Fonoaudiologia

Ouvir é para todos

As inovações tecnológicas proporcionam, até mesmo a quem nunca ouviu, o prazer de escutar

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Muito tagarela e comunicativa. É assim que Denise Dupczak, de 38 anos, lembra de como era na sua infância. Não que isso tenha mudado muito – pelo menos, foi o constatado durante a conversa dela com a equipe da Revista Corpore.

Denise começou a usar aparelho auditivo aos cinco anos de idade. “Fui fazer um diagnóstico e voltei para casa usando dois aparelhos. O mais curioso nisso tudo é que eu me comunicava bem com a família, apesar de falar errado, e também ia muito bem na escola. Minhas redações eram perfeitas”, lembra com orgulho.

Denise, que é formada em Artes Visuais e pós-graduada em Gestão de Negócios, conta que nunca se sentiu uma deficiente auditiva. “Sempre fui estimulada a ser independente”, diz ela, que se submeteu a um implante coclear em julho de 2011. O procedimento lhe permitiu ouvir mais e melhor, e assumir de vez o negócio da família.

A história de Denise é mais um exemplo de que, hoje em dia, só não ouve quem não quer. O avanço da tecnologia permite até mesmo àquelas pessoas que já nasceram com perda total da audição, passarem a ouvir.

O vento faz barulho

Alguns ruídos não faziam parte da rotina de Denise. Mas, um dia, ao sair para fazer um mapeamento do implante, ela descobriu que o vento tem um som: “de repente, o tempo começou a virar e fazia ‘shu… shu…’ Eu descobri que o vento faz barulho”, conta. “E a água também, quando ferve”, acrescenta rindo.

Denise, que fez um ano de fonoterapia, está se adaptando aos poucos à nova vida e aos novos sons. “O processo é lento, você não passa a ouvir todos os sons de uma vez”, esclarece, ressaltando: “Eu só descobri que não ouvia tudo quando passei a ouvir”.

Determinados sons agora já não são mais novidade para ela, como o barulho dos talheres e da xícara quando bate no pires.  Além disso, hoje Denise também consegue ouvir uma pessoa falando em outro ambiente. Algo que não ocorria quando ela apenas usava o aparelho.

Aprender e reaprender a ouvir, segundo Denise, é um exercício diário, que ela pratica, na maior parte do tempo, na loja de produtos naturais da família. “Eu sempre fui muito independente, mas a minha desenvoltura para conversar agora é outra. Estou muito mais segura para atender o público, parte do trabalho que mais gosto.  “O implante facilitou a realização de projetos”, comemora.

Paixão pela música

Denise também é apaixonada por música, mas tinha dificuldade em ouvir os instrumentos. “Fico muito emocionada com a música clássica. Depois que fiz a fonoterapia, fui assistir à Orquestra Sinfônica de Curitiba, no Teatro Guaíra, e percebi que sabia de onde o som vinha, reconhecia qual instrumento musical era. Se eu começar a me educar, acredito que vou saber bem melhor cada estilo também.”

Denise diz “se educar” porque, na verdade, quem ouve é o cérebro. “Então, é preciso fazer uma reabilitação para que ele se lembre das palavras que eu já conheço”. Hoje o som é mais límpido e claro para ela. “Com o aparelho, eu precisava fazer leitura labial e as pessoas precisavam sempre repetir algo. Com o implante, não. Além disso, o meu feedback é mais rápido.”

Como funciona o implante

O implante substitui a função da cóclea, órgão do ouvido que codifica os sons, transforma os sinais sonoros em impulsos elétricos e possibilita a uma pessoa a capacidade de ouvir. “A cirurgia pode ser indicada tanto para adultos quanto para crianças maiores de um ano de idade que apresentem surdez severa ou profunda, que perderam a audição por algum motivo ou nasceram com a deficiência”, explica Dr. Maurício Buschle, cirurgião otorrinolaringologista e chefe da equipe multidisciplinar de implante coclear do Hospital Iguaçu.

Segundo o cirurgião, o procedimento tem sido recomendado também a pacientes com perdas moderadas, sendo inclusive um dos tratamentos de ponta para zumbidos. Ainda, de acordo com Dr. Maurício, a reabilitação da criança após o implante é mais rápida. Isso porque ela ainda está aprendendo a se comunicar com o mundo ao seu redor.

Abaixa o volume dessa TV!

A reclamação lhe parece bastante comum? O que muita gente não sabe é que assistir a televisão com o volume muito alto pode ser indício de perda de audição. Foi assim que Giglio Caruso Fressato, de 74 anos, descobriu, no início de 2012, que sofria com o problema.  “Minha esposa e minha filha reclamavam demais que eu assistia à TV com o volume muito alto, até que resolvi procurar um médico”, conta ele, que no início pensou estar apenas com cera no ouvido.

Ao fazer o teste de audição, Giglio ficou sabendo que precisaria usar um aparelho auditivo. “Hoje, escuto até barulho de papel, que antes eu não conseguia.  Se estiver em um edifício, no décimo andar, escuto o som dos carros”, conta ele, ressaltando que o aparelho não lhe incomoda, além de ser minúsculo.

A fonoaudióloga e mestre em Distúrbios da Comunicação, Dra. Izabella Pedriali de Macedo, da Central Auditiva – Central de Serviços e Aparelhos Auditivos, destaca que ouvir bem é muito importante para a independência da pessoa e, especialmente, para sua segurança. “Se ela estiver sozinha em casa, irá ouvir qualquer barulho estranho, ou então atender ao chamado quando escutar o som de uma campainha ou do telefone”, exemplifica. O mesmo cuidado vale para o trânsito.

Discretos e confortáveis

Muitas pessoas resistem a procurar um médico ou a usar o aparelho por acreditarem que seu uso é chato, desconfortável e difícil. Mas não é nada disso. Atualmente, a tecnologia permite que esses aparelhos sejam discretos, bem personalizados e confortáveis. E funcionam até mesmo para uma pessoa com surdez profunda ou que nunca ouviu.

“O teste para detectar se a pessoa realmente tem problema auditivo é bastante prático”, esclarece Dra. Izabella.  “A pessoa põe o aparelho e vai para casa. Depois de utilizá-lo por cerca de duas semanas, ela poderá se decidir. E 99% reconhecem a ampla melhora”.

Ela também alerta que quanto menor é a perda auditiva, melhor é o resultado. Por isso, é importante detectar o problema o mais rápido possível. “Quando a pessoa cria resistência e não procura ajuda profissional, o problema vai se agravando. Além disso, pode causar isolamento, devido à dificuldade de se relacionar, e, por consequência, uma depressão”.

Muito mais tecnologia

A revolução audiológica não para, exitem tecnologias que tratam perdas moderadas, que reconstituem ossículos do ouvido e que conduzem novamente o som. Entre esses destaques estão o BAHA e o Carina. Acesse o portal da Revista Corpore e saiba ainda mais:  www.revistacorpore.com.br.

Pais devem estar atentos

Quanto mais rápido se descobre o problema auditivo, maior é a chance de a pessoa voltar a ouvir bem. Segundo Dra. Izabella, atualmente, os pais podem verificar se a criança tem algum problema auditivo logo nos primeiros dias de vida. Basta atentar às seguintes questões:

  • Fazer o teste da orelhinha logo que o bebê nasce. O exame mostra se a criança tem ou não algum problema auditivo;
  • Conhecer o desenvolvimento normal de audição e de linguagem da criança – informação que pode ser obtida com o pediatra;
  • Observar se a criança deixa o volume da TV muito alto, ou se é necessário chamá-la sempre mais de uma vez;
  • Perceber se a criança demora a falar. Entre quatro e cinco meses, ela deve começar a balbuciar e falar suavemente.

Atenção

É preciso detectar o problema de perda de audição, de preferência, até os seis meses, período fundamental para o desenvolvimento da linguagem. Após esse tempo, a criança já terá atraso de linguagem e fala.

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