Obesidade e diabetes
Novos avanços no cuidado
Emagrecer implica em mudar todos os hábitos e manias diárias. E isso vale também para as pessoas que se submetem às cirurgias bariátricas. Aliadas de quem deseja perder peso, elas proporcionam ao paciente uma saciedade mais rápida, com uma menor quantidade de comida ingerida. Mas quem quer “trapacear” pode colocar em risco os resultados positivos do procedimento e continuar aumentando a estatística do IBGE: mais de 50% da população sofre com o excesso de peso.
Para evitar essa situação, o cirurgião gástrico Dr. Milton Ogawa, da Gastroclínica, adota o tratamento multidisciplinar e presta atenção ao hábito alimentar do paciente antes de escolher a melhor técnica cirúrgica. “A Sleeve, por exemplo, trabalha no sentido de mudar os hábitos e ter saciedade com menos comida, mas, nesse caso, é preciso cuidar da qualidade dos alimentos. Se a pessoa tiver o hábito de ficar beliscando o dia todo e não resistir a um doce, será mais difícil”, exemplifica o especialista.
Sleeve ou Bypass?
De acordo com Dr. Milton, este procedimento que reduz o estômago, mas mantém o intestino, é ideal para quem gosta de comer grandes quantidades de comida, pois depois da cirurgia isso não será mais possível. Para os que comem o dia todo, a Sleeve pode não dar o resultado esperado e ainda gerar outro problema: a compulsividade que antes era manifestada na comida pode ir para outras coisas, como o alcoolismo.
Nesses casos, a técnica conhecida como Bypass pode ser a solução. Ela reduz o estômago e faz um desvio no intestino em cerca de dois metros, o que diminui também a absorção dos alimentos. O desvio do intestino é ligado ao novo estômago e a pessoa chega a perder 40% do peso corporal. “É pelo hábito alimentar que escolhemos o melhor método, é preciso ter também uma orientação psicológica e nutricional”, declara Dr. Milton Ogawa.
Segundo o médico, a obesidade é uma doença e está se tornando uma epidemia. Para dar conta dela é preciso estabelecer uma nova forma de ver a comida, se alimentar com qualidade, incluir hábitos saudáveis. “Temos todo um arsenal para oferecer o melhor tratamento ao paciente, mas acima de tudo é preciso estar pronto para a cirurgia”, enfatiza.
Objetivo levado a sério
Mariana Azinari, de 25 anos, balconista, é um exemplo de sucesso. Moradora de Centenário do Sul, ela viu a balança atingir os 115 kg. Com a mãe diabética e o pai hipertenso, Mariana resolveu tomar uma atitude e, em 2011, fez a cirurgia de redução do estômago. “O que mais me incentivou foi a saúde mesmo. Se eu continuasse como estava seria uma pessoa hipertensa e com diabetes. Eu não quero isso pra mim”, afirma.
Em oito meses ela perdeu mais de 40 kg e mudou radicalmente a rotina. Se antes a academia era um lugar só para passar em frente, agora ela é destino de todo dia. “Vou duas vezes por dia para fazer musculação e esteira. Fiz a cirurgia e quero emagrecer, esse é o meu objetivo. Quando as pessoas perguntam: ‘mas você não quer comer isso? Não sente vontade daquilo?’, eu respondo: não! Eu quero é emagrecer”.
Os quilos perdidos logo após a cirurgia e o elogio das pessoas foram a chave para mudar a forma de Mariana pensar. Hoje ela passa longe de refrigerantes e doces e se sente feliz. “Dá mais animação para ir à academia, porque você vê o resultado”, diz. O cardápio também mudou. “Quando é que eu comia salada? Fruta? Capaz, nada disso me pertencia. Hoje mudei. Esses dias, na Páscoa, eu comprei um bombom zero gordura e zero açúcar”, celebra.
Para Mariana, o mais importante é querer mudar. “Você tem que ter opinião, a cirurgia é um passo e depois você tem que se adaptar. Não adianta nada fazer a cirurgia e continuar bebendo refrigerante, comendo coisas gordurosas. A hora que vi o resultado na primeira semana, mudei.”
Terapia nutricional
A nutricionista Daniella Maculan Accorsi e a psicóloga Juliana Bisatto Cardoso reforçam o time de Dr. Milton Ogawa e dão todo o apoio necessário à paciente Mariana. “Mudar os hábitos é fundamental e seguir as orientações médicas após a cirurgia é o primeiro passo. O paciente precisa entender que a obesidade é uma doença crônica, que não tem cura. A gente consegue tratá-la, mas não curá-la e isso significa que a cirurgia bariátrica é uma ferramenta para ajudar a mudar os hábitos alimentares e o estilo de vida, é um impulso para essa mudança”, afirma Dra. Daniella.
Quem se esquece de que os cuidados valem para a vida toda pode ter surpresas e romper o relacionamento de ‘paz’ com a balança e com a saúde. “ Há pessoas que voltaram com problemas depois de cinco, oito anos, porque não deram valor ao tratamento psicológico e nutricional”, alerta a psicóloga Juliana.
