpano ficasse livre. Porém, em poucos meses essa proteção caiu e o tímpano voltou a colar. O médico falou que não tinha mais como mexer, pois isso aconteceria novamente. Ele recomendou fazer uma consulta com um médico dos EUA, mas na época eu não tinha condições. Fiquei assim por muito tempo”, lembra Flor.
Quando apareceram os primeiros aparelhos auditivos, nos anos 90, Flor foi recomendada a experimentar. “Só que não consegui me adaptar, incomodava bastante, tinha muito zumbido. Não me controlava e acabava tirando, pois me deixava muito irritada. Sentia que não estava resolvendo”, conta a economista.
Sua perda na audição já era de uns 60% nos dois ouvidos, e ela precisava se esforçar para conseguir ouvir. Em 2007, Flor veio morar em Curitiba com sua filha, e um amigo, que já tinha feito o tratamento, indicou o especialista. “Iniciei o tratamento em 2009, mas na época ainda não existiam esses implantes como o Bonebridge e o BAHA (dispositivo auditivo ancorado no osso). O problema maior se deu no final de 2013. Durante a madrugada tive uma tontura terrível, senti a casa girando, os ouvidos ficaram bem fechados e a cabeça pesada. Foi quando minha audição piorou de vez. Depois desse caso, o médico fez uma nova avaliação e sugeriu uma reconstrução do tímpano, mas eu não queria, porque estava com medo que não desse certo e o ganho de audição seria muito pequeno. Fiquei preocupada, porque não estava mais conseguindo entender o que as pessoas falavam”, revela.
Segundo Dr. Maurício, apenas um implante resolveria. A chance dela veio no exato momento do lançamento de uma tecnologia revolucionária para o tratamento de condução óssea. No dia 14 de abril deste ano, Flor fez a cirurgia. “Não tive nenhuma dor, nem febre, nem tontura, nada. Fui bem confiante para a cirurgia e tudo correu muito bem. A recuperação foi rápida e depois de três semanas o aparelho foi ativado. Posso dizer que minha vida mudou completamente, estou 100% satisfeita”, comemora.
Depois do processo de adaptação, Dona Flor terá que fazer um acompanhamento anual de audiometria com a fonoaudióloga da equipe, Dra. Izabella Macedo. “Este acompanhamento é muito importante, pois, se a audição dela mudar, o ajuste do aparelho também deve ser alterado”, comenta a fonoaudióloga.
Como é o sistema de implante Bonebridge?
Este sistema consiste no “Samba”, um processador de áudio utilizado externamente, e um implante de condução óssea (BCI) inserido cirurgicamente sob a pele. O processador de áudio compacto pode ser usado discretamente sob o cabelo.
“O Bonebridge é o primeiro sistema de implante de condução óssea que mantém a pele intacta, pois é colocado sob a pele, o que garante um risco bastante baixo de complicações, como infecções. No procedimento, fazemos um pequeno furo no osso temporal, que é o osso do ouvido, e colocamos o vibrador na parte interna. Na região externa há um pequeno aparelho que transmite a energia para dentro. Ele dá um ganho auditivo melhor que outros implantes, pois está mais perto do ouvido e vibra dentro do osso. Outro ponto muito inovador é que esta tecnologia vem com um programa computadorizado em que conseguimos fazer uma cirurgia virtual antes de realizá-la no paciente, contribuindo para que o procedimento seja preciso”, ressalta Dr. Maurício Buschle.
Uma solução auditiva para crianças
A tecnologia do Bonebridge pode beneficiar crianças a partir dos cinco anos de idade. Ele é projetado para ser confortável e de fácil manuseio, tornando-o ideal para jovens usuários. O processador de áudio externo é compacto e fácil de usar. Ele é colocado na cabeça, atrás do ouvido, de modo que o canal auditivo permaneça aberto para garantir maior conforto em seu uso. A troca da bateria é simples e ocorre a cada cinco dias, dependendo do tempo de uso. Outro destaque é que o processador de áudio oferece aos usuários a possibilidade de escolher uma cor de capa que combine discretamente com a cor do cabelo. Dr. Maurício explica que o Bonebridge é implantado usando técnicas minimamente invasivas, o que reduz muito os riscos e agiliza a recuperação.
Diferentes aparelhos para diferentes necessidades
BAHA
Para perdas de condução
O implante de BAHA também é um dispositivo auditivo ancorado no osso, ideal para quem tem problema auditivo leve, moderado e grave, mas que não se adapta ao uso dos aparelhos auditivos convencionais ou não teve bons resultados com seu uso. É necessária uma pequena cirurgia, apenas para um ponto de fixação.
O som é enviado ao redor da área danificada, estimulando naturalmente a cóclea através da condução óssea. Ele é convertido em sinais neurais transmitidos ao cérebro, fazendo com que o paciente ouça os ruídos.
Carina
Até debaixo d’água
O Carina possui um processador de som digital que recebe os sons do microfone, amplifica e transforma em energia mecânica. Os sons do ambiente são captados com qualidade, até debaixo d’água. Com ele, é possível nadar, surfar, tomar banho, chuva e até mergulhar.
Implante coclear
Para perda severa e profunda, unilateral ou bilateral, isto é, de um ou ambos ouvidos. Na cirurgia de implante coclear, o dispositivo estimula eletricamente as fibras nervosas remanescentes, permitindo a transmissão do sinal para o nervo auditivo, posteriormente decodificado pelo córtex. Realizado tanto em crianças e adultos. Os pacientes passam por avaliação de uma equipe multidisciplinar e, após a cirurgia, têm sessões semanais de fonoaudiologia para reaprender a ouvir.