Fonoaudiologia

Antes e depois da audição

Conheça a história de Juliane Yukie Hassumi, que perdeu a audição do ouvido direito e teve de reaprender a ouvir com o implante coclear

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“Minha história começa logo após o nascimento do meu primeiro filho, quando estava com 32 anos. Ao sair da maternidade, tive uma febre muito alta, sem motivo aparente. Voltei, então, para o hospital, fui medicada e retornei para casa. Um mês depois, comecei a perceber que estava tendo dificuldades para ouvir com o ouvido direito; as pessoas me chamavam e eu não escutava. Imediatamente procurei um médico, e aí começou a minha batalha. Fiz vários exames, passei por muitos médicos que diziam que a perda só pioraria e que poderia ser definitiva. Logo começaram os zumbidos, que me deixavam irritada e sem paciência.

Nesse meio tempo, tive o meu segundo filho, e minha audição só foi piorando. Eu não conseguia mais decifrar os sons. Quando meus filhos choravam, não sabia de onde vinha o choro e nem qual deles estava chorando. Tinha que fazer um esforço muito grande para tentar ouvir apenas com o ouvido esquerdo, isso me deixava exausta. Foi um ano e meio nesta luta, mas eu continuava em busca de tratamento.

Foi aí que meu médico me indicou um especialista em otorrinolaringologia, otoneurologia e em doenças do labirinto. E então fui diagnosticada com labirintite viral, o que ocasionou a calcificação da cóclea, impedindo a passagem de som. Fui encaminhada para um centro de referência em problemas de ouvido. Fica aqui a minha primeira dica: em casos de problemas de ouvido, nariz ou garganta, vá direto a um otorrinolaringologista. Se eu tivesse feito isso, teria descoberto bem antes qual era o meu problema e o tratamento teria sido mais rápido.

Após mais exames, disseram que meu caso era raro e que a melhor indicação de tratamento era o implante coclear, um procedimento para a implantação de um ouvido biônico. Não tive dúvidas em fazer o procedimento, pois queria muito voltar a ouvir. Mas tenho certeza de que toda a minha segurança em relação ao procedimento só veio devido ao profissionalismo da equipe e a confiança que eles me passaram. Sabia que seria bem assistida.

A única parte burocrática foi a liberação com o plano de saúde, o que é uma pena, pois é uma cirurgia importantíssima e fantástica, que beneficia até mesmo uma pessoa que nunca ouviu. Finalmente, consegui a liberação e minha cirurgia foi um sucesso, tudo muito tranquilo, saí do hospital no mesmo dia. Minha cabeça inchou um pouquinho, mas não tive nenhuma dor e logo voltou ao normal.

Um mês depois, o aparelho foi ativado – tempo necessário para a cicatrização do ouvido e a integração do equipamento. Colocaram a parte externa do aparelho e fizeram ajuste e mapeamento, por meio de um programa de computador, com ajuda da fonoaudióloga. No início é tudo muito diferente, o som é meio metalizado, parece um robô, porém tudo vai sendo ajustado durante as consultas de acompanhamento.

Uns três meses depois, já estava adaptada ao aparelho. No primeiro ano é necessário fazer ajustes a cada três meses, mas depois, só conforme a necessidade. Um ano após a cirurgia, posso dizer que a minha audição melhorou 90%, estou muito feliz, minha vida voltou ao normal. Hoje nem lembro que fiz a cirurgia. Estou muito satisfeita. As pessoas precisam saber que existe o implante coclear, pois é uma técnica maravilhosa e que pode ajudar muita gente.”

 

Palavra do especialista

O cirurgião otorrinolaringologista Dr. Maurício Buschle, chefe da equipe de implante coclear do Hospital Iguaçu, especializado em otorrinolaringologia, explica que o zumbido é uma consequência de que algo está errado no ouvido ou nas vias auditivas. “Ele é percebido pelo indivíduo sem que uma fonte externa o produza. Está relacionado com o aumento dos impulsos elétricos que a via auditiva envia ao córtex cerebral, geralmente como consequência de uma perda auditiva”, relata Buschle.