Disciplina e determinação
Ela diz que em todas as técnicas cirúrgicas há o risco da pessoa voltar a engordar. Por isso a importância de querer mudar o estilo de vida.
“O Bypass ajuda mais porque ele te força a uma mudança maior. A Sleeve vai depender da pessoa, ela é restritiva, mas não reduz a absorção dos alimentos”, explica a psicóloga. Se adaptar à nova vida fica mais fácil com um acompanhamento médico. “Nos seis primeiros meses é fundamental. É quando o organismo está em fase de adaptação e fica mais simples para a pessoa mudar, o próprio corpo está propenso a isso. Às vezes, quando a pessoa se dá conta, já passou um ano da cirurgia e ela está com os mesmos hábitos de antes, aí a situação já é mais complicada”, declara a psicóloga.
A nutricionista Daniella ressalta que ganhar peso é fácil, e o obeso não pode esquecer isso, mesmo que esteja magro. “Essa coisa de que eu operei e estou curado não existe. A alimentação equilibrada tem que ser adotada a vida inteira, é preciso ter cuidado com os alimentos, principalmente com aqueles que têm digestão fácil, como os líquidos calóricos e aqueles que são crocantes, como batatinha, salgadinhos, biscoitos e pipoca. São coisas que não têm peso e dão a impressão de que não têm calorias”, alerta a nutricionista.
Daniela orienta que o ideal é seguir a rotina de ingerir alimentos ricos em fibras, com muita salada e carnes, que dão saciedade. “O problema é que muitos fogem do arroz com feijão, salada e carne e substituem por alimentos de fácil consumo, como biscoitos. Não pode trocar a refeição”, enfatiza.
A psicóloga Juliana define que todos devem ajudar o obeso no caminho rumo ao corpo saudável, o que inclui a família. Mas o paciente tem grande responsabilidade sobre o resultado final. “Se ele está vendo que não está tendo resultado ou se está perdendo o que conquistou com a cirurgia, é hora de buscar ajuda. O corpo tem memória e, com isso, há uma tendência a voltar aos hábitos antigos, isso não ajuda”, lembra a psicóloga.
Daniella afirma que a pessoa não pode se iludir, mas sim ter consciência de que o caminho não é fácil. Muitas vezes a pessoa começa a voltar aos hábitos antigos, pois está magra. Daí o cafezinho volta a ser com açúcar, exagera-se no doce e nas frituras e, quando percebe, os quilos já voltaram. “Não precisa ser radical na alimentação, mas tem que saber que a tendência para engordar ainda existe e que a alimentação equilibrada é importante para todos, mesmo para quem é magro. Com o passar dos anos todos precisam reduzir a quantidade de calorias ingeridas e incorporar a atividade física, pois o corpo vai precisando de menos calorias”.
As duas profissionais resumem que a cirurgia só dá certo para quem muda o estilo de vida. “A diferença de quem se submete ao procedimento e quem tenta emagrecer sozinho é que a cirurgia te dá um incentivo, uma motivação, porque a pessoa perde peso mais rápido e tem menos fome, ela não sai da mesa com fome se comer o prato sugerido, o que pode acontecer em quem está tentando fazer dieta”, diz a nutricionista.
Cirurgia bariátrica pode curar diabetes
85% dos pacientes com diabetes tipo 2, que fizeram cirurgias de redução do estômago, foram curados ou reduziram drasticamente a necessidade de insulina
Um benefício que vem sendo observado em pacientes que se submetem às cirurgias bariátricas é a remissão da Diabetes tipo 2. O cirurgião gástrico Dr. Milton Ogawa afirma que, baseado em estatísticas, 60% dos pacientes diabéticos que fazem a Sleeve apresentam cura ou diminuição acentuada no uso de medicamentos. Na técnica Bypass, esse percentual é ainda mais expressivo, atinge 85% dos pacientes.
“O que está definido é que o obeso que tem diabetes tipo 2 tem indicação cirúrgica”, destaca Dr. Ogawa. O porquê desse alto índice de remissão da doença ainda não está provado, mas há algumas teorias. Dr. Milton exemplifica que só o fato de perder peso já leva à melhora da diabetes. “Acredita-se que no Bypass a exclusão duodenal faz ativar os hormônios chamados incretinas, que ativam os hormônios GLP 1 e GLP 2, e esses ativam as células produtoras de insulina no pâncreas”, aponta.
Outra teoria indica que a chegada mais rápida do alimento ao intestino fino é que leva à melhora da diabetes. “Temos vários pacientes que reduziram muito e outros que tiveram a remissão da doença. Alguns já saíram do hospital sem a insulina”, comemora Dr. Ogawa.Outra teoria indica que a chegada mais rápida do alimento ao intestino fino é que leva à melhora da diabetes. “Temos vários pacientes que reduziram muito e outros que tiveram a remissão da doença. Alguns já saíram do hospital sem a insulina”, comemora Dr. Ogawa.