Medicina

Tratamento integrativo na dor crônica

Nova visão da neurologia integra diversas áreas da saúde e técnicas modernas no tratamento da dor

Cerca de 30% da população mundial sofre com algum tipo de dor crônica. Ela se caracteriza por ser uma experiência sensitiva e emocional desagradável, que está associada ou relacionada a uma lesão real ou potencial dos tecidos. Desde bebês já convivemos com a dor e vamos criando uma percepção natural e individual, que nos ensina a lidar com ela através de nossas experiências.

“A dor crônica é multidimensional, e quem a tem passa por um grande fardo, pois não afeta só a pessoa, mas prejudica toda a sua estrutura: família, convívio social, trabalho, finanças, saúde emocional e a qualidade de vida. Por isso é tão necessário tratá-la e combatê-la com eficiência”, explica o médico neurologista Dr. Rauph Guimarães, especializado em Dores Crônicas, Medicina Regenerativa e Estimulação Cerebral não Invasiva, além de ser fundador do NeuroBrain Instituto em Curitiba.

A dor deixa de ser um sinal ou sintoma de alerta e se torna uma doença crônica quando há sensibilização no sistema nervoso periférico ou central e passa a existir uma “memoria dolorosa” que fica armazenada nas terminações nervosas na pele, na medula espinhal e no próprio cérebro. “Também há um excesso das vias de percepção da dor, desde a pele, passando pelos nervos e chegando até a medula espinhal, que se tornam eletroquimicamente alteradas e hipersensíveis aos estímulos. Outras falhas que podem ocorrer, nos portadores de dor crônica, são nos mecanismos de inibição da dor, que chegam a causar danos cerebrais, como atrofia de até 16% na região frontal do cérebro, causando perda de memória, depressão, fadiga, falta de motivação, insônia, entre outros sintomas secundários a dor. Felizmente, todas essas alterações podem ser revertidas com o tratamento adequado e especializado”, revela Dr. Rauph.

Norrmalmente, a primeira medida que o paciente toma é a de procurar um médico para tratar a sua dor, realizar exames e iniciar o tratamento com medicações. “Mas frequentemente o paciente é diagnosticado e tratado de forma inadequada, fazendo passar por vários profissionais, pois o atendimento não é realizado por um especialista em Dor Crônica, o que traz diversos prejuízos, podendo levar a quadros graves de depressão”, ressalta.

De acordo com o especialista, a medicina tradicional é efetiva entre 30% e 40% dos casos de dores crônicas, mas é preciso olhar o paciente como um todo. “Muitas vezes, as causas são multifatoriais, e o problema não está necessariamente onde a dor está. Os maus hábitos de vida, a falta de atividade física, alterações hormonais, carências de vitaminas, alimentação inadequada, intolerâncias, traumas, vícios, intoxicação por metais tóxicos, parasitas, toxinas ambientais, hipersensibilidade à radiação eletromagnética (celular, micro-ondas, torres, antenas) e até o estado emocional podem ser alguns desses fatores”, enfatiza Dr. Rauph, que aposta no trabalho interdisciplinar na área da saúde para um tratamento mais efetivo.

A dor envolve todo o sistema nervoso central, e a neurologia tem uma grande abrangência nos tratamentos; afinal, muitas dores estão relacionadas a neuropatias, nevralgias, cefaleias, doenças degenerativas entre outras. E para se realizar o diagnóstico, os exames são fundamentais. “Hoje, contamos com uma gama de exames que avaliam e identificam as possíveis causas das dores e outros que aprofundam essas análises. A termografia, por exemplo, avalia o metabolismo e perfusão corporal, sendo um exame fundamental para diagnóstico da memória dolorosa, detectando ainda alterações presentes nas fibromialgias, neuropatias, nevralgias e a síndrome de dor complexa regional; A técnica ainda nos direciona para fazermos infiltrações e tratamentos guiados com maior precisão. A eletroneuromiografia é outro exame importante para o aprofundamento do diagnóstico, pois mede o tempo de resposta de cada nervo e mensura a força muscular”, destaca o neurologista.

