O avanço da cirurgia de coluna
Técnicas avançadas aumentam a eficácia e a segurança das cirurgias da coluna vertebral, permitindo uma recuperação mais rápida aos pacientes
Apesar dos importantes avanços das técnicas cirúrgicas para o tratamento das doenças nas vértebras, a cirurgia de coluna ainda é um tabu entre os pacientes leigos e até mesmo entre os profissionais de saúde. Inúmeras são as preocupações com os riscos, as complicações e os resultados. Entretanto, de 1911 – quando foi realizada a primeira cirurgia de coluna nos Estados Unidos – para os dias atuais, muita coisa mudou. Os avanços tecnológicos, a anestesia, a técnica cirúrgica, a terapia intensiva e os exames de imagem permitiram aos cirurgiões superar os limites. Somente algo não mudou desde então: o estabelecimento de um diagnóstico preciso e a indicação adequada da técnica para cada caso são o caminho mais curto para a evolução favorável do paciente.
Nos Estados Unidos, são realizadas anualmente 250.000 cirurgias de coluna envolvendo a fixação das vértebras e enxerto ósseo. Indicadas para as mais variadas patologias, “essas cirurgias podem ser realizadas com inúmeras técnicas, desde as convencionais até as ditas minimamente invasivas. É importante destacar que a escolha da técnica é determinada em cada caso. Não há cirurgia ou técnica milagrosa, existem sim as técnicas que se ajustam a determinado caso, e o cirurgião de coluna atualizado deve transitar nessas opções”, afirma o cirurgião Dr. Rodrigo Boechat, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e da Sociedade Brasileira de Coluna (SBC) que possui especialização e aprimoramento no Brasil e Alemanha.
Em Curitiba, a equipe do Dr. Rodrigo Boechat e Dr. David Marcelo Duarte, da Clínica de Fraturas Hauer, realiza cirurgias da coluna vertebral, as mais simples e as mais complexas, utilizando desde técnicas mais clássicas até as ditas “minimamente invasivas”; dentre elas, a Artrodese Minimamente Invasiva, que envolve o uso de pequenas incisões para inserção de parafusos e enxertos ósseos. “Há espaço para todas as ferramentas que temos disponíveis hoje, mas lembramos que, embora a tecnologia moderna tenha forte apelo perante o público leigo, nem sempre essa é a melhor saída para o paciente. Cabe aqui a orientação profissional e ética do médico para indicar a técnica adequada e, inclusive, contraindicar uma cirurgia”, evidencia Dr. Boechat, que neste ano participou do último Congresso da Academia Americana de Ortopedia, realizado em Orlando (EUA).
“Abraçou a causa”
Portador de acondroplasia (nanismo), o técnico eletricista Celso Alves Pereira, 68 anos, foi um dos desafios enfrentados pelo Dr. Boechat, com resultado surpreendente. O paciente já havia se submetido a três cirurgias quando consultou o cirurgião e, inclusive, já tinha sido desenganado por outros profissionais por causa de sua precária condição de saúde em razão do nanismo. Embora praticante de caratê durante 12 anos, o eletricista sentia muitas dores provocadas pela degeneração da sua estrutura óssea, natural nesses casos. “Meu pai já tinha enfrentado três cirurgias que duraram até dez horas cada uma, já estava sem esperança de resolver seu sofrimento, mas a equipe abraçou a causa e o operou pela quarta vez com uma técnica realizada pela lateral do corpo. Durante o próprio monitoramento medular no decorrer da cirurgia já foi possível constatar a funcionalidade de suas pernas, o que já nos indicava o sucesso da cirurgia”, relata a filha, Sabrina Rocha Pereira.
A cirurgia de Celso foi realizada em abril deste ano, e o paciente já está movimentando as pernas, fica em pé e sente mais força nos membros inferiores. “Meu pai nasceu de novo!”, ressalta a filha. Para o eletricista, esse resultado foi uma dádiva. “Fiquei muito feliz quando soube que poderei voltar a andar. Sou um novo Celso, recebi a maior glória do mundo!”, comemora o paciente, em recuperação.
O perfil de prática do grupo de cirurgiões da Clínica Hauer envolve o tratamento de pacientes adolescentes e adultos com deformidades da coluna, cirurgias de hérnias de disco lombar e cervical, tumores e fraturas. “Procuramos nos reunir semanalmente para discutir os casos e buscar as soluções”, destaca o cirurgião Dr. David Marcelo Duarte, também membro da SBOT e da SBC, com especialização em cirurgia da coluna em São Paulo e nos Estados Unidos.
Monitoração da medula: maior segurança ao paciente
Considerando a segurança nas cirurgias de correções de escoliose de pacientes adolescentes, a equipe utiliza rotineiramente a Monitoração da Medula do Período Intraoperatório, que consiste na avaliação das funções motoras e de sensibilidade da medula espinhal antes, durante e após as correções das deformidades. “Esse recurso nos permite operar com mais confiança, ganhamos tempo na cirurgia e obtemos correções melhores”, explica Dr. Boechat.
A monitoração das funções medulares, no decurso da cirurgia de coluna, encontra sua principal aplicação no tratamento das deformidades de coluna vertebral (escoliose, sequela de fraturas) e nas cirurgias de coluna que envolvem elevado risco de dano neurológico (tetraplegia, paraplegia). “Como utilizamos técnicas eletrofisiológicas para confirmar o posicionamento dos parafusos, acabamos posicionando os implantes com maior precisão e diminuímos o risco de dano neurológico”, completa Dr. Duarte.
Além de aumentar a segurança das cirurgias, a monitoração medular permite aos cirurgiões estabelecerem prognósticos de pacientes com problemas neurológicos. “Existem situações em que se observa a melhoria das funções medulares durante a cirurgia, que mais tarde se manifestam com recuperação da força e sensibilidade nas pernas ou braços”, assegura o especialista. Infelizmente, os planos e seguros de saúde ainda não liberam o uso da técnica para todas as cirurgias. De modo que, para os procedimentos mais comuns, o uso desse recurso só é possível aos pacientes particulares.
A cirurgia de coluna com neuromonitoração envolve o entrosamento de toda a equipe cirúrgica. Inclusive, a anestesia deve ser muito bem planejada, pois, para o bom andamento da técnica, os anestésicos convencionais não podem ser utilizados. “Para reduzir riscos e executar a cirurgia com tranquilidade, todo o time tem de estar alinhado: cirurgiões, anestesiologistas, pessoal técnico de sala. Todos devem estar focados no melhor para o paciente”, finaliza Dr. Rodrigo Boechat.
Para a advogada Rose Mary Grahl, 50, a cirurgia de coluna foi a solução para as fortes dores que sentia. “No início, achei que as dores intensas eram decorrentes de um cateter de rim. Mas as dores aumentaram de tal forma que nenhuma fisioterapia ou medicação foi capaz de controlar. Foi quando consultei com o Dr. Boechat e, através de exames específicos, descobri uma infecção por bactérias e uma grande hérnia de disco. Porém, teria de tratar primeiro a infecção para poder ser operada”, relata. Sete meses depois, a paciente foi operada, precisou colocar uma haste e quatro pinos na coluna e hoje está recuperada. “Antes não conseguia me mexer, ninguém podia encostar em mim. Hoje estou perfeita, tenho uma vida normal; foi emocionante!”, enfatiza.
A jovem estudante Nayara Cristina Korn, 20, também obteve êxito na cirurgia que enfrentou para corrigir uma escoliose acentuada, deformando a coluna em forma de “S”. “Quando o problema prometia comprometer meus órgãos internos, precisei operar. Coloquei duas hastes e vários parafusos, em um mês não sentia mais nada e hoje sou outra pessoa, resgatei minha autoestima e qualidade de vida!”, comemora. A mesma sensação de alívio e bem-estar foi alcançada pelo eletricista Leonil Olívio de Oliveira, 56, que tinha diversas deformidades na coluna cervical e lombar. “Sentia muitas dores, e nenhuma medicação ou fisioterapia resolvia o meu problema. Fiz a cirurgia em maio de 2015 e estou muito melhor. Ainda sinto algum desconforto, mas estou satisfeito com o resultado”, afirma com convicção.
Conheça a evolução da cirurgia de coluna no mundo
As deformidades da coluna vertebral, como a escoliose, já eram conhecidas no tempo de Hipócrates, sendo tratadas com dispositivos primitivos de tração externa, que mais lembravam máquinas de tortura. Em 1911, foi desenvolvida nos Estados Unidos a Cirurgia de Artrodese da Coluna, que envolvia a fusão das vértebras com enxerto ósseo para o tratamento da tuberculose da coluna, mal muito comum na época.
O uso de dispositivos metálicos (hastes) e implantes na coluna vertebral teve seu início em 1962, para corrigir deformidades. Esses procedimentos permitiam a correção das escolioses, mas ainda corrigiam a coluna em um único plano. O conceito de fixação dos segmentos da coluna, princípio que permitia correções de deformidades em vários planos e produzia estabilidade à coluna, surgiu somente em 1982.
Nos anos 90, foram popularizados os parafusos pediculares, ou “pinos”, introduzidos nas vértebras, que são utilizados no tratamento das mais diferentes afecções da coluna – desde fraturas, tumores, deformidades e doenças degenerativas. Como tudo em medicina, quando bem indicados, auxiliam os médicos e favorecem seus pacientes nas mais variadas doenças. Como se vê, a partir de então até os dias atuais, os avanços das técnicas cirúrgicas para o tratamento das doenças da coluna só vieram beneficiar os pacientes.
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