Gastroenterologia

Uma viagem pelo corpo humano

Cápsula endoscópica percorre todo o trato digestivo com capacidade para descobrir doenças no estômago e intestino

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A medicina não para de descobrir novos meios para garantir diagnósticos precisos e salvar vidas. E nesse caminho de muitas pesquisas, algumas inovações surpreendem, como a cápsula endoscópica, que percorre o  estômago, intestino delgado e grosso, com capacidade para tirar até 50 mil fotos em 8 horas ininterruptas de exame. Ela faz o mesmo caminho dos alimentos, gerando um filme desse trajeto, e pode revelar doenças até então escondidas e inacessíveis pelos métodos convencionais de diagnóstico. Tudo isso em apenas uma cápsula que pesa cerca de 3 gramas, mas contém microcâmera, flashes e sistema para transmissão das imagens. Parece uma engenhoca do futuro, mas já é realidade.

Os gastroenterologistas Sérgio Hirata e Clóvis Massaki Kuwahara avaliam que o exame é uma revolução, principalmente para descobrir enfermidades no intestino delgado. “Essa área era de difícil acesso, um continente obscuro e o único exame que tínhamos para ver era o Raio-X, que não dava acesso para visualizar a mucosa”, conta Dr. Hirata. Isso porque o Raio-X, na verdade, mostra apenas uma sombra do intestino, o que não era válido para detectar algumas doenças. Exames de imagens como endoscopia e colonoscopia não acessam essa parte do corpo, ficando limitados ao estômago e intestino grosso. “O intestino fino tem de 5 a 10 metros de extensão e não conseguíamos chegar a essa região com opia ou colonoscopia. Com a cápsula, começamos a descobrir doenças que não achávamos antes”, completa Dr. Kuwahara.

A solução para um tratamento adequado

Pacientes que sofriam de sangramentos de origem obscura, tinham dores abdominais sem causa definida, diarreias crônicas ou doenças inflamatórias do intestino delgado, que antes não conseguiam um diagnóstico preciso, agora com a evolução conquistada com a cápsula, é possível saber em detalhes a situação. Isso faz toda a diferença no diagnóstico, pois pode-se tratar as doenças de uma forma mais adequada. “Começamos a ter diagnósticos de síndrome de Pathes (Peutz Jeghers), doença de Crohn e síndrome de má absorção com o uso da cápsula. Para pacientes que não tínhamos diagnóstico, foi uma solução”, indica Dr. Hirata.

O exame pode revelar ainda câncer no intestino delgado e doença celíaca (alergia ao glúten).   A única contraindicação é a suspeita se o paciente tem obstrução intestinal, o que impossibilita a eliminação da cápsula. Dr. Clovis Kuwahara lembra de um paciente que tinha anemia e não se descobria a causa. “Com a cápsula foram diagnosticadas várias úlceras no intestino delgado, que estavam levando a outros problemas hepáticos. Com o resultado em mãos, foi possível iniciar o tratamento adequado para o caso. E o paciente voltou a ter saúde e qualidade de vida”, conta.

O exame tem uma grande vantagem em relação aos já existentes: é indolor e o paciente pode seguir com a rotina habitual. Pela manhã ele vai ao consultório e engole a cápsula, que tem o tamanho de um comprimido. É preciso ficar as primeiras quatro horas em jejum e depois seguir dieta indicada pelos profissionais. Um aparelho receptor é entregue ao paciente e fica fixado por meio de um cinturão. Por sistema wireless (sem fio), esse equipamento capta todas as imagens geradas pela cápsula, que pode tirar até duas fotografias em um segundo. No fim do dia, o paciente retorna para entregar esse aparelho e o médico vai selecionar as imagens, gerando um filme de todo o percurso com cerca de uma hora de duração. A cápsula é eliminada naturalmente pelo organismo. “Essa foi uma das novidades tecnológicas que mais chamou a atenção nos últimos tempos. Não imaginava que um dia seria possível viajar pelo corpo”, diz Dr. Kuwahara. Ele aponta que a cápsula é um instrumento de diagnóstico, e depois é preciso fazer o tratamento conforme a indicação e doença detectada.

 

Mais uma inovação

Como inovar é sempre o caminho escolhido pelos dois especialistas da Gastroclínica, eles esperam ainda para esse ano um novo aparelho que vai complementar a ação da cápsula: a enteroscopia. O exame pode ser feito por via alta (boca) ou baixa (ânus) e enxerga até seis metros do intestino fino. Além disso, é indicado para os pacientes que se submeteram à cirurgia de redução de estômago para acessar a parte do órgão que ficou inutilizada. “Estamos na fase de estudo para ver possíveis enfermidades nesse estômago excluso. Infecções por fungo é uma das possibilidades”, antecipa Dr. Kuwahara.

Dr. Sérgio Hirata detalha que a enteroscopia é feita com sedação e acompanhamento de dois médicos mais o anestesista, para que o paciente tenha conforto e tranquilidade. “Com ele, além do diagnóstico, vamos fazer a terapêutica. Se tem sangramento, por exemplo, vamos conseguir cauterizar o local, tumores benignos podem ser retirados durante o exame, assim como verrugas (pólipos)”, descreve. No exame também são coletadas amostras para biópsia quando necessário. As indicações são as mesmas da cápsula, sangramentos obscuros, dores abdominais e anemias sem causa definida. Os dois exames caminham de mãos dadas. “Eles andam juntos. Fazemos o exame da cápsula endoscópica e se identificarmos a lesão, faremos a enteroscopia”, resume Dr. Kuwahara.

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