Trabalho interdisciplinar

As técnicas aplicadas pela neurologia integrativa e funcional vão desde medicamentos, uso da toxina botulínica tipo A (Botox), estimulação cerebral não invasiva, ondas de choque, terapia por campo magnético pulsado, até uso de canabidiol, recentemente aprovado no Brasil. Mas o que tem trazido resultados significativos é o trabalho entre a medicina e outras áreas dentro da fisioterapia, psicologia, odontologia e nutrição. “Terapias manuais, hipnose, meditação, fisioterapia moderna com ondas supersônicas, técnicas de pulso eletromagnético, desintoxicação e, principalmente, mudanças de hábitos são alguns dos recursos que podem ser utilizados, juntamente com a medicação, para suprimir as crises e devolver ao paciente o bem-estar e a qualidade de vida”, revela Dr. Rauph.

Foi o caso da empresária Dulcinéia Frison, 45 anos, que sentia dores pelo corpo todo, mas sua principal queixa era a labirintite. Depois de realizar exames e tratamentos com diversos profissionais, sem êxito, ela encontrou a solução para suas dores no tratamento interdisciplinar. “Eu tenho fascite plantar, artrose nos quadris, tendinite nos tornozelos, além de contração e inflamação nos trapézios, e os remédios não estavam mais ajudando”, relata Dulcinéia. Os tratamentos foram totalmente alterados. “Fiz exames, tomei vitaminas, realizei sessões de acupuntura e dry needling (espécie de agulhamento, feita com agulhas mais finas que da acupuntura). E com uma mudança de hábitos, hoje estou bem, não uso mais medicamentos, não tenho mais labirintite e nem dores!”, celebra a empresária.

O fim das dores de cabeça

A advogada Sandra Sampaio, 51 anos, sabe bem o que é conviver com a dor, ou soube. Diagnosticada há dez anos com cefaleia, Sandra, que na época morava na China, tentou por quatro anos tratamentos da medicina tradicional chinesa. “Além das terapias, passei a usar medicamentos de uso contínuo e tive acompanhamento neurológico em todas as vezes que vinha ao Brasil”. Em 2013 ela voltou ao país, e suas dores vieram junto. “Parecia que cada vez mais eu ficava resistente aos medicamentos. Eu permanecia sofrendo com as fortíssimas dores, causando náuseas, hipersensibilidade à luz, que me impediam de dirigir e trabalhar, além de grande sensibilidade auditiva, que só aliviava com mais remédios e muito gelo em toda a cabeça”, conta.

O sofrimento vivido por Sandra começou a ficar para trás quando ela buscou um novo tratamento, à base de medicamentos específicos, aplicação da toxina botulínica e infiltração com agulhamento. “Fiz duas aplicações da toxina com um intervalo de seis meses e me senti muito bem. Hoje, além de estar com o problema sob controle, deixei de usar o antidepressivo. As crises fortes nunca mais voltaram, e a minha disposição física e mental foi recuperada. Retomei as minhas atividades profissionais e pessoais com energia; reiniciei a prática de exercícios, implementei uma pequena reeducação alimentar, e a minha qualidade de vida e saúde melhorou muito!”, celebra a advogada.

A dor (que não) vai embora

Diagnosticada com neuropatia periférica – doença que, além de dormência nos pés e nas mãos, causa dor generalizada –, a professora aposentada Elza Mesquita de Paula, 70 anos, viu a vida perdendo a cor e a graça. “Eu tinha dificuldades até para me manter em pé. Isso foi depois de uma forte dor no abdome, que me levou à internação. Na época, fui diagnosticada com carência de vitamina B12. Cheguei a perder 30 kg”, relata. Por causa de um diagnóstico errado, a professora passou por vários especialistas, até descobrir que as dores tinham outra companheira silenciosa: a depressão. A eletroneuromiografia detectou a fraqueza nos músculos e em toda a estrutura de Elza. De imediato, o tratamento proposto combinou medicamentos que prometiam mandar a dor embora, mas ela não foi e, novamente, foi optado pela troca de medicações. “Foi difícil entender o que eu tinha e aceitar que a dor teria de conviver comigo e eu com ela. Mas a troca de medicamentos foi essencial e, aos poucos, eu vi as dores diminuindo. Ainda não estou curada, o tratamento é contínuo, mas posso afirmar que estou 100% livre da dor. Obviamente, precisou modificar muitos hábitos e posso garantir que o tratamento mudou a minha vida da água para o vinho. Hoje, sou outra pessoa, alegre e cheia de esperanças em viver!”, comemora Elza.