Dra. Rita de Cássia Guimarães, médica otorrinolaringologista que atua com doenças do labirinto, explica que muitas doenças podem provocar zumbido. “Quando causado por exposição a ruído intenso, o zumbido ocorre devido a uma lesão nas células da cóclea. Ele varia de intensidade e pode ser permanente ou temporário. Já o acúmulo de cera, por exemplo, pode gerar um zumbido temporário. E há perdas auditivas mais sérias, em que o paciente pode perceber um zumbido decorrente de danos nas células sensoriais do ouvido interno, chamada de labirinto, responsável pelo equilíbrio do corpo e pela audição. Se essas células, que transformam energia de som em energia elétrica até o cérebro, forem danificadas, ocorrerá um erro de informação elétrica, que será reconhecido lá no córtex auditivo como um som. Isso é o zumbido”, destaca a Dra. Rita.

O Hospital Iguaçu consagrou-se por ser precursor no Sul do País na realização de cirurgias de implante coclear, procedimento que dá esperança a pessoas com surdez profunda. Dr. Maurício explica que o implante coclear é um dispositivo que estimula eletricamente as fibras nervosas remanescentes, permitindo a transmissão do sinal para o nervo auditivo, a fim de ser decodificado pelo córtex cerebral. “O aparelho, colocado no ouvido do paciente, capta o som ambiente, codifica em sinais elétricos e passa para os nervos auditivos, possibilitando a uma pessoa surda a capacidade de ouvir”. O primeiro implante coclear no Paraná aconteceu em 2006.

De acordo com Dr. Maurício, a cirurgia consiste em inserir na parte interna do ouvido um dispositivo eletrônico, composto por um grupo de eletrodos e um aparelho receptor. Por fora, colocada atrás da orelha, fica a parte que processa a fala, com um microfone e a bateria.

“Após a cirurgia, o paciente recebe o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar composta por médicos, fonoaudiólogos, psicólogos e pedagogos. Para isso, foi montado o Centro de Diagnóstico Auditivo, equipado com aparelhos de última geração e com uma equipe completa de especialistas em perdas auditivas. O paciente terá de ser submetido a sessões de fonoaudiologia por um período que pode variar de poucos meses a alguns anos, com consultas semanais. O papel do fonoaudiólogo é fundamental nesse processo, pois o paciente terá de adquirir oralidade ou reaprender a ouvir”, completa Buschle.

Dr. André Ataíde, também especialista e membro da equipe de implante coclear do hospital, explica que quanto mais cedo se faz o implante, mais cedo a área do cérebro responsável pela memória auditiva é estimulada e melhores são os resultados. “A cirurgia pode ser indicada tanto para adultos quanto para crianças maiores de 1 ano de idade que apresentem surdez severa ou profunda e que não tenham benefício com aparelho auditivo”, enfatiza. O funcionamento do implante coclear difere do Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI). Enquanto o AASI amplifica o som, o implante coclear fornece impulsos elétricos para estimulação das fibras neurais remanescentes em diferentes regiões da cóclea, possibilitando ao usuário a capacidade de perceber o som.

 

Outras opções

Existem ainda outros tipos de aparelhos e dispositivos auditivos osteointegrados, ou ancorados no osso. São a opção ideal para casos em que a função do ouvido médio está bloqueada, danificada ou obstruída, pois esses aparelhos ultrapassam completamente o ouvido médio. Diferentemente dos aparelhos comuns, o som é enviado ao redor da área problemática ou danificada, estimulando naturalmente a cóclea através da condução óssea, permitindo que o implantado perceba o som. Há várias marcas no mercado, com diferentes características e tecnologias, elas costumam ser indicadas para perdas moderadas e severas, ou substituir o aparelho auditivo convencional. “Por isso é sempre importante oferecer conforto e qualidade aos pacientes, mas sempre com orientação de um especialista, existem aparelhos implantados que são fixos por pino, ou por ímã e até o que pode ser usado em baixo d’água, nadando, surfando ou se expondo com mais liberdade, sem riscos. Hoje só não escuta quem não quer”, finaliza Dr. Maurício. Dependendo do caso, é possível utilizar o Carina e o Bonebridge, que dão mais liberdade aos usuários. Consulte seu especialista.

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