Quando a opção é a cirurgia
Avanços tecnológicos e procedimentos menos invasivos permitem a retomada de uma vida normal para quem tem problemas de coluna
A população adulta está apresentando cada vez mais problemas de coluna que antes eram relacionados apenas às pessoas idosas: hérnia de disco, cervicalgia, lombalgia e artrose estão no topo da lista das patologias que acometem a faixa etária entre 30 e 40 anos, assim como aumentam o número de procedimentos cirúrgicos. A falta de condicionamento físico, de alongamento e fortalecimento muscular e até mesmo o sobrepeso são alguns dos fatores que colaboram para que os índices só aumentem. Contribuem para isso os maus hábitos posturais, isso também devido ao uso excessivo de celular e a tensão vivida no dia a dia, que afeta, e muito, a saúde da nossa coluna, refletindo em uma maior incidência de pacientes jovens nos consultórios de ortopedia.
“O tratamento médico clínico, realizado com base nos medicamentos, e infiltrações locais, além de acompanhamento fisioterapêutico, são na maioria das vezes suficientes para restaurar as funções, minimizar a dor e devolver o conforto ao paciente. Mas a mudança de hábitos é a chave para mantê-lo fora de risco”, alerta Dr. Rodrigo Boechat, cirurgião-ortopedista, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e da Sociedade Brasileira de Coluna (SBC), com especialização e aprimoramento no Brasil e na Alemanha.
O especialista ressalta que quando o tratamento é cirúrgico é muito importante que o paciente, para evitar a reincidência das dores e se manter com saúde, crie a consciência de que é preciso que os hábitos saudáveis estejam presentes no dia a dia dele. “Hoje, com a evolução das técnicas cirúrgicas, que são bem menos invasivas, os procedimentos permitem uma recuperação mais rápida e oferecem menos riscos”, enfatiza Dr. Rodrigo.
Cirurgia endoscópica de coluna
O cirurgião-ortopedista faz questão de salientar que as cirurgias devem ser indicadas apenas quando todas as outras opções de tratamentos clínicos não demonstrarem melhora efetiva ao paciente: “Costumo dizer que grande parte da população possui hérnia de disco e muitos nem sabem, porque o grau é leve ou moderado. O problema é quando essa hérnia traz prejuízos à vida da pessoa, a incapacita de exercer suas atividades, paralisa um membro ou prejudica algum órgão por causa de sua extensão. Nesses casos mais severos, a cirurgia pode ser indicada, sempre avaliando minuciosamente o quadro do paciente”, explica Boechat.
Doutor Rodrigo conta que na cirurgia endoscópica minimamente invasiva há incisões menores, instrumentos mais delicados, tempo de cirurgia reduzido, menos trauma e sangramento durante o procedimento, e o paciente tem uma recuperação menos dolorosa e muito mais rápida. “Isso encurta a permanência no hospital, o que é muito importante para evitar infecções. Ainda melhora o pós-operatório, e o paciente retorna rapidamente a suas atividades”, enfatiza o cirurgião-ortopedista, que juntamente com sua equipe realizam cirurgias de coluna com ênfase à correção de patologias e deformidades.
Existem casos em que a cirurgia endoscópica não pode ser aplicada, mas os avanços da medicina permitem ampla utilização de técnicas de navegação durante o procedimento e a monitoração da medula (antes, durante e após a cirurgia), além do uso de microscópio, possibilitando melhora no campo de visão, o que torna o procedimento, mesmo convencional, menos invasivo e com menos riscos ao paciente. “Precisamos sempre buscar o conhecimento e oferecer técnicas cirúrgicas, minimamente ou menos invasivas, que devolvam a mobilidade, o bem-estar e a qualidade de vida ao paciente”, destaca Dr. Rodrigo, que recentemente participou de aperfeiçoamento no Texas (EUA) sobre Técnicas de Navegação Durante a Cirurgia.
Os avanços não param
A Ortopedia, atualmente, conta com técnicas inovadoras, como a Radiofrequência, um procedimento realizado através da inserção de uma agulha que, por meio de raio-X, é posicionada no local que está provocando a dor e, por emissão de calor, causa a lesão dos ramos nervosos ou a modulação das sinapses nervosas, sempre preservando a parte do nervo responsável pela força e sensibilidades. É indicada principalmente para tratamento de dor crônica nas regiões lombar, torácica e cervical, podendo ser a Radiofrequência Convencional (RFC) ou a Radiofrequência Pulsada (RFP). Outra técnica é a Cimentação de Vértebras ou Vertebroplastia, minimamente invasiva, que fortalece a estrutura e devolve a massa perdida dos ossos, em casos de osteoporose, ou então fissuras, no caso de fratura por compressão vertebral. Há ainda a Artrodese, que obteve ganhos pela tecnologia que imobiliza uma ou mais articulações instáveis, eliminando a dor causada pela movimentação dessas articulações. “Podemos ainda usar próteses e enxertos ósseos para estimular a formação do osso no local afetado”, comenta o especialista.