“O foco é trabalhar integralmente o paciente, pois somente com uma melhora sistêmica é que os resultados começam a ser sentidos. Um paciente que tem analgesia de suas dores melhora seu bem-estar, e o primeiro grande reflexo é a regulação do sono. Dormir bem e continuamente trará vigor, estabilização dos hormônios, humor, e isso refletirá no quadro geral das queixas”, enfatiza o neurologista. Para a equipe, hábitos alimentares saudáveis, a desintoxicação de modo geral, a melhora do metabolismo, da imunidade, o gerenciamento do estresse e o controle mente-corpo merecem atenção especial, por isso são utilizadas terapias inovadoras, comprovadas e aceitas pela ciência da saúde. “Os tratamentos são duradouros, mas geralmente os resultados já são sentidos nas primeiras quatro sessões. O tratamento individualizado visa auxiliar os mecanismos de autocura do organismo, evitando procedimentos invasivos sempre que possível e uso prolongado de medicamentos químicos e agressivos”, ressalta Dr. Rauph.

Terapias em destaque

A NABBA (Neuromodulação Autonômica Biofísica, Bioeletroquímica e Bioenergética Adaptativa) funciona como uma acupuntura medicamentosa na qual todos as cicatrizes da dor e histórico de vida são abordadas e reorganizadas, assim o sistema nervoso autônomo e a “memória de dor” vão sendo “resetadas”.
• A estimulação cerebral não invasiva, como a TMS (estimulação magnética transcraniana) e a TDCS (estimulação elétrica transcraniana), são terapias que estimulam os neurônios a gerarem uma química, os neurotransmissores, principalmente dopamina, serotonina e adrenalina. Ela pode ser indicada principalmente em situações de dores crônicas, fibromialgia, lesões da medula espinhal e neuropatias. Utilizada também em sequelas de AVC, Parkinson, Alzheimer, hiperatividade, pânico, insônia, problemas de memória e aprendizagem.
O neurofeedback identifica áreas que estão mais lentas ou mais rápidas no cérebro e promove uma autorregulação. Através de exercícios, jogos, imagens e músicas, com interface entre a mente e o computador, é possível reprogramar os padrões elétricos cerebrais e alterar comportamentos. A técnica é muito aplicada para TDHA, autismo, depressão, pânico e insônia. Na dor, ele modifica a ciclo vicioso da memória cerebral.
A terapia de campo magnético pulsada (PEMFT) é uma tecnologia alemã, reconhecida, aprovada e indolor, que através de um campo magnético emite pulsos elétricos que estimulam a regeneração, através da melhora da oxigenação dos tecidos. É utilizada para estimular o crescimento ósseo, recuperar lesões e aliviar dores. Na neurologia, a terapia atua na analgesia de dores, neuropatias, neuralgia do trigêmeo DTM, fibromialgia e cefaleia. • Terapia por ondas de choque são ondas de som, ultrassônicas, que estimulam a regeneração e ativam os mecanismos de defesa do corpo. No Brasil, é utilizada há dez anos, mostrando-se segura e eficaz em cerca de 70% a 85% dos casos. O NeuroBrain Instituto é um dos pioneiros nessa técnica em Curitiba.
A aplicação da toxina botulínica tipo A (Botox) é proposta, principalmente, nos casos de cefaleia, mas também tem grande ação nas dores musculares críticas, nevralgias da face e neuropatias do diabetes. O tratamento com a toxina botulínica tem se mostrado muito efetivo, já sendo aceito até por algumas seguradoras e autogestoras em saúde.

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