Avanços da Medicina

Casados em comunhão com a balança

A cirurgia da obesidade tem o objetivo de melhorar a qualidade de vida de pessoas com saúde comprometida ou risco eminente de morte, além de ajudar a resolver problemas sociais e profissionais causados pelo distúrbio

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“Prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na prosperidade ou na desventura, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida, até que a morte nos separe.”  Foram esses os votos ouvidos por todos os convidados de Cleimar e Sandra quando os dois receberam a bênção do casamento. E foi o medo de que o “até que a morte nos separe” estivesse mais próximo do que imaginavam que levou a jovem professora a incentivar seu marido a procurar tratamento contra o grande mal que os afligia: a obesidade mórbida.
Com um histórico familiar repleto de casos de sobrepeso e obesidade, desde muito jovem Cleimar Lorenzini Frana sofria com a doença. Aos 10 anos, pesava 107 kg. Aos 30 anos, ainda que não apresentasse nenhuma doença grave associada à obesidade, as dores na coluna e nas pernas já incomodavam. Segundo o cirurgião do aparelho digestivo, especialista em cirurgia da obesidade, Paulo Nassif, ainda que o jovem obeso não seja portador das chamadas comorbidades, doenças associadas à obesidade, é comum que, com o passar dos anos, venha a desenvolver diabetes, hipertensão, colesterol elevado, artropatias, entre outras.
Apelidos, Cleimar colecionava aos montes. Histórias de empregos que não conseguiu por causa do sobrepeso também não eram raras e as frustradas tentativas de emagrecer foram tantas que o rapaz já havia desistido. “Eu não estava nem aí para o que pensavam de mim, saía sem camisa na rua e fazia o que eu queria, não importando se os outros gostassem ou não”, lembra. No entanto, tentando fazer de conta que nada o afetava, vivia promovendo festas, churrascos e fazendo todos rirem. Isso o ajudava a esquecer da realidade muito difícil da obesidade, marcada pelo medo de sentar em uma poltrona e quebrá-la ou de ficar preso na cadeira do dentista. Comprar roupa, então, nem pensar; era sua mãe que as encomendava, já que ele jamais entrava em uma loja pra provar.
Equipe multidisciplinar
Mesmo com esse quadro e com o apoio da esposa e da família, demorou um pouco para que o comerciante da área de ferragens se convencesse da urgência em dar um basta naquela situação. Ele lembra da primeira vez em que uma pessoa veio lhe falar sobre a cirurgia da obesidade; sua reação foi dar as costas. “Eu pensei, ‘ela não tem nada a ver com a minha vida’, comenta. Mas, com o passar do tempo e com mais informações, foi se interessando sobre o assunto, e ao ver o resultado da cirurgia em uma amiga, decidiu ir ao médico indicado por ela.
Após consultar e esclarecer todas as suas dúvidas, Cleimar abandonou o medo. Decidido, fez todos os exames e passou pela avaliação dos profissionais da equipe multidisciplinar (endocrinologista, pneumologista, cardiologista, cirurgião, psicólogo, fisioterapeuta e nutricionista). Em fevereiro de 2005, foi submetido à cirurgia de Fobi Capella. “Essa técnica promove uma diminuição acentuada do estômago e um pequeno desvio intestinal, criando, assim, uma redução na ingestão de alimentos, associada a uma menor absorção”, explica Dr. Paulo Nassif.
A mudança na vida do operado é significativa e deve ser acompanhada por profissionais de diversas áreas da saúde, que darão suporte ao paciente nessa fase tão importante.
Fim da briga contra a balança
Realmente, a mudança foi radical. Dos 168kg que pesava, Cleimar eliminou 82. A agilidade e a disposição aumentaram muito. O medo de ficar preso à cadeira do dentista ficou para trás. Comprar roupa deixou de ser um pesadelo. Sua esposa comenta que ele se emocionou quando comprou o primeiro agasalho de tactel, pois imaginava que nunca poderia usar um.
Acompanhando a excelente recuperação do marido, vendo o resultado que a cirurgia trouxe à vida dele e ao freqüentar uma reunião explicativa sobre o tratamento, promovida pela equipe que o acompanhava, Sandra também se entusiasmou.
A professora de ensino fundamental e médio sofria do mesmo mal. Sandra Lorenzini Frana passou a vida toda brigando com a balança. Por vezes se encontrava mais magra e, em outras, mais gorda, fruto das dezenas de dietas, regimes e fórmulas que experimentou.
Popularmente as mulheres são conhecidas pelo prazer de comprar roupas, mas Sandra, não. Ela odiava! Aliás, não gostava de nada que se relacionasse à aparência. Não usava maquiagem, não se importava com acessórios e, por achar que nada que vestia lhe caía bem, levava menos de 5 minutos para se arrumar e nunca queria sair de casa. “Eu sei que isso afetava nosso relacionamento, porque ele não saía sem mim e eu nunca aceitava sair, mesmo vendo que ele ficava triste” afirma ela. O marido acrescenta que, se estivesse disposto a arranjar confusão, bastava convidá-la para ir à praia, coisa que ele adora.
O casal tinha um bom relacionamento, mas, por essa resistência em sair, a vida social deles se restringia às festas promovidas em casa, sempre cheias de comida e bebida. Quando ele foi operado as festas diminuíram e, por sua vez, a vida social também.
Uma nova mulher
Após a cirurgia em que Sandra perdeu 41 quilos, ela se tornou outra pessoa. Sem dúvida, uma nova mulher. Agora, joga futebol com as amigas toda semana, tem disposição para dar aulas em pé o dia todo e diz ter o mesmo pique de seus alunos. Antes de operar, Sandra sentia muito medo de envelhecer obesa, pois sabia o quanto isso custaria à sua saúde. Foi exatamente esse o principal motivo que a fez optar pela cirurgia. O temor foi embora, pois sua saúde está ótima.
E comprar roupas? Não, Sandra não gosta… Adora! Vive comprando novidades. Nada de roupas largas – isso é coisa do passado –, tudo muito justinho. Realmente, ela esbanja alegria por estar magrinha. Sempre disposta a sair, hoje ela acompanha o marido onde quer que ele a convide, mas para isso gasta tempo em frente ao espelho. Cabelo sempre arrumado, roupas combinando, sapatos modernos, maquiagem e tudo quanto ela tem direito. “Eu nunca pude fazer isso e agora que posso, faço mesmo”, comenta, às gargalhadas, a nova Sandra. Claro que Cleimar, que já era apaixonado, se tornou ainda mais, pois tem ao seu lado uma mulher muito mais saudável, feliz e realizada. Na opinião de ambos, o relacionamento melhorou muito depois que emagreceram. “Até mesmo nossa vida sexual é melhor agora”, enfatiza ela.
As finanças também progrediram, pois Cleimar tem um novo emprego e o que gastavam em um fim de semana com as festas é o que gastam atualmente em atividades de lazer. Para eles, parece que a maré ruim passou e agora é um tempo novo: casamento melhor, saúde melhor e emprego, idem. A cirurgia tem exatamente esse objetivo: melhorar a qualidade de vida de pessoas com uma saúde comprometida, com um risco iminente de morte, problemas sociais e profissionais provenientes da obesidade.
Cleimar e Sandra já fizeram sete anos de casados. Na “vida nova”, ele está há três anos e, ela, dois. O casal segue as orientações médicas à risca, pratica exercícios físicos e também cuida da alimentação, porque são conscientes de que disso depende a manutenção de seus pesos e saúde. Afinal, eles desejam viver muito tempo e encerrar sua história de amor com um “felizes, magros e saudáveis para sempre.”
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