É preciso uma boa avaliação, e somente o médico especialista poderá fazer e indicar o melhor procedimento para cada caso. “Nossas decisões se baseiam na queixa principal, na avaliação física realizada na consulta, nos exames de imagem e na análise do perfil do paciente: com o que trabalha, quais suas atividades, se é sedentário, entre outros aspectos”, esclarece Dr. Boechat.
Vida normal após a cirurgia
A escoliose idiopática acompanhava o empresário Ângelo Bruno Garcia, 29 anos, desde os 12 anos. Ele conta que em 2001, durante uma avaliação física na escola, seu professor recomendou que buscasse um médico, pois havia identificado um desvio na coluna. “Na época, a escoliose era de 12 graus, e eu a acompanhei até com quase 15 anos, com a evolução chegando a 34 graus; sendo recomendado o uso do colete de Milwaukee. Aos 20 anos, fiz o procedimento cirúrgico”.
A cirurgia foi feita em uma segunda-feira: “Três dias depois eu já estava andando e na sexta-feira fui para casa. No início foi estranho, eu me sentia esticado e ‘travado’, até pelo receio de me machucar, mas, depois das duas primeiras semanas, a adaptação foi muito rápida. Porém, para evitar qualquer choque na coluna, fiquei dois anos sem fazer exercícios”, conta. Hoje, o empresário leva uma vida normal: faz musculação, corre, joga bola, toca violão e guitarra e trabalha normalmente. “Só quando deito de mau jeito me dói um pouco. Mas isso é uma queixa que quem tem uma coluna normal também teria”, brinca Ângelo.
Cirurgia na adolescência A estudante Mayara de Lima Mansas, 16 anos, diagnosticada com escoliose e curvatura torácica e lombar, submeteu-se à cirurgia no dia 1º de dezembro de 2017: “Antes, eu tinha muitas dores que afetavam meu dia a dia”, conta. De acordo com Hélio Mansas, pai da estudante, a cirurgia era bastante complexa, mas o especialista transmitiu muita segurança para a família. O período de recuperação demandou bastante atenção dos pais: “O processo foi um pouco difícil, por delimitar algumas ações e Mayara estar atenta o todo tempo na correção da postura”, conta Hélio.
Antes do procedimento, Mayara, para amenizar as dores nas costas, tentou a natação. Contudo, o alívio veio somente com a intervenção cirúrgica. “Sinto-me muito bem, às vezes até esqueço que fiz cirurgia!”, conta animada. Com o procedimento, alguns hábitos precisaram ser revistos e, hoje, Mayara dorme numa cama mais firme e evita atividades repetitivas por muito tempo.
Mantendo os bons hábitos
O analista de sistemas Angelo Zanata, 61 anos, tinha dormência nas mãos e dificuldades na coordenação motora. “Eu sentia dificuldades ao caminhar, ao digitar texto, além de dores e desconforto”. Como primeiro recurso, o analista não optou pela cirurgia: “Fiz fisioterapia para fortalecer os músculos e suprir a deficiência dos ossos e cartilagens; também utilizei medicamentos para dor e tratamentos alternativos, como a acupuntura, por cerca de seis meses”, relata ele.
Com o diagnóstico de mielopatia cervical (compressão da medula espinhal na região do pescoço), Zanata teve como indicação a cirurgia, feita em maio de 2017. Segundo ele, “o procedimento foi realizado com a inserção de espaçadores entre as vértebras C2 e C7 para resolver a compressão medular. O corte foi fechado com pontos, mas o trabalho ficou tão bom que as marcas são imperceptíveis!”, celebra. Atualmente, Zanata leva vida normal: “Retornei ao trabalho após 15 dias, tive um ótimo restabelecimento e cicatrização e nenhuma sequela. Sinto-me muito bem, sem os sintomas, trabalho e faço tudo de forma normal, perfeita. Mudei alguns hábitos. Antes praticava futebol, esporte que tem muito contato físico. Hoje, faço caminhadas regulares, academia, corro sem forçar e ciclismo”, conclui.
“Nossas decisões se baseiam na queixa principal, na avaliação física realizada na consulta, nos exames de imagem e na análise do perfil do paciente.” – Dr. Rodrigo Boechat
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