Fé, coragem e persistência na superação do Câncer de Mama
A história da bióloga Fernanda Vieira desde a busca pelo diagnóstico até o tratamento e controle da doença
No mês que marca a luta contra o Câncer de Mama, batalha que ganhou repercussão mundial com a campanha Outubro Rosa, a Revista Corpore participa dessa ação trazendo relatos emocionantes de mulheres que superaram ou ainda estão na luta contra o segundo tipo de neoplasia mais frequente no mundo, e o mais comum entre o sexo feminino.
A primeira a nos contar sua trajetória é a bióloga Fernanda Vieira (28). A história dessa guerreira chama a atenção por dois motivos em especial. Primeiro, ela precisou ser muito persistente para mostrar a diversos médicos que sua preocupação em estar sofrendo dessa doença tinha fundamento. Segundo, mesmo com a descoberta tardia do câncer, devido às falhas dos profissionais de saúde, o que a levou a tirar as duas mamas, e ter apenas 90 dias contados para salvar sua vida, ela deu a volta por cima. Hoje, leva uma vida que considera ainda mais feliz do que aquela que tinha antes da doença.
Segundo Fernanda, tudo caminhava normalmente depois que foram descobertos alguns cistos em sua mama direita no ano de 2007. Foi feita uma punção mamária e constatado que eles eram benignos. Passados dois anos (em junho de 2009), ela sentiu um maior incômodo com os cistos e voltou ao médico. “Me disseram para não me preocupar e que era algo crônico na minha mama.”
Porém, ainda em novembro daquele mesmo ano ela começou a sentir algo que considerou mais consistente. “Agora não eram mais cistos e sim, um tumor. Era algo bem palpável, sólido, que dava para ver a olho nu”. Ela procurou novamente a ginecologista, informando seu desconforto. Também questionou a possibilidade de trocar o anticoncepcional que estava lhe causando muito enjôo, e que tomava pelo fato de sofrer com ovário policístico.
A médica sugeriu uma nova punção, ali mesmo no consultório, para aliviar algumas dores que Fernanda vinha sentindo. Ela se recusou a fazer o procedimento, por entender que não havia instrumentação adequada. Dessa forma, apenas o seu anticoncepcional foi trocado. “Lembro que eu estava com muitas dores e vi que a médica não deu muita importância para a minha preocupação. Disse que eu estava muito estressada e deveria procurar um psicológico.”
Formada também em Ciências Biológicas, Fernanda percebia que algo não estava bem. Assim, não aceitou o diagnóstico da ginecologista e procurou outra médica. Solicitou exames mais apurados e outra biópsia. Novamente recebeu resposta semelhante: a de que não havia motivo para fazer uma biópsia, já que na ecografia constatava tumor benigno de baixo grau e ela ficaria com cicatriz sem necessidade. “Disse ainda que não poderia contrariar a primeira médica por não ser ético e que eu deveria acatar o que me foi recomendado no início, a procura de um psicólogo.”
Entre os motivos que levaram os médicos a não dar tanta importância à preocupação de Fernanda estava o fato de não existir em sua família um histórico de pessoas com Câncer de Mama. Porém, havia casos de outros tipos de neoplasia, devidamente relatados por ela, como deve ser feito, e que deveriam ter sido levados em conta pelos médicos. A mulher que possui histórico de Câncer de Mama na família deve começar a prevenção, com exame de Mamografia, aos 35 anos. As demais, aos 40. []
Mais uma vez, Fernanda foi persistente e não aceitou o diagnóstico. Devido à burocracia com o plano de saúde, conseguiu, dois meses depois, encaminhamento para uma terceira médica. Porém, o tumor já estava três vezes maior. “Enfim entrou em minha vida a pessoa que Deus colocou para cuidar de mim. A minha amada ginecologista, mastologista e oncologista, que foi a fundo no meu caso”. Assim, ela foi encaminhada para fazer a biópsia.
A luta pela vida
No dia 28 de abril de 2010, Fernanda recebeu o diagnóstico que considera até hoje as piores quatro linhas da sua vida. “Foi constatado um câncer metastático de mama, com suspeita de ter se espalhado para o sistema linfático e pulmão. “Aos olhos humanos eu tinha aproximadamente três meses para poder fazer alguma coisa e continuar a viver.”
Ela recorda com emoção a cena com a qual se deparou ao contar à sua médica que estava com câncer. “Com seus olhos cheios de lágrimas ela me disse: Fer, não acredito! Você vai passar por muitas mudanças, vai perder seus longos cabelos, seu corpo irá mudar e muito e você vai passar por muitas coisas. E ela calmamente respondeu: eu sei disso tudo e sei de tudo o que vou perder, mas, também consigo imaginar tudo o que vou ganhar.
Ao sair do consultório Fernanda pediu para a médica não falar para seus pais da tamanha gravidade que aquele diagnóstico apresentava. “Fui para fora da clínica, estava um dia ensolarado e um céu perfeito, olhei para cima e falei com o Senhor: Eu creio em Ti e eu sei que tudo isso tem um porquê. Eu sentia em meu coração que seria apenas uma fase.”
Fernanda passou com força e garra por cinco cirurgias, entre elas, a de Mastectomia, para retirar as duas mama, e a de Adenomastectomia, para reconstruir a mama. “Lembro que eram dores inexplicáveis, eu estava à base de morfina direto. Tirei as duas mamas ao mesmo tempo, não conseguia fazer nada e estava totalmente depende dos meus pais. Fernanda passou também por rejeição de prótese e estiramento de músculos, devido à falta de pele e músculo para fazer o enxerto de mama.
Mas, isso não era tudo, após os procedimentos cirúrgicos veio a segunda fase do tratamento: 29 quimioterapias e 40 radioterapias. As primeiras sessões de quimioterapia ocorriam a cada 21 dias, sendo que em 15 deles ela passava muito mal. “O único remédio que tirava o mal estar me dava alucinações horríveis”, conta.
A hora da virada
Hoje, Fernanda afirma viver a vida com muito mais plenitude, e cada momento com muito mais intensidade. “Sou muito feliz. Tenho minha família que amo muito mais do que antes. Tenho meus maravilhosos amigos [muitos dos quais conheceu durante o tratamento] e tenho uma história de amor com aquele que me deu uma nova vida. Sou muito grata a meus pais, pois foi através da educação que eles me deram que pude começar a enfrentar esta batalha. Já a continuidade do tratamento dela foi com Deus guiando meus passos.”
Veja outros depoimentos de mulheres como Fernanda que passam ou passaram pela batalha contra a doença sem perder a fé e a esperança da cura de uma das enfermidades que mais atingem mulheres de todas as idades do mundo.