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Mudanças de vida após a cirurgia bariátrica evitam reganho de peso

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Para os milhares de obesos de todo o mundo, a descoberta da cirurgia bariátrica parecia a solução mágica, não só na briga contra a balança, mas também para os demais problemas de saúde que a obesidade causa. Entretanto, com o tempo, observou-se que alguns operados voltavam a engordar, o que trouxe dúvidas quanto à eficácia do tratamento. O que faz alguns obterem bons resultados e outros, não? É possível evitar o reganho de peso?

De acordo com o cirurgião do aparelho digestivo Paulo Afonso Nunes Nassif – que há vários anos coordena uma equipe multiprofissional de tratamento da obesidade –, nos casos de obesidade severa, a cirurgia é, sim, um tratamento eficaz. Porém, depende de correta indicação, preparo adequado no pré-operatório e acompanhamento clínico permanente após a cirurgia, orientando o paciente a adotar e manter hábitos saudáveis de alimentação e prática de exercícios físicos para toda a vida.

A obesidade é uma doença crônica, complexa, que deve ser tratada e acompanhada em longo prazo. A cirurgia é uma importante ferramenta, que impulsiona o indivíduo obeso a perder grande quantidade de peso e sair do quadro de risco. Todavia, só a mudança de vida garantirá a manutenção desses resultados.

“O emagrecimento pós-cirúrgico acontece em função de mecanismos restritivos, que diminuem a quantidade de alimento ingerido, e por uma série de alterações hormonais e metabólicas que a técnica proporciona”, explica Dr. Paulo Nassif. “Com o tempo, o organismo se adapta a essas modificações e um aumento de peso discreto é esperado. Mas, se o paciente não aproveitar essa grande perda de peso inicial para se adaptar a novos hábitos alimentares e a iniciar a prática de atividades físicas, esse aumento de peso pode continuar.”

O paciente precisa ter consciência de que só a cirurgia, sem mudança de hábitos alimentares, não vai funcionar. Por isso, é importante que o acompanhamento da equipe multiprofissional não acabe na cirurgia. Assim que identificado o ganho de peso, cada profissional deve fazer as adaptações necessárias, para evitar que se torne algo incontrolável.

 

Revivendo o desespero

O representante comercial Marcelo Pereira Pinheiro, 45 anos, vivenciou o desespero de ver o ponteiro da balança voltar a subir. Há 11 anos, após a cirurgia bariátrica, ele perdeu mais de 50 quilos e se livrou do diabetes e dos altos índices de colesterol e triglicerídeos. Porém, no ano passado, em função de um problema de quadril, foi proibido de praticar atividades físicas. Somando-se os desequilíbrios na dieta alimentar e problemas emocionais, ele ganhou 10 quilos.

“Quando me pesei, levei um choque e imediatamente fui buscar ajuda para perder peso, antes que isso se agravasse e se tornasse algo inatingível, como vivi no passado”, conta Marcelo.

Desde então, três meses se passaram e ele já está novamente voltando ao peso que tinha antes. E promete continuar se cuidando para que, no início de 2015, quando será pai novamente, esteja em forma para receber a pequena Ana.

 

Correndo atrás do prejuízo

Segundo Dr. Paulo, uma das maiores armadilhas para o reganho de peso é o paciente acreditar que, porque está magro, pode comer e beber o que quiser com a certeza de que não irá mais engordar.

Foi a vida social cheia de compromissos e festas que levou a advogada Elyamara Hannuch, de 42 anos, a sair da dieta alimentar  15 anos após a cirurgia que a fez perder 52 quilos. “Eu até já havia engordado um pouquinho antes, com a gestação e a adaptação do organismo, mas no último ano saí do meu ritmo e acabei ganhando mais peso. Mas já estou correndo atrás do prejuízo, fazendo atividade física diária e dieta alimentar, para voltar ao meu peso ideal”, garante Elyamara.

O problema é que, segundo estudos, algumas pessoas, diferente de Marcelo e Elyamara, fazem a cirurgia, emagrecem e nunca mais voltam às consultas médicas e ao acompanhamento dos demais profissionais, como fisioterapeutas, psicólogos e nutricionistas. Além do ganho de peso, esses “fujões” podem sofrer outras alterações, como desnutrição, desequilíbrios hormonais e emocionais.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), o principal objetivo da cirurgia é melhorar a qualidade de vida do paciente, com o controle dos problemas de saúde que acompanham a obesidade, como: hipertensão arterial, diabetes, colesterol e triglicérides alterados, apneia do sono e doenças cardiovasculares. Portanto, a perda de peso não é o único parâmetro para avaliar o resultado do tratamento cirúrgico. Mas é muito importante que o paciente, mesmo depois de ter emagrecido e estar com todos esses parâmetros controlados, não abandone o tratamento.

“A obesidade é como qualquer outra doença crônica, que tem controle, mas não tem cura; por isso, deve ser permanentemente monitorada pela equipe de saúde. Após a cirurgia, para ter uma vida saudável, é necessário ter uma dieta equilibrada e exercitar-se – uma recomendação não só para os obesos, mas parar todos que buscam uma vida saudável e equilibrada”, completa o cirurgião.

 

Dedicação que evita problemas

A empresária Priscila Garcia não quer nem lembrar da obesidade e de todos os malefícios que trazia à sua vida e ao seu relacionamento familiar, por não ter disposição de brincar com sua filha. Por isso, após ter perdido 32 quilos com a cirurgia bariátrica, há um ano, ela decidiu mudar completamente de vida e seguir corretamente todas as orientações que recebeu no processo pré-operatório.

“Com a perda de peso, pude voltar a fazer atividades físicas, pois antes já não estava mais conseguindo. Além disso, manter uma dieta saudável é muito mais fácil com a redução do apetite que a cirurgia traz. Preciso aproveitar essa fase de mudança do organismo pós-cirurgia para me adaptar a essa nova vida. Hoje me sinto outra pessoa, mais feliz, mais bonita e muito mais disposta. Não quero de jeito nenhum perder tudo o que conquistei, por isso faço tudo bem direitinho”, afirma.

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