Organizando a mente e a vida
Entenda como a neuropsicologia ajuda a tratar os transtornos de comportamentos, as dificuldades de atenção, a memória e a organização de metas na vida
Sabe aquela sensação que sentimos quando estamos perdidos, confusos, no meio de um turbilhão? Mas não conseguimos reagir ou saber para onde ir. Tudo o que queremos é que alguém nos pegue pela mão e nos ajude a resolver todos os nossos problemas!
Quem já passou por isso? Ou passa? A neuropsicóloga Elciane Lipski sabe bem, pois vivencia histórias de adultos, jovens e até crianças com dificuldades extremas em organizar suas vidas, de trabalhar comportamentos e questões que precisam de orientação e condução para ajudar a reorganizar as rotinas e encontrar estratégias na resolução dos problemas.
“Transtornos de comportamento, déficit de atenção, hiperatividade, falta de concentração, foco, problemas de memória, fadiga emocional, dificuldade na aprendizagem, confusão mental – além dos traumas emocionais, passados ao longo da vida – precisam ser identificados e tratados, e a psicologia, com o auxílio das técnicas modernas da neuropsicologia, tem colaborado de forma efetiva nesses tratamentos”, ressalta psicóloga Dra. Elciane Lipski, que é especialista em Neuropsicologia e Reabilitação Psicológica pela USP, pós-graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional, especialista em Educação Especial e responsável pelo Espaço Recriar em Curitiba.
A especialista explica que o processo é literalmente pegar na mão e ajudar, dentro de uma rotina de tratamento, até que a pessoa possa criar suas próprias estratégias e conduzir sua vida. O papel do neuropsicólogo é o de avaliar as ações e o comportamento com base neurológica e identificar os déficits cognitivos que causam as alterações comportamentais e emocionais. “Existe uma série de terapias e protocolos que ajudam a desenvolver as potencialidades e a restaurar o equilíbrio. Na reabilitação aplicamos instrumentos e tarefas de estimulação da inteligência, atenção, memória, planejamento, compreensão visual, auditiva, além de outros exercícios. Utilizamos ainda, junto com outros profissionais, a psicoterapia, o biofeedback e a psicopedagogia para ajudar na melhora da atividade cerebral e autonomia”, destaca Dra. Elciane, que também atua com médicos psiquiatras e neurologistas.
Vencer os obstáculos e seguir em frente
Há 12 anos, a vendedora Jussara Schenker se sentia perdida, estava desmotivada e infeliz, principalmente com seu trabalho. “Fui diagnosticada com síndrome de Burnout, estava estafada, me sentia fraca, pressionada e limitada, tinha fortes dores e não conseguia mais trabalhar. Também não estava feliz com questões pessoais, a vida financeira estava uma bagunça, tinha dívidas e isso me angustiava. Meus projetos e sonhos pareciam cada vez mais distantes”, relata a vendedora. Durante as sessões, Jussara foi auxiliada a traçar metas tendo como prioridade a vida pessoal e financeira, também conseguiu um afastamento do trabalho para tratar sua saúde. Depois, ela buscou algumas realizações pessoais, como a formação em Gestão Comercial, que por muito tempo foi adiada. “Fiz com sacrifício, mas foi gratificante. Minhas dores físicas continuavam, apesar dos tratamentos e, em função do problema no ombro, eu consegui me aposentar. Não foi fácil, mas as sessões ajudaram a lidar com a rotina, o planejamento e a seguir em frente, firme nos meus objetivos”, enfatiza. Hoje, com 57 anos, Jussara continua com a neuropsicologia e a fisioterapia para as questões físicas. “Posso dizer que consegui superar toda essa fase. O apoio dos filhos foi vital em todo o processo e celebro com eles minhas conquistas. Hoje viajo e planejo conhecer novos lugares, finalmente voltei a sonhar!”, comemora Jussara.
Apoio em todas as fases da vida
“Nos primeiros anos de vida do meu filho, percebi que ele era inquieto e bem ativo, mas quando Phillip começou a estudar foi que a ficha caiu!”, conta a mãe Kelly Gonçalves, de 36 anos. Após receber inúmeros convites para ir à escola, os pais identificaram que ele precisaria de auxílio. “Foi difícil aceitar que ele tinha um comportamento em casa e outro na sala de aula. Buscamos o apoio de um neurologista e o diagnóstico foi de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e foi aí que começamos com os tratamentos”, destaca a mãe.
Há quatro anos o menino vem recebendo acompanhamento multidisciplinar na Recriar, com o psicólogo e psicopedagogo Antonio Carlos Furtado Dorneles e Dra. Elciane. “Houve uma grande evolução, Phillip passou a interagir mais com os colegas, professores e a família. Ele trazia as questões que o afetavam e íamos trabalhando as situações, juntamente com as percepções da mãe, durante cada semana. Definíamos metas que Phillip compreendia e se comprometia em realizá-las”, enfatiza Dr. Antonio.
De acordo com o terapeuta, é preciso entender que, assim como um adulto tem suas tribulações e ansiedades, a criança e o adolescente também sofrem os dilemas da vida, e isso afeta o desempenho. “Problemas familiares, bullying , uma separação dos pais, a perda de um ente querido ou uma mudança abrupta de cidade são alguns dos fatores que interferem na saúde emocional da criança. Por isso o suporte terapêutico em pacientes jovens com distúrbios de comportamento é tão necessário”, reitera Antonio. O psicólogo salienta que a melhor evolução é quando o paciente é visto como um todo, quando suas habilidades são usadas para conseguir situações de sucesso, recuperando a autoestima e a percepção de si mesmo.
“O avanço se refletiu em tudo: na interação social, empatia, atitudes, foco e na forma de pensar antes de agir, inclusive em suas notas. Phillip, agora com 14 anos, está motivado, tem mais responsabilidade e é elogiado na escola, atuou até como monitor da turma. A reabilitação está sendo pontual!”, celebra Kelly. Para a mãe, o envolvimento da família é vital para superar os obstáculos do crescimento de um filho para uma vida sem grandes limitações. Segundo Dr. Antonio Carlos, é preciso ressignificar, organizar e reestruturar a vida com apoio.
Pacientes idosos
As famílias geralmente procuram o tratamento quando o idoso apresenta dificuldade em reter informações novas, se comunicar, expressar ou lembrar-se das coisas. Os lapsos de memória comprometem a saúde do idoso, ele muda o comportamento, deixa de fazer atividades, diminui a interação com as pessoas que convive e fica mais dependente. O medo da demência, doença de Alzheimer e de outras patologias tem feito diversos médicos recomendarem a neuropsicologia preventivamente. “Em boa parte dos casos, a terapia tem sido positiva, mas existem alguns idosos que não conseguem reabilitar as funções cognitivas. Para esses casos, desenvolvemos estratégias que compensem, que eles consigam desempenhar atividades mais importantes em sua rotina. Todos podem treinar e aumentar as capacidades e habilidades, é preciso canalizar naquilo que trará o maior benefício a seu favor”, conclui Dra. Elciane.
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