Fonoaudiologia

Em conexão com o mundo

Importância da audição costuma ser percebida somente depois que a sua perda afeta o convívio social e a produtividade no trabalho

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Da sala de aula à conversa com amigos, do ambiente de trabalho ao convívio com familiares, seja qual for a situação, a audição é um dos sentidos que mais nos conecta com o mundo. É um bem de valor inestimável, que por vezes tem sua importância despercebida, até que comece a nos faltar.

Atualmente, a surdez afeta mais de 5 milhões de brasileiros e é considerada a segunda maior causa de perda da qualidade de vida pela Organização Mundial de Saúde, ficando atrás somente da depressão. Todavia, por ser um defeito invisível, costuma não receber da sociedade a mesma atenção dada a portadores de outras deficiências.

Esquece-se que o deficiente auditivo tende a se separar de outras pessoas, trazendo para si as consequências do isolamento. O analista de negócios Ricardo José Borges, de 47 anos, que o diga. Ele passou 10 anos tendo grandes dificuldades para escutar.

“Chegou uma hora em que nenhum aparelho auditivo era suficiente. Eu quase não ouvia, comecei a me isolar, porque as pessoas me perguntavam e eu não conseguia responder. Tinha dificuldades de relacionamento em casa e no trabalho”, recorda ele.

Cansado, Ricardo deu um basta na situação em 2009, quando decidiu fazer seu primeiro implante coclear, em um dos ouvidos. Bem adaptado e feliz com o resultado, ele voltou a ter uma vida prazerosa. Já não era preciso mais fugir dos amigos, compromissos e até mesmo o convívio com a família passou a ser muito melhor.

Na área profissional, as mudanças para o analista foram mais do que significativas. A integração com clientes, parceiros e colegas de trabalho, fundamental para uma boa produtividade e resultado de sucesso na carreira, voltou ao normal.

Do tempo em que convivia com o problema de audição, Ricardo lembra, em especial, da dificuldade que teve ao desenvolver uma atividade, como líder, na área de produção.  “Eu trabalhava num local com muito ruído e não podia usar os fones de proteção de ouvido, senão não escutava nada do que as pessoas falavam. Hoje, isso tudo acabou. Eu levo uma vida normal.”

Audição perfeita

Em 2011, Ricardo se convenceu de que um implante no outro ouvido lhe traria uma audição totalmente perfeita. “Eu já ouvia bem só com um aparelho, mas, com os dois, nossa! Ouço música tranquilamente e antes, nem ligava o rádio”, exemplifica.

Ele relata que, ao fazer o segundo implante, já saiu do hospital ouvindo melhor. “Nem precisou do prazo de trinta dias para fazer a ativação. Os médicos ficaram impressionados. E não tínhamos certeza de como seria o resultado, pois já havia calcificação da minha cóclea”, conta.

Ao conversar por telefone com a nossa reportagem, Ricardo estava com o aparelho do implante coclear em apenas um dos ouvidos. O outro estava em manutenção. “E mesmo assim eu estou ouvindo muito bem, sem falhas”, fez questão de ressaltar.

A causa

Diversas são as causas que podem levar uma pessoa à deficiência auditiva. As congênitas incluem hereditariedade, viroses maternas (rubéola, sarampo), doenças tóxicas da gestante (sífilis, citomegalovírus, toxoplasmose) e ingestão de medicamentos ototóxicos (que lesam o nervo auditivo) durante a gravidez. A deficiência auditiva adquirida pode envolver predisposição genética (otosclerose), doenças como meningite, ingestão de remédios ototóxicos, exposição a ruídos durante longo período de tempo, a sons impactantes ou viroses, por exemplo.

No caso de Ricardo, os especialistas acreditam que um problema de saúde mal curado na infância pode ter levado à perda de parte da audição. “Eu fiz os exames justamente para saber a causa e poder prevenir, tomar os cuidados necessários para evitar que meus filhos tivessem qualquer dificuldade neste sentido, mas foi constatado que não era um problema genético”, diz aliviado.

A solução

Independentemente do motivo que levou uma pessoa à surdez ou à redução da audição, uma coisa é certa: com as tecnologias atuais, ela se manterá conectada com o mundo. Os aparelhos auditivos, além de pouco perceptíveis e mais confortáveis, devido a um novo sistema de gerenciamento de microfonia e captação do som, proporcionam ao usuário ouvir com muito mais clareza.

“Hoje, existe a possibilidade de produzir o aparelho auditivo de forma bem personalizada, de acordo com as necessidades de cada pessoa. Alguns podem ser utilizados até mesmo dentro da água”, ressalta o otorrinolaringologista Dr. Maurício Buschle, chefe da equipe multidisciplinar do Hospital Iguaçu.

Segundo Dr. Maurício, até pessoas que nascem surdas ou perdem completamente a audição devido a um acidente ou por problemas de saúde, podem recuperar a capacidade de ouvir com  o implante coclear.  “O aparelho é um dispositivo que estimula eletricamente as fibras nervosas remanescentes, permitindo a transmissão do sinal para o nervo auditivo, a fim de ser decodificado pelo córtex cerebral. Ele é implantado atrás e no ouvido do paciente, capta o som ambiente, codifica em sinais elétricos e passa para os nervos auditivos, possibilitando a uma pessoa surda a capacidade de ouvir.

No que se refere aos implantes cocleares, a tecnologia não deixa de surpreender. Já não é mais necessário que o usuário faça a programação no aparelho para trocar de um ambiente sonoro para outro. O sistema se ajusta automaticamente. Isso permite, de acordo com o otorrinolaringologista, uma experiência mais rica em detalhes, inclusive ao ouvir música.

O avanço também proporciona maior conforto ao usuário, pois alguns aparelhos são totalmente maleáveis. No quesito estética, além de se tornarem cada vez menores, podem ser transparentes.

Ricardo José Borges confessa que já ensaia trocar o aparelho de 2009, usado no implante coclear, por um mais novo, “mais sofisticado, com tecnologia melhor”. Para isso, não é necessário fazer nova cirurgia – muda-se apenas o equipamento na parte externa.

Inovações

Maurício Buschle lembra que indivíduos com perdas auditivas leves, moderadas e severas também contam com inovações. “Para aquelas pessoas que não podem utilizar os aparelhos auditivos convencionais por razões médicas, ou ainda que não tiveram bons resultados com seu uso, há um sistema de implante que não necessita de cirurgia. É necessário apenas um ponto de fixação. É uma opção bastante interessante para crianças e adultos”, esclarece. Dr. Maurício revela que, a partir de 2013, o mesmo sistema pode ser utilizado em adultos sem a utilização do pino de titânio e, sim, com o dispositivo debaixo da pele, com o processador de som externo fixado por imã: o moderno bonebridge.

O implante de BAHA (dispositivo auditivo ancorado no osso) tem se mostrado uma opção ideal em todos esses casos, pois ele ultrapassa completamente o ouvido médio. O especialista nos explica que, ao contrário dos aparelhos comuns, neste o som é enviado ao redor da área problemática ou danificada, estimulando naturalmente a cóclea através da condução óssea. “Uma vez que a cóclea recebe essas vibrações sonoras, o órgão ‘ouve’ da mesma maneira como ouviria através da condução aérea. O som é convertido em sinais neurais e é transferido ao cérebro, permitindo que o implantado perceba o som”, destaca Buschle.

Colocação do BAHA

A técnica consiste no implante de um pino de titânio de 3 a 4 mm dentro do osso atrás da orelha. Por fora, é encaixado o processador de som BAHA, que realiza uma vibração imperceptível e conduz o som, através do osso, até a cóclea. A colocação do aparelho é realizada depois de um período médio de três meses, tempo necessário para a integração do pino dentro do osso. “O resultado é imediato. Porém, não serve para perda sensorioneural, apenas para perdas de condução do som”.

 

Até debaixo d’água

E se você pudesse realizar todas as suas tarefas e funções em qualquer tempo, sem restrições, até jogar bola na chuva, curtir uma piscina, surfar ou mergulhar? A tecnologia não para: estamos falando do Carina,  que possui um sistema composto por processador de som digital que recebe os sons do microfone, amplifica e transforma em energia mecânica. “O processador é programado individualmente, conforme o problema do paciente. Um microfone especial permite que os sons do meio ambiente sejam captados com qualidade, mesmo sob a pele. Os sons são transformados em sinais elétricos e enviados ao processador, e um transdutor envia a energia mecânica à orelha média, permitindo ao paciente ouvir com qualidade”, explica Dr. Maurício.

O Carina é conectado a uma bobina, que fica acoplada ao corpo, e precisa ser recarregado diariamente por 30 minutos.  “Essa prótese é recomendada para pacientes nos quais o fator estético e as limitações de um aparelho auditivo convencional e das próteses semi-implantáveis sejam impedimentos para a reabilitação auditiva. Mas a primeira tentativa deve ser feita sempre com o aparelho auditivo convencional, as próteses implantáveis só são recomendadas se o paciente não se adaptar com o aparelho ou não obter o resultado esperado”, aponta Dr. Maurício.

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