Avanços da Medicina

Menos peso, mais alegria

Os avanços das técnicas, materiais e cirúrgicas dão nova força às pessoas que lutam contra o prloblema da obesidade

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Lutar contra a balança é um dos maiores desafios para milhões de brasileiros. Dados do IBGE apontam que, no país, mais de 40% da população enfrenta o excesso de peso. As dietas costumam ser o primeiro passo para quem quer emagrecer, e a atividade física também é incorporada à rotina para potencializar os resultados, mas infelizmente a maioria das pessoas tem que lutar demasiadamente para conseguir atingir o peso ideal. Muitos precisam até se tratar com medicamentos, enquanto outros vão atrás de fórmulas milagrosas. “O problema é que, com isso, as pessoas conseguem resultados rápidos, emagrecem, ficam felizes; depois, quando veem, já estão no mesmo patamar, se não ainda mais obesos”, revela o Dr. Milton Ogawa, cirurgião bariátrico da Gastroclínica de Londrina, que atua há mais de 12 anos com distúrbios da obesidade. O próprio IBGE comprova: 80% das pessoas que emagrecem voltam a ganhar peso. Então, sofrem com o efeito sanfona e chegam a engordar bem mais quilos do que tinham perdido, ficando abaladas, frustradas e com a autoestima lá embaixo.

O problema da obesidade, e principalmente da obesidade mórbida (quando o Índice de Massa Corporal ultrapassa 40), é que o risco de desenvolver cardiopatias, diabetes, problemas vasculares, distúrbios do sono e outras doenças é iminente, a qualidade de vida fica comprometida e é preciso buscar suporte especializado. “Hoje, as salas de espera das clínicas e dos consultórios estão repletas de pacientes que buscam tratamentos clínicos e cirúrgicos para emagrecer”, ressalta Dr. Milton. Ele faz um alerta para aquelas pessoas que, desesperadas, buscam medidas drásticas, fazendo uso indiscriminado de remédios e “boletas” ou se submetendo a cirurgias por achar que este é o caminho mais fácil – quando não é. Além de complicarem ainda mais a saúde com estas atitudes, elas se tornam grandes candidatas ao risco de morte.

Mas as notícias para quem luta contra a balança são animadoras. A medicina moderna oferece um equilíbrio entre técnicas, materiais e modalidades de cirurgia, possibilitando ao paciente optar por técnicas menos agressivas, como a da redução do estômago. Os procedimentos vão desde uma simples introdução de um balão intragástrico, que preenche boa parte do estômago, dando sensação de saciedade, até técnicas que implantam anéis (próteses) que regulam a entrada de alimento e dificultam o processo digestório, forçando a pessoa a comer de forma correta, mastigando mais e comendo lentamente. Dr. Milton Ogawa explica que a escolha do procedimento é baseada na análise clínica do paciente e na meta que ele deseja atingir. O paciente passa por uma avaliação clínica completa, feita por um conjunto de profissionais que fazem parte de uma equipe multidisciplinar – psicólogo, nutricionista, cardiologista, fisioterapeuta, pneumologista e endocrinologista –, além de realizar uma série de exames. O acompanhamento pré e pós-operatório garante sucesso, tranquilidade e saúde durante todo o tratamento.

 

Esperança

Roseli Aparecida Bazzo redescobriu o prazer de viver. A auxiliar de enfermagem estava com um grau de obesidade mórbida ainda moderado. “Estava mal, não conseguia dormir direito, sentia dores nas pernas e me cansava muito facilmente”, descreve. Após tentar diversas vezes emagrecer com dietas, sem sucesso, Roseli resolveu se informar sobre a cirurgia. “Participei de uma palestra na clínica com médico, nutricionista e psicólogo e eles explicaram cada opção”, descreve. Em maio, já com a liberação e a aprovação de toda a equipe, ela passou pela cirurgia de banda gástrica. Hoje, está feliz com seus 76 quilos (estava com 96 quilos), come normalmente e de tudo, mas em menor quantidade. “Como ainda quero perder mais um pouquinho de peso, em breve vou começar a caminhar”, promete.

Dr. Ogawa explica que há três procedimentos mais utilizados por sua equipe. Para o especialista, o balão intragástrico é a opção mais simples entre as intervenções cirúrgicas. Realizado na própria clínica, é feito por endoscopia e o paciente consegue emagrecer entre 10 e 12% de seu peso corporal. “O balão fica um período de seis meses no estômago do paciente e, por isso, é mais indicado para quem está apenas com sobrepeso”, detalha Ogawa. Ele completa que o balão é ideal para pessoas que ganharam peso repentinamente, para ex-fumantes que engordaram ao deixar o vício e para gestantes que não conseguiram emagrecer após o parto. “Acredito que esses casos são a principal indicação do procedimento”, reforça.

Já a cirurgia de redução do estômago é a opção mais radical, mas é também a escolha que traz maior perda de peso, que pode chegar a 40% do peso corporal. “Essa cirurgia muda o trânsito alimentar. Com um grampeador, o estômago é cortado e fica menor. Esse pequeno estômago é ligado a 1,5 m abaixo do início do intestino”, descreve. Desta forma, diminui parcialmente a absorção do alimento ingerido. Para o médico, essa deve ser a escolha de quem precisa perder muito peso. O pós-operatório exige acompanhamento intenso da equipe multidisciplinar e dieta líquida por cerca de um mês.

Para quem prefere opções menos agressivas, há cirurgias com menos riscos. Milton Ogawa chama a atenção para um procedimento que está apresentando excelentes resultados, principalmente nos Estados Unidos e na Austrália, e que já está disponível em Londrina: A banda gástrica ajustável. Na prática, essa cirurgia coloca uma prótese em formato de anel no estômago, restringindo a passagem de alimento. Com ela, o paciente consegue perder entre 20 e 25% do peso corporal. “Essa é uma cirurgia pouco invasiva, feita por laparoscopia, e a prótese é fixada na parte superior do estômago”, especifica o cirurgião.

Uma vez colocada no organismo, a prótese faz com que a pessoa aprenda a se alimentar da forma correta. “Se o paciente come um pedaço sem mastigar direito ou muito rápido, o alimento não passa. Assim, ele precisa reaprender a maneira certa de comer. Quando se come devagar, a parede gástrica do estômago vai se distendendo lentamente, estimulando o centro da saciedade no cérebro. Assim, a pessoa come menos”, completa Ogawa.

O estudante Carlos Pugliese, 17 anos, se submeteu à cirurgia da banda gástrica ajustável. Em março de 2008 Carlos, totalmente sedentário, estava com 158 quilos. Até suas notas no colégio estavam sofrendo. Depois da cirurgia, tudo mudou. “Já eliminei 35 quilos e continuo emagrecendo, quero chegar aos 100 quilos”, revela. Hoje o estudante joga bola e frequenta a academia todos os dias. “Passei a comer mais salada, que antes não comia, e não encho mais a ‘pança’. Mas posso comer de tudo. Antes me sentia muito cansado. Agora tenho ânimo e me sinto bem mais feliz”, relata.

Dr. Milton lembra que essa cirurgia começou a ser realizada no Brasil em 1999, mas na época não existia ainda a visão do acompanhamento multidisciplinar, o que tornou os resultados iniciais poucos satisfatórios. “As pessoas iam operar em São Paulo e voltavam para as suas cidades sem fazer acompanhamento. Elas não faziam reajustes na banda nem iam ao nutricionista, e muitos acabaram engordando novamente”, recorda. Já nos Estados Unidos e na Austrália a história foi muito diferente, com resultados expressivos e animadores, tanto que a cada ano a expectativa é que de 100 mil americanos passem pelo procedimento. “Eu acredito que a técnica foi mal utilizada pelo meio médico no início e, principalmente, mal seguida pelos pacientes. Por isso, acompanhamos o paciente durante anos, com toda nossa equipe multidisciplinar, até ele ter vencido definitivamente a obesidade”, frisa Ogawa.

Na Gastroclínica, a banda tem sido escolhida até por pacientes que estão com obesidade mórbida. “Nem sempre a pessoa quer ficar magrinha. Essa pode ser uma boa opção para quem tem problemas de saúde e não pode ou não quer se submeter a procedimentos mais invasivos”, sugere o médico. Ele descreve que a cirurgia de banda gástrica é feita com pequenas punções e que a dor pós-cirurgica é mínima, tratada com analgésicos. O paciente precisa passar por uma dieta líquida por um período de duas a três semanas até cicatrizar a fixação da banda.

O cirurgião indica ainda outro benefício do procedimento: ele é totalmente reversível. “Se a pessoa não ficar satisfeita, pode optar por outra técnica, sem comprometer a saúde”, finaliza.

Esta também foi a opção de Roseli Bazzo. “Hoje a vida tem outra cor e outro sabor”, diz a auxiliar de enfermagem, que já pode cuidar da netinha Ana Luiza com mais alegria. Agora, sem dores e com muito mais disposição, ela voltou a viver intensamente.

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