Avanços da Medicina

No fundo do poço, uma esperança

Conheça a história de Neide, que encontrou na cirurgia bariátrica a esperança para uma vida melhor

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No início de 2012, Neide Vaz Teixeira, 53 anos, encontrava-se desanimada e perdendo a esperança de recuperar sua saúde. A única motivação para continuar buscando tratamento era o incentivo que recebia dos funcionários da instituição onde trabalha, a quem ela sempre tratou com muito carinho e atenção. Todos presenciavam o seu dilema, pois Neide passava mal no serviço quase que diariamente. Ela usava insulina três vezes por dia e muitas vezes tinha crises de hipoglicemia, além da dificuldade de realizar algumas tarefas devido ao excesso de peso.

Em maio, voltando de uma consulta no Posto de Saúde e com seus exames em mãos – que apresentavam índices compatíveis a diabetes tipo 2, triglicerídeos e colesterol altos, além de alterações de fígado e rim –, bateu o desespero. Foi esse sentimento que lhe impulsionou a escrever um bilhete ao médico cirurgião que lhe atendera para fazer a cirurgia bariátrica: “Doutor, não me deixe morrer, quero ver minha neta crescer.”

 

Como tudo começou

Tudo ia bem para Neide até que, em 1997, sua mãe faleceu. Não sabendo como enfrentar a perda e recebendo a responsabilidade de cuidar do pai idoso e adoentado, iniciou um processo de desespero e depressão. Como acontece com muitas outras pessoas, a fuga, silenciosa, foi a comida, o que a levou a gradativamente ganhar peso.

A situação se agravou quando o casamento, que já não vinha bem, acabou e, para completar, ela perdeu o emprego. O mundo todo parecia ter desabado e só a tristeza não lhe abandonava. Achava sua vida tão ruim que nada poderia piorar. Infelizmente, estava enganada.

Quando procurou um Posto de Saúde para tratar sua depressão e queixou-se também de dores no corpo, cansaço extremo, pés inchados e rachando, descobriu, após os exames, que estava com diabetes tipo 2. A notícia lhe causou grande choque, pois, como seu pai era diabético, ela presenciava de perto todo o sofrimento.

É claro que não eram apenas os fatores de saúde que a abalavam. Ela também já não queria mais se olhar no espelho, pois rejeitava sua própria imagem. Além disso, não tinha mais vontade de comprar roupas ou ter qualquer cuidado consigo mesma.

“O obeso passa por dificuldades maiores do que muita gente pode imaginar. Além de todos os prejuízos físicos que o sobrepeso e as doenças associadas à obesidade frequentemente causam, também há complicações psicológicas, sociais e profissionais”, explica Paulo Afonso Nunes Nassif, cirurgião que coordena uma equipe multiprofissional de tratamento cirúrgico da obesidade.

 

Lenta caminhada

Para controlar o diabetes, Neide recebeu três orientações médicas: dieta alimentar, prática de atividade física e uso contínuo de medicação. Em função da depressão, iniciou também um tratamento com um psiquiatra. Assim, foi reencontrando a força de vontade para se reerguer e procurou vencer ponto a ponto cada dificuldade.

Como precisava de emprego e já não encontrava vagas de telefonista como antes, Neide passou a trabalhar como servente de limpeza em uma empresa, lugar onde encontrou amigos e o apoio que tanto estava precisando.

Após alguns anos de tentativas de controle da glicemia com tratamentos medicamentosos, sem sucesso, ela iniciou o uso diário de insulina. Dia após dia, as doses aumentavam. As aplicações eram feitas por sua filha, que acabara de se formar em enfermagem, mas logo a filha se casou. Com isso, ela passou duas semanas sem usar a insulina e acabou tendo uma crise aguda, precisando receber atendimento médico emergencial. Teve que aprender a superar o medo e fazer as aplicações sozinha.

A cada consulta médica, Neide recebia enfáticas orientações de que a perda de peso era o primeiro passo para redução do diabetes, bem como dos outros males que lhe acometiam. Todavia, mesmo com a medicação, caminhadas e tentativas de fazer uma dieta alimentar, não havia meio de conseguir e os fantasmas das possíveis amputações, cegueira e dos problemas renais comuns a quem é diabético constantemente a apavoravam.

“Os médicos sempre me explicavam quais as consequências que essa doença poderia trazer, por isso pensar no futuro era o meu maior pavor. Eu só enxergava uma vida curta e sofrida como meu destino. Por isso, pensei muitas vezes em desistir de tudo”, comenta.

Como a situação ficava cada dia mais grave e as tentativas de tratamento não estavam surtindo resultados, em 2011 ela foi encaminhada para uma consulta de avaliação para “entrar na fila” da cirurgia bariátrica. Começou a fazer os exames e consultar os médicos indicados, mas foi avisada que, mesmo num caso grave como o dela, todo esse processo seria muito demorado e que ela não poderia descuidar do uso dos medicamentos e insulina no controle do diabetes, caso contrário, não resistiria.

A cada novo exame ou consulta, a angústia só aumentava, pois descobria o quanto a obesidade já havia causado danos ao seu organismo. Medindo apenas 1,46m e já com 99 quilos, tinha muito medo de que não tivesse tempo de fazer a cirurgia. Quando finalmente passou pela primeira consulta com o cirurgião, recebeu dele palavras de ânimo. “Vi que existia uma esperança de sair do fundo do poço. Foi por isso que, algum tempo depois, quando minha taxa de glicemia aumentou muito novamente, não pensei duas vezes e decidi escrever o bilhete pedindo socorro para o médico”, conta ela.

 

Vitória

No dia 3 de agosto de 2012, Neide foi operada e, de lá para cá, só sabe dizer que nasceu de novo. Para aqueles que a incentivaram, as palavras de agradecimento são constantemente repetidas; para os que duvidaram e achavam que ela iria morrer, a resposta é sua vontade de viver. Com seus 53 quilos, ela já está livre da insulina, pois a glicemia está controlada. Colesterol, triglicerídeos e todos os exames estão normais, e ela tem muito mais disposição e energia sem as dificuldades de movimentação que a gordura abdominal lhe causava. É tanta saúde, que ninguém pode dizer que ela enfrentou tantos problemas num passado tão próximo. O difícil, agora, é se controlar para não gastar demais comprando roupas novas, acessórios e produtos de beleza. Mas, afinal, ela merece!

Neide continua trabalhando no mesmo lugar onde encontrou amigos que a apoiaram e a incentivaram a vencer essa batalha, só que agora a tristeza deu lugar à alegria. Claro que a fama de “Maria das Dores”, apelido que recebeu no passado, não se perde tão facilmente, como brincam seus colegas. Para ela, isso faz parte do seu charme.

Os resultados foram tão positivos que em pouco tempo a filha de Neide também buscou a cirurgia bariátrica como solução para a obesidade e outras doenças que lhe atormentavam. Hoje, mãe e filha, além de muita história de superação para contar, têm também uma extensa lista de planos para o futuro. Neide até já se arrisca a sonhar de novo: “Sou outra mulher, agora só me falta um namorado”, brinca.

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