O que há por trás das horas de sono?
Mesmo as pessoas que dormem mal passam por todas as cinco fases do sono
Qualidade de vida não tem a ver, somente, com condição financeira, ter ou não um bom carro, roupas de marca, se sentir bonito ou, ainda, poder passear e viajar. A qualidade de vida tem como única relação a saúde e a disposição que temos para o trabalho profissional, o lazer e o próprio cuidado com o corpo. O resto são reflexos dessa conquista. Mas como ter qualidade e saúde se o principal modo de restabelecer e revitalizar o organismo, o sono, não está bom?
“É quando dormimos que acontece a regeneração celular e hormonal, ou seja, um bom sono é o alimento para termos uma melhor qualidade de vida”, ressalta o cirurgião dentista Dr. Marcello Tamura Brasil, graduado pela American Academy of Sleep Disorder (EUA), com especialização na área respiratória e Odontologia do Sono na University of British (Columbia – Canadá) e membro da Sociedade Brasileira do Sono. Uma noite bem dormida significa passar por todas as fases do sono (N1, N2, N3, N4 e o sono R.E.M.) e vivenciá-las por inteiro. “É nesse período que o nosso corpo, além de restabelecer a energia para o dia seguinte, produz hormônios de vital importância para a nossa saúde e bem-estar”, afirma Dr. Marcello.
Fases do sono
Ao dormir, o sono passa por cinco etapas. A fase N1 é a de vigília, a melatonina é estimulada a ser liberada antes de dormirmos, é ela que induz o sono. Na fase N2, os ritmos cardíacos e respiratórios diminuem e as ondas cerebrais ainda estão muito ativas. A fase N3 é caracterizada pelo resfriamento do corpo, o nível da temperatura cai e o corpo começa a produção hormonal. É na fase N4 que os hormônios serão fabricados: a serotonina, neurotransmissor que serve para conduzir a comunicação entre uma célula nervosa (o neurônio) para outra; o natriurético, que trabalha na parte urinária; as angiotensinas, que desempenham múltiplas funções sobre diferentes sistemas; as catecolaminas, que ajudam no controle da pressão arterial; e a somatomedina, hormônio que controla o padrão de emagrecimento, entre outros. “O sono R.E.M (Rapid Eye Movement), que na contagem seria a quinta fase, embora não seja classificado assim, é quando o relaxamento muscular atinge o seu máximo. Nesse momento, as baterias estão sendo recarregadas para o dia seguinte”, explica Dr. Marcello Brasil.
O cirurgião dentista ressalta que mesmo as pessoas que dormem mal passam por todas as fases, mas de maneira fragmentada, devido a pouca atenção que dão para a hora do descanso. “A pessoa acha que dormiu bem, mas não acorda com disposição, porque ocorrem as interrupções geradas, normalmente, pelo ronco e a apneia. Isso compromete não apenas a qualidade do sono, mas a produção dos hormônios”, destaca o especialista.
Outro fator que deve ser observado são os horários para dormir.
Em cada hora nosso corpo realiza uma ação:
| 21h a 23h: | O corpo faz a desintoxicação de químicos desnecessários por meio do sistema linfático. |
| 23h à 01h | É realizado o processo de desintoxicação da vesícula biliar. |
| 01h às 03h: | Acontece o processo de desintoxicação do fígado. |
| 03h às 05h | O corpo faz a desintoxicação dos pulmões. |
| 05h às 07h | Ocorre a desintoxicação do cólon. |
| 07h às 09h | Os nutrientes são absorvidos no intestino delgado, sendo o melhor horário para se tomar o café da manhã. |
Por isso, dormir tarde e acordar tarde pode interromper esse ciclo de desintoxicação de químicos desnecessários ao corpo humano.
Sintomas
Conheça alguns sintomas de distúrbios do sono:
- Sonolência excessiva durante o dia;
- Indisposição;
- Dores de cabeça matinal;
- Irritabilidade pela manhã;
- Alteração do humor (sem serotonina);
- Falta de concentração e memória.
Dos 120 distúrbios do sono catalogados, Dr. Marcello afirma que o pior é o ronco, por ser estigmatizado como um problema social que atrapalha o convívio com outras pessoas. Foi parando de roncar que José Carlos Belz, de 62 anos, manteve seu casamento. Depois das inúmeras reclamações da mulher, que não conseguia dormir direito ao lado do marido, José Carlos decidiu procurar ajuda de um profissional. “Fui tentar resolver o problema do ronco e descobri que também tinha apneia. Passei a usar a placa intraoral e hoje já não ouço mais reclamações da minha esposa. Parei de roncar e o problema da apneia foi curado. Sinto-me mais disposto, não tenho sonolência durante o dia e minha vida está mais harmônica e repleta de disposição”, conta José Carlos.
A apneia é um dos problemas mais graves. É uma parada respiratória que ocorre devido ao relaxamento dos músculos da garganta. Há um bloqueio da passagem do ar, interrompendo o sono diversas vezes e levando à suspensão da produção hormonal. O paciente que sofre com a apneia, ou mesmo com o ronco, pode apresentar problemas neurológicos. A falta de oxigenação adequada no cérebro pode levar ao déficit de atenção, sonolência e perda de memória. Em casos mais graves, o paciente pode desenvolver problemas cardíacos, já que com a parada respiratória o órgão que mais sofre é o coração. Os sintomas são taquicardia, arritmias e pressão arterial alta, além de aumentar em sete vezes o risco de acidente de trânsito. Outro problema comum é o muscular. As pessoas que sofrem desses males podem ter câimbras durante a noite.
Para descobrir se o paciente apresenta esses distúrbios é necessário realizar diversos exames clínicos, incluindo a polissonografia – exame que faz um check-up completo do sono. Ao identificar o problema, parte-se para o tratamento. A placa intraoral tem sido a opção mais indicada, pois facilita a respiração e apresenta boa adaptação. “Há dois tipos de placas para resolver o mesmo problema, a diferença é que cada uma atende padrões de bocas diferentes”, revela o cirurgião dentista.
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