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Obesidade: uma bomba que pode ser desarmada pela cirurgia bariátrica

Seja qual for o grau de obesidade, a expectativa de vida, como também a qualidade são afetadas, justamente pela maior prevalência das comorbidades

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a obesidade é a segunda maior causa de morte no mundo. O grau de obesidade é diretamente proporcional à taxa de mortalidade, uma vez que, quanto maior o acúmulo de gordura corporal, maior é a probabilidade de desenvolvimento de doenças. Isso significa que pessoas com sobrepeso apresentam grandes chances de ficarem doentes e um risco de morte maior do que pessoas com peso normal, chegando a ser três vezes maior em obesos.

“Para identificar a obesidade, o método mais utilizado é o cálculo do índice de massa corporal (IMC), em que se divide o peso pelo quadrado da altura”,
explica Paulo Nassif, cirurgião do aparelho digestivo.

Seja qual for o grau de obesidade, a expectativa de vida, como também a qualidade, são afetadas justamente pela maior prevalência dessas doenças associadas, ou comorbidades, que geralmente são controladas com a perda de peso. As mais frequentes são: hipertensão arterial, diabetes tipo 2, dislipidemia, coronariopatias, doenças articulares – principalmente de quadril e joelho –, esporão calcâneo, apneia do sono, esteatose hepática, entre outras (veja no box mais informações).

Além disso, os fatores psicológicos e sociais não podem ser ignorados. “Alguns obesos têm atividades simples do cotidiano limitadas, como amarrar os sapatos, fazer sua higiene pessoal ou passar pela catraca do ônibus. Sem falar na discriminação, que dificulta relacionamentos sociais, afetivos e profissionais”, comenta Paulo Nassif.
Discriminação que Israel Domingues de Carvalho, 39 anos, conhece muito bem. O técnico em sonorização, que chegou a pesar 210 kg, sempre recebeu olhares de repulsa e risos irônicos, que cada dia o deixavam mais infeliz e com a autoestima abalada.

Com hábitos nada saudáveis, alimentação desequilibrada e vida sedentária, aos 30 anos ele começou a engordar e em apenas um ano aumentou 100 kg. “Eu comia doze pães com doze ovos no café da manhã e tomava dois litros de refrigerante sem sentir”, conta.

O carro teve de ser adaptado, o box do banheiro foi retirado, não conseguia calçar as meias sozinho e, após o banho, precisava que sua esposa o ajudasse a se enxugar.

As comorbidades eram muitas: diabetes tipo 2, colesterol, hipertensão arterial, apneia do sono, esteatose hepática e complicações cardiológicas.Como dormir deitado não era possível, passava as noites sentado, e perdeu as contas de quantas vezes adormeceu no volante. “Nas poucas vezes em que ele deitava, eu tinha medo de dormir e ele morrer sem respirar ao meu lado”, lembra a esposa, Cláudia.

Mas ele parecia não se importar: havia perdido o ânimo de viver. Até que um dia sentiu uma das pernas queimando; repentinamente surgiu uma bolha que logo se rompeu, ficando em carne viva. Foi uma trombose, que o manteve internado com as pernas elevadas por 22 dias. O médico que o atendeu foi claro e direto: a situação era muito grave e, se ele não mudasse radicalmente, parando de fumar e emagrecendo, morreria. “Foi nesse dia que caí na realidade”, comenta.

 

Vida nova

Há três meses Israel fez a cirurgia da obesidade e já eliminou mais de 50 kg; a circunferência abdominal, que era de 2,20m, já está em 1,50m. Mas a jornada ainda é longa! Ele precisa perder pelo menos mais 55 kg, mas a mudança já é notável. A pressão arterial está normalizada, os níveis de glicemia, colesterol e triglicérides já reduziram incrivelmente. Israel dorme deitado a noite toda e, para sua grande alegria, após o banho no box – que já foi recolocado –, ele se enxuga sozinho, calça as meias e amarra os sapatos sem precisar de ajuda.

Determinado a chegar aos 90 kg, ele é disciplinado no tratamento, seguindo tudo que a equipe multidisciplinar lhe orienta. “Aprendi a gostar de mim”, fala o rapaz emocionado. “Ele não sai mais da frente do espelho, está até chato”, brinca a esposa, alegre por ver a transformação que ele está vivendo.

A operadora de produção, Marilda de Lara, 38 anos, também se orgulha ao contar o que viveu. Com 1,60m e 104 kg, já havia buscado soluções em dietas, exercícios e medicamentos, mas nunca conseguia resolver o problema, que a cada dia se agravava mais com a hipertensão, as varizes e o esporão de calcâneo.

“Nos casos de obesidade mórbida, IMC igual ou superior a 40, muitas vezes o tratamento clínico – dietas de baixas calorias, exercícios físicos e medicamentos – não é eficiente e duradouro, por isso a cirurgia bariátrica é indicada”, explica Paulo Nassif.

E foi justamente assim que a vida de Marilda mudou completamente. Hoje ela pesa 62 kg, tem excelentes condições de saúde e uma disposição invejável. “Estou muito mais feliz”, finaliza alegremente.

Doenças frequentes em obesos

Hipertensão arterial:

Popularmente conhecida como pressão alta. A pressão arterial é estabelecida pela força com que o coração empurra o sangue para as artérias e a resistência que ele encontra para percorrê-las. Nos obesos, a gordura dificulta esse processo, por isso a pressão arterial se eleva. Pode causar lesões no cérebro, coração, rins e olhos.

 

Diabetes tipo 2:

Distúrbio metabólico caracterizado pela resistência à insulina. Não há uma causa específica, mas a hereditariedade é um importante fator. Sabe-se também que com o envelhecimento e/ou o ganho de peso, há uma maior propensão, já que o funcionamento do pâncreas pode não ser adequado, ou as células são incapazes de usar a insulina produzida. Estima-se que 60% a 90% dos portadores da doença sejam obesos. Pode prejudicar a visão (podendo chegar até a cegueira), levar a complicações renais, derrames, insuficiências arteriais e amputações.

 

Dislipidemia:

Aumento da taxa de lipídios (gorduras) no sangue. Representa um importante fator de risco para o desenvolvimento de aterosclerose, que é a formação de placas de gorduras e tecidos fibrosos dentro dos vasos sanguíneos e que gradativamente promovem a diminuição do diâmetro do vaso, podendo causar obstrução, que é fatal quando afeta as artérias do coração ou do cérebro.

 

Esteatose hepática:

Acúmulo de gordura no fígado. Dependendo da quantidade dessa gordura e do tempo de sua permanência no órgão pode causar cirrose e, em alguns casos, câncer de fígado.

 

Coronariopatias:

Doenças que atingem as artérias do coração; a obesidade leva à diminuição do fluxo sanguíneo para a musculatura cardíaca, favorecendo o infarto do miocárdio.

 

Doenças articulares:

A mais comum é osteoartrite, uma inflamação crônica em que a cartilagem da articulação se degenera gradualmente, causando inchaço e dor.

 

Esporão de calcâneo:

O calcâneo é um osso do calcanhar, um dos principais pontos de apoio do corpo. Se exposto a muito impacto ou a peso em excesso, como no caso dos obesos, pode se desenvolver uma formação óssea anormal que causa dores intensas.

 

Apneia do sono:

A respiração pára ou fica muito fraca enquanto a pessoa dorme. Em obesos, isso acontece porque há um excesso de tecido mole na garganta. Eleva as chances de hipertensão, diabetes, acidentes no trânsito e trabalho, ataques cardíacos e derrames.

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