Cirurgia da obesidade
Se você ainda tem dúvidas esclareça-as
A obesidade mórbida é uma doença complexa e grave, causada por diversos fatores, entre eles a predisposição genética, o sedentarismo e os maus hábitos alimentares, e que se caracteriza pelo acúmulo excessivo de gordura corporal. Está estreitamente ligada a complicações médicas, psicológicas, sociais, físicas e econômicas e é uma das principais causas de morte em todo o mundo.
Há mais de 20 anos as cirurgias bariátricas têm sido uma importante ferramenta no tratamento da obesidade mórbida. Por se tratar de uma doença tão complexa e que envolve várias áreas da saúde, seu tratamento deve ser conduzido não apenas por um bom profissional, e sim por uma equipe multidisciplinar. Cabe a ela avaliar as condições e indicações cirúrgicas do paciente, além de orientá-lo e solucionar suas dúvidas quanto à cirurgia.
Com o objetivo de esclarecer algumas dessas perguntas comumente realizadas pelos pacientes, a Revista Corpore conversou com profissionais da equipe do cirurgião do aparelho digestivo Paulo Afonso Nassif, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.
Como uma pessoa pode saber se ela se inclui no perfil de indicação cirúrgica?
As indicações atuais são IMC > 40 ou IMC > 35 acompanhado de comorbidades, tais como hipertensão, diabetes, dislipidemia ou síndrome metabólica.
Quem usa remédio para emagrecer durante muitos anos consecutivos pode fazer cirurgia?
Sim, desde que esses medicamentos sejam retirados de forma gradual e totalmente abolidos até a cirurgia. É necessário também avaliação pela psicologia especificamente nesse fator, já que estas medicações podem causar dependência.
A cirurgia bariátrica é a cura para os diabéticos?
O termo mais apropriado é resolução. Em casos recentes de diabetes tipo 2, pode-se obter a cura definitiva, mas se o paciente voltar a ganhar peso substancialmente o diabetes tipo 2 poderá voltar.
Depois de operar a pessoa nunca mais engordará?
Se todas as orientações nutricionais e médicas forem seguidas, é provável que não. Mas, se algum tempo após a cirurgia houver desordem alimentar, associada ao sedentarismo, pode acontecer, sim. Por isso, é muito importante que o paciente nunca abandone a orientação médica.
Pode ocorrer desnutrição por causa do mecanismo desabsortivo?
Sim, devido à diminuição da absorção de proteínas ocasionada pelo desvio intestinal. Isso pode ocasionar problemas para o organismo, portanto o ideal é que os operados visitem regularmente seus nutricionistas e endocrinologistas para detectar e tratar essas e outras carências.
As taxas de colesterol baixam após a cirurgia?
Sim, normalmente não só o colesterol e suas frações indesejáveis diminuem, mas também os níveis de glicose e outros níveis que, alterados, são prejudiciais à saúde.
Como é a alimentação de uma pessoa operada? Para sempre só poderá comer comida líquida ou pastosa?
A dieta inicia-se pela fase líquida, evoluindo para pastosa e no final do 1º mês para a sólida, que é a mesma alimentação que todos consumimos, porém em menores porções e com melhor qualidade nutritiva, evitando-se açúcares e gorduras. É necessário ter uma atenção especial à carne vermelha, leite e derivados, frutas e verduras, que são indispensáveis na alimentação dos operados.
Após mais de 20 anos de existência, qual é a avaliação da cirurgia da obesidade?
A cirurgia de obesidade, quando bem indicada e bem realizada, é um sucesso tanto para a melhora metabólica quanto para a melhora da autoestima e vida em geral dos pacientes a ela submetidos.
Como o emocional reage a uma mudança tão rápida e grande?
Todo paciente com indicação à cirurgia bariátrica precisa ser avaliado e orientado pelo psicólogo, que o ajudará a entender as mudanças que irá sofrer. A maioria dos pacientes manifesta o desejo de mudar para melhorar sua saúde, autoestima e qualidade de vida. Dessa maneira, habitualmente a reação emocional é muito positiva e estável, de modo que o paciente enfrenta essa fase de forma equilibrada, disciplinada e tranquila. O fato de perder peso deixa-o motivado e com disposição para seguir todas as etapas e mesmo nos momentos de dificuldades a maior parte deles reage com persistência. Mas não é incomum alguns operados apresentarem ansiedade, angústias por dificuldades de adaptação à nova dieta, principalmente na fase líquida, quando o fato de não mastigar poderá deixá-lo mais inquieto, irritado e desanimado. Nestes, casos o acompanhamento psicológico, bem como de toda a equipe, e o apoio da família, são fundamentais para reverter essa condição.
Todo paciente operado precisa fazer cirurgia plástica? Quanto tempo depois?
Há a indicação para a maioria dos casos, porque o rápido e intenso emagrecimento gera muita sobra de pele e flacidez, mas isso só poderá vir a acontecer quando o peso já estiver estabilizado, cerca de um ano após a cirurgia de obesidade. Existem pacientes que optam por fazer após um período mais prolongado.
Depois de quanto tempo de cirurgia pode-se fazer atividade física e de que tipo?
O fisioterapeuta e o educador físico da equipe multidisciplinar estão aptos para orientar o retorno às atividades físicas em cerca de 30 dias após as cirurgias abertas e 15 dias nas cirurgias laparoscópicas. As atividades físicas auxiliarão no emagrecimento, na substituição de massa gorda por massa magra e também ajudarão a evitar a flacidez. Todavia, o paciente recentemente operado não poderá realizar qualquer tipo de atividade e isso deve ser muito bem orientado, evitando problemas futuros. Em nossa equipe, os fisioterapeutas realizam um trabalho personalizado, com exercícios monitorados pela frequência cardíaca, com o uso de pesos, chamado de atividade contrarresistida.
A hipertensão é um impedimento para a cirurgia bariátrica?
A hipertensão é uma doença agravada na obesidade. Ser hipertenso não é um impedimento para a cirurgia, mas ela não estar controlada sim, pois pode aumentar o risco para o procedimento. Por isso, o importante é estar em uso adequado de medicações, mantendo os níveis de pressão dentro do desejado, além da avaliação, controle e acompanhamento rigorosos do paciente no pré e no pós-operatório.
O anel e os grampos usados na cirurgia precisam ser trocados com o tempo?
Tanto o anel como os grampos são de material biocompatível e não têm necessidade de serem trocados nem retirados, mesmo com o passar de muitos anos.
Quem tem cálculo biliar pode fazer a cirurgia?
Sim, e isso é comum, pois grande parte dos obesos têm as popularmente conhecidas perdas de vesícula. Nesse caso, ela deve ser retirada. Havendo condições, isso poderá ser feito já no mesmo procedimento cirúrgico.
Quanto tempo depois da cirurgia o paciente pode voltar às suas atividades habituais?
Geralmente, nas cirurgias por laparoscopia, em 10 a 15 dias, e quando a cirurgia é por via aberta, em 2 ou 3 semanas, dependendo da avaliação das condições do paciente pela equipe multidisciplinar.